CRÍTICA DIÁRIA
"Cartas Ácidas", copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br)
"17/6/2002
Ditadura do mercado O Estadão não esperou a divulgação das linhas mestras do programa do PT e já adiantou em tom de cobrança que o PT vai ?decepcionar o mercado?. Todos cobram de Lula e do PT o gesto de obediência a essa entidade mítica chamada ?mercado?. Até mesmo os pensadores respeitáveis como Eduardo Gianotti, reproduzido por Suely Caldas no Estadão de domingo, culpam indiretamente Lula pela crise e sugerem o alinhamento com o mercado. Sonia Racy cobra em sua coluna de hoje ?um programa do PT alinhado com o pensamento do mercado.?
Conclusão: FHC nos legou uma situação que não admite sequer a apresentação à consulta popular de propostas diferentes das do ?mercado?. A mera apresentação de propostas diferentes já detona uma crise monumental. Deixou-nos uma situação que não admite mudanças de políticas, conforme a vontade popular, não admite alternância no poder. Deixou-nos uma pseudodemocracia, uma ditadura do mercado. Sobrou para o economista Rudiger Dornbusch, que culpou FHC pela crise, ao insistir na reeleição. A mídia convenientemente jogou Dornbusch para cantos de página.
Marcha da crise
Com o saque dos US$ 10 bilhões do FMI e o aumento do compulsório, retirando de circulação cerca de R$ 6,5 bilhões, o Banco Central reconhece que a crise é pesada. A bomba de fato estourou no colo dos que a plantaram. A Folha deste domingo (16/07) revela que o governo prepara novas medidas de intervenção, inclusive limites mais estritos ao volume de dólares que o bancos podem manter em carteira. Uma avaliação realista do potencial da crise é de Morris Goldstein, especialista em crises financeiras do Instituto de Economia Internacional, entrevistado por Paulo Sotero na página B1 do Estadão de hoje. Em resumo ele acha que ou a crise maior estoura entre hoje e o começo de 2003, ou não haverá crise maior. Diz que se o Brasil precisar mais US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões do FMI, receberá o dinheiro. Prevalece a percepção entre observadores, economistas e banqueiros, de que haverá novos ataques especulativos contra o Real, mas sem descambar para uma crise geral do tipo Argentina inclusive porque o Brasil, ao contrário da Argentina, contará com apoio rápido e integral do FMI.
O tabu do controle de remessas
No arsenal de medidas do BC elencadas pela Folha não consta nenhum controle sobre as remessas de dólares. O tema é tabu, porque seu mero anúncio aceleraria ainda mais a crise. Mas esse controle poderia ser iniciado discretamente, como medida administrativa interna com caráter de acompanhamento preventivo.Um bom ponto de partida são as contas CC5, que vêem sendo usadas abusivamente pelos bancos para mandar dólares para fora. Época desta semana volta ao relatório da Polícia Federal sobre lavagem de dinheiro, que concluiu que do equivalente a R$ 124 bilhões remetidos pelas CC5 em apenas seis anos, apenas R$ 12 bilhões estavam ligados lavagem de dinheiro.
E o tabu da reestruturação da dívida
Esse debate já começou. Forçado pelo ataque especulativo ao real. Morris Goldstein diz na entrevista a Paulo Sotero que em algum momento o País terá que reestruturar sua dívida. O debate ainda está sendo viciado pela sua instrumentalização política e pelo predomínio da visão dos banqueiros: No Estadão desta segunda-feira (17/06), Alcides Amaral trata do ?nó da dívida interna?, mas sua única idéia é de que não se deve falar de jeito nenhum em reestruturação ou renegociação por métodos não tradicionais, caso contrário, ? o caos será instalado?, diz ele, retomando a palavrinha usada por Soros.
A Folha perguntou na sua página dois da edição deste sábado (15/06): ?A reestruturação da dívida pública deve começar já, neste governo? Otávio de Barros, economista do BBV respondeu que é como dar um tiro no pé. Disse em resumo, que não se deve nem falar no assunto. Mas não sugere um caminho alternativo. Na mesma página, Leda Maria Paulani, assessora da Prefeitura paulista e professora da USP, também não recomenda essa solução e diz que o problema não é o tamanho da dívida em, si, mas o mecanismo que faz a dívida crescer. É preciso desmontar o ?circulo vicioso? que nos últimos anos tem impedido a economia de crescer.
O rompimento possível e necessário
Está havendo um lento processo de convergência entre economistas, inclusive dirigentes de bancos, em torno das teses como a de Leda Maria Paulani, de que o problema é muito mais o mecanismo que faz a dívida crescer o tempo todo,do que o seu tamanho atual, ainda administrável. Essa foi a tese defendida na semana passada também por Paulo Tenari, do grupo Citi e por José Carlos Miranda, da UFRJ. Nesse caso a solução principal não é reestruturar a dívida e sim desatar o nó do seu crescimento, desmontar o circulo vicioso do juro alto, desemprego alto, exportações baixas, crescimento baixo.
A tática do terror financeiro
A tática de explorar o medo inconsciente do eleitor está rendendo. A mídia — fechadíssima com os tucanos — faz o jogo do medo em suas manchetes, ao mesmo tempo em critica esse jogo em suas colunas opinativas. Um terço dos internautas do O Globo opinou que a culpa da crise é o medo de um governo Lula. Animados com esse e outros resultados que devem estar obtendo, os tucanos, inclusive José Serra confirmaram ontem que vão mesmo usar o fator Argentina para derrotar Lula. ?O desafio será encontrar um ponto de equilíbrio para esse discurso que permita a continuidade dos ataques ao PT sem contribuir para agravar a crise.? Revela Época desta semana.
O jogo é cada vez mais pesado
Lula acertou ao comparar o episódio ao ?Rio-Centro?, e acertou de novo ao comprar a exploração atual do medo à campanha de 1989, quando se espalhou que ele iria confiscar a poupança da classe média a obrigar os que tem casa a dividir seus aposentos com os sem teto. A diferença é apenas de grau, como mostra Vinicius Torres Freire em sua coluna da Folha desta segunda-feira (17/06).
Heranças de FHC: impostos mais altos do mundo
Deu nos jornais deste sábado (15/06): levantamento da Receita Federal mostra que de 1997 a 2001 o peso dos tributos no Brasil subiu de 29,03% do PIB para 34,36%. Nas três décadas anteriores, de 1970 a 1990, essa proporção se manteve em torno de 25% do PIB, com uma alta momentânea para 30% no começo do governo Collor. Nos governos FHC começou em 25% do PIB e foi subindo sem parar. ?Nunca os brasileiros pagaram tanto imposto na história do país?, é a frase de abertura da matéria do Estadão deste domingo (16/06). Hoje o brasileiro paga mais imposto do que o americano, o japonês e o mexicano, e recebe muito menos serviços do Estado. A carga tributária do Brasil tornou-se a mais alta de toda a América Latina. ?Brasil é campeão da AL em cobrar imposto?, foi a manchete interna da Folha. A reportagem da Folha complementa a do Estado, e toma o período FHC como referência (1995-2001). Mostra que na era FHC a participação dos Estados caiu de 29,13% do total arrecadado para 26,80% e a dos municípios caiu de 4,95% do total para 4,48%, enquanto a da União subiu de 65,92% para 68,72%. Os dados divulgados este fim de semana confirmam os divulgados do começo do mês pelo BNDES que, no entanto, nenhum jornal de referência nacional deu na ocasião.
12/6/02
Serra, candidato de Soros…
Serra disse ontem que, ao contrário de Lula, não precisa indicar um diretor para o Banco Central para fazer a transição, como propôs Malan, porque vai manter o próprio Armínio Fraga como presidente do BC. Fecha-se o círculo: Soros indica Serra, que indica Fraga, que foi empregado de Soros. Como é pequeno o mundo da globalização.
(…) e do Banco Morgan
É o que se conclui do importante e cuidadoso relatório do Banco Morgan sobre as eleições, publicado na terça-feira (11) com exclusividade na página A7 da Gazeta Mercantil. O relatório nos faz desconfiar que a proposta da Globo de abrir amplos espaços ao debate político pela TV foi concebida como parte da estratégia tucana de derrotar Lula no segundo turno. Parece que estão todos de combinação. Diz um trecho do relatório: ?A vantagem de Serra será obtida por meio da televisão.?
O recado do capital financeiro internacional
Continua repercutindo intensamente a fala de Soros. Docemente constrangidos, alguns tucanos dizem que ?não tem nada a ver?. A postura de Serra continua agressiva: endossou o a fala de Soros, ao dizer que ?ou eu ou o caos?, e agora prometeu manter Armínio, o que além de ter um forte simbolismo, pode ter outros significados, inclusive o de que até Serra precisa dar garantias ao capital financeiro internacional.
O efeito Fraga
Continua o tumulto no mercado, agora claramente atribuído pelos analistas a incompetência ou equívocos do Banco Central. Foi unânime a avaliação dos comentaristas tanto da TV, ontem à noite, quanto dos jornais, hoje, de que Armínio Fraga errou de mão mais uma vez e que, por isso, o dólar deu o salto que deu. Diz o Estadão: ?O dia começou relativamente calmo até que o Tesouro foi mal sucedido em um leilão de títulos com vencimento em outubro?. A Gazeta Mercantil confirma em manchete do caderno de finanças: ?Venda frustrada de LTN faz o risco-país disparar?.
O maior equívoco ontem, na opinião dos comentaristas da CBN e da GloboNews, foi o BC não ter oferecido dólares a um mercado ávido pela moeda americana. Um volume relativamente pequeno de dólares poderia ter evitado a alta extraordinária da cotação da moeda forte. Os comentaristas dizem que o BC não quer ser previsível, justamente para não fazer o jogo dos especuladores.
A Folha também diz que o dólar subiu muito ontem, simplesmente porque houve procura maior de dólares por empresas que não conseguiram rolar seus compromissos externos, e isso pressionou o mercado de câmbio. O Banco Central , em vez de suprir a necessidade de dólares, como é sua obrigação ao ser depositário final de nossas reservas, apenas cruzou os braços e ?assistiu o circo pegar fogo?, acusou Salete Lemos na terça-feira à noite no jornal do Boris. Ela ainda perguntando ao perplexo Boris: Será que é de propósito?
Um mega-especulador no Banco Central?
Armínio Fraga, que Serra quer manter no BC, ofereceu ao mercado títulos ?eleitorais? que o mercado não buscava, e deixou de fornecer os dólares que as empresas precisavam. A pergunta é: por que ele errou? Por incompetência? O mais provável é que a cabeça de Armínio Fraga funcione nesses momentos de quebra de braço com o mercado igualzinho à cabeça dos especuladores, e não como deveria ser a cabeça de um presidente do Banco Central. Primeiro, ele acha que os especuladores jogam com o risco ?Lula?, porque foi ele mesmo que alimentou esse clima. Depois, responde inventando um título ?eleitoral?, com prazo de vencimento antes de janeiro de 2003, sancionando essa hipótese. Mas nada disso estava acontecendo: simplesmente as empresas precisavam de mais dólares para saldar compromissos, e não para fazer hedge ou proteção conta uma alta futura.
A crise é lenta, gradual e insegura
A crise segue com altos e baixos, mas vem crescendo, puxada por fatores objetivos. A demanda maior de dólares pelas empresas decorre de dificuldades de rolar financiamentos ou juros proibitivos, devido à própria alta do risco Brasil. A Gazeta Mercantil informa na primeira página que investidores já esperam que o BC saque mais US$ 10 bilhões do FMI, para abastecer o mercado. Sonia Racy diz hoje no Estadão que já circula uma recomendação de David Landau, economista importante do FMI, para que o Brasil renove seu acordo com o Fundo.
Estadão cobra Armínio
Pequena nota econômica na página B2 do Estadão de terça-feira (11), ?O Copom e a crise das LFT?, apóia as críticas de Horácio Piva ao presidente do BC, Armínio Fraga, por ele não ter baixado os juros em abril. Ao editar a entrevista de Piva, o jornal preferiu destacar a sua cobrança de uma maior coerência no discurso do PT e sua proposta de um ?pacto?, mas de fato Piva dedicou a maior parte de sua fala a uma crítica à atuação do Banco Central, atribuindo a essa atuação o surgimento da crise.
Pau nos catastrofistas
Dora Kramer mente descaradamente em sua coluna desta quarta-feira (12) ao dizer que a oposição joga o jogo da catástrofe. É o governo que vem fazendo isso, e de modo irresponsável. Serra vem repetindo, como fez na segunda-feira (10), na convenção conjunta PMDB -PSDB-PFL do Rio, que ele é a garantia da estabilidade. César Maia, um dos mentores da convenção e dessa tática, foi mais abusado na convenção dizendo que ?a hipótese de não eleger Serra é de gravíssimo risco para o Estado do Rio e para o País?. É erro grave dirigentes políticos alimentarem o pânico no mercado financeiro. É quase caso de polícia. Os tucanos sabem disso, tanto assim que, conforme o Estadão desta quarta-feira (12), querem deixar FHC e o próprio Serra fora da estratégia do terror. O problema de Serra é que ele não resiste e fala demais.
Quem matou Tim Lopes?
Todos os jornais dizem que foi Elias Maluco e narram a caçada humana desencadeada pra capturar o facínora. Mas nenhum jornal, virtualmente nenhum, como se tivessem feito um pacto de silêncio, conta a história da parceira da investigação jornalística de Tim Lopes na Globo, Cristina Guimarães, que teve que sair do país depois das ameaças recebidas pelos traficantes e entrou com ação na justiça contra a Globo, alegando que não recebeu a devida proteção da empresa para seu trabalho. Cristina hoje vive escondida. Sua história está na internet, no site Comunique-se. E viva a internet.
Não deixe de ler
?Os limites do presidente?, comentário de Clovis Rossi na Folha desta quarta-feira (12), sobre a morte de Tim Lopes. ?Jornalismo ou voyerismo?, de Fritz Utzeri, no JB do domingo (9), sobre o mesmo tema. ?Banco Morgan prevê segundo turno?, reportagem da página A7 da Gazeta Mercantil desta quarta.
10/6/02
A perigosa tática do terror financeiro
O Estadão de hoje informa com riqueza de detalhes na página A4 que o comando da campanha tucana adotou o terror financeiro como tática principal: ?PSDB manterá a tática de associar Lula ao caos?, é a manchete interna de página inteira . Diz a reportagem: ?a estratégia é encampar o discurso do mercado financeiro de temor diante de uma possível vitória de Lula para polarizar cada vez mais com o PT.? O Jornal da Tarde, versão light dos Mesquitas, saiu com uma manchete ainda mais expressiva; ?Medo: a aposta tucana.? E O Globo, do Rio, confirma: ?crise beneficia Serra?.
A decisão foi referendada em uma reunião da cúpula tucana neste domingo (09) à noite, no próprio apartamento de FHC, em São Paulo. Nessa operação irresponsável, FHC faz o papel do policial bonzinho que dá um cigarro ao preso antes dele ser torturado por outro policial. Diz para a mídia, cinicamente, que a hora é de acalmar o marcado.
Jogo é cada vez mais pesado
O jogo pesado da mídia contra a candidatura Lula neste fim de semana, especialmente dos dois jornais paulistas, Folha e Estadão, deve ser visto como mais um assalto de uma ofensiva que está se revelando cada vez mais feroz e inescrupulosa. O primeiro teve a forma de uma onda das revelações de corrupção em prefeituras do PT e visava desviar o foco das denúncias de propina nas privatizações. Não sensibilizou o eleitor pela fragilidade das acusações.
O ataque deste fim de semana deve ter algum efeito porque foi corroborado com o fato concreto das perdas nos fundos de investimento. Teve como primeiro objetivo desviar atenção de uma semana repleta de notícias ruins para os tucanos. Mas com o indiscutível sucesso dessa tática que efetivamente está disseminando o medo e colocou o PT na defensiva, a cúpula tucana adotou-a como eixo do discurso de Serra, com o objetivo novo de assegurar a polarização Lula-Serra. Por isso Pimenta da Veiga, um dos mais agressivos tucanos, insiste na palavra ?competência?, como fez neste domingo, de novo, para evitar crises.
O paradoxo da agenda
Trata-se de um exemplo típico de fixação de uma agenda de debates artificial e, mais que isso, paradoxal. Porque enquanto se debate se um governo Lula imporia uma reestruturação ou calote da dívida, isso acaba de ser feito por esse governo. O calote já soma cerca de R$ 5 bilhões, segundo as estimativas de até a última sexta-feira (08).
O JB dedicou duas páginas no domingo ao calote, aos vazamentos de informação e aos instrumentos legais que os investidores tem para exigir a devolução do que perderam. Alguns desses investidores são prefeituras. Essa seria a agenda de debates que interessaria também às oposições, não com o objetivo de botar mais lenha na fogueira da crise, mas de colocar o foco no lugar certo.
Fala de Soros produz indignação
A seção de cartas da Folha, tratada pelos seus dirigentes como espaço estratégico, traz hoje três manifestações indignadas contra a fala de Soros e nenhuma a favor. Indício de que a entrevista não pegou bem. ?Ou Serra ou o caos, disse Soros, e isso se tornou o mote de todo o novo ataque do terror financeiro conta candidatura Lula. Soros disse também que ?o Brasil esta condenado (pelo mercado) a eleger Serra e que no capitalismo global só votam os americanos, os brasileiros não votam.? Foi isso o que mais ofendeu os leitores da Folha.
O raciocínio de Soros é interessante porque ao levar o argumento ao limite, ele nos convence do contrário por absurdo: nesse caso, não adianta ter eleição, democracia, nada disso. E mais: ao contrário dos que dizem que se Lula for mais claro isso não aconteceria, Soros diz que não adianta ser mais claro ou menos claro.
E a responsabilidade do jornalista
Intencionalmente ou não, Clóvis Rossi e o editor da Folha usaram a fala de Soros com eficiência a serviço da agenda do terror financeiro. Teria Clóvis Rossi agido de acordo com a ética jornalística? Ou se colocou a serviço de Serra? A função principal do jornalista é informar os fatos de interesse público sejam quais forem as suas conseqüências. Não cabe ao jornalista dosar as verdades que vai revelar porque isso faria dele um censor, um juiz do que o público deve ou não deve saber. A responsabilidade do jornalista se esgota no momento em que ele revela fatos de interesse público.
Acontece que Clóvis Rossi não informou um fato de interesse público, ele criou um fato de interesse público, o que é muito diferente. Se Soros tivesse dito o que disse num discurso ao público presente no tal jantar do Council of Foreign Relations, teria sido um fato. Mas não. Clóvis Rossi escolheu Soros, entre tantas outras pessoas para entrevistar e nem explicou se Soros disse o que disse informalmente numa mesa de jantar, em tom de boutade, uma ironia, uma frase de efeito entre duas garfadas, ou se foi em tom sério e formal. Clóvis Rossi nem explicou o que foi esse jantar, se houve ou não algum discurso o que ele estava fazendo lá. Como jornalista independente que é. Ele nos deve ao menos a explicação das circunstâncias e do tom em que Soros disse o que disse.
A velha teoria do caos
Carlos Heitor Cony diz na sua crônica de domingo que ?durante os 21 anos de ditadura militar, era comum ouvirmos que a advertência de que eleição atrapalhava a vida do país?. O melhor era não ter eleição. E Ruy Fausto, na sua importante entrevista no caderno Mais! da Folha, revela que essa tese é ainda mais antiga, sempre foi levantada o espectro do caos quando uma frente popular ameaçava chegar ao poder. Certamente antes de saber da frase de Soros, Rui Fausto diz que quanto à ?ameaça de caos na hipótese de uma vitória de Lula, esse tipo de conversa já existia no tempo do ?front populaire? francês?.
Não deixe de ler
A entrevista concedida pelo sociólogo Ruy Fausto a Maurício Santana Dias ?Marx contra Marx?, publicado no caderno Mais! da Folha deste domingo. Apesar de muito longa, é leitura que vale tempo gasto. Ruy Fausto classifica a trajetória de PT até agora como muito honrosa e não acha que ao defender propriedade privada, condenando invasões do MST, Lula esteja caminhando para a direita. O sociólogo diferencia propriedade privada de capital e diz que o MST é prisioneiro de um guevarismo ultrapassado. Mas Ruy Fausto também adverte contra alianças a qualquer preço para chegar ao poder. Argumenta que as alianças devem ser avaliadas tanto pelo critério político como pelo moral. E que o PT não deveria fazer alianças com gente notoriamente de direita. Diz que é melhor perder sem fazer essas alianças, e que o pior é fazer e mesmo assim perder. Seria o fim do PT, na sua opinião."