Parece que acabaram com o Plantão da Globo, aquele que, inesperado, se fazia anunciar por uma vinheta sinistra, provocando ‘calafrios’ no telespectador, que arregalava os olhos e ligava as antenas ao ouvir os tambores globais rufarem. Porém, em algumas ocasiões, tratava-se, para alívio geral da nação, apenas do anúncio de pacote econômico do governo federal, medidas urgentes para salvar o país de iminente bancarrota.
Sempre que o Plantão da Globo noticiava acidente de navegação aérea, no ato eu me lembrava da morte do cantor Agostinho dos Santos, em 1973, vítima da queda de um avião nas proximidades do aeroporto de Orly, Paris. O acidente ocorreu por volta das 7 horas da manhã, 3 da madrugada no Brasil. Esses dados são importantes para entendermos a história de uma ‘memorável’ reportagem da Rede Globo de Televisão. Para conhecer os sórdidos detalhes do caso, leia artigo do escritor, jornalista e cineasta Laerte Braga, publicado em outubro de 2006, com o propósito de refrescar a memória do Homer: ‘A mídia e a eleição – Algumas lembranças‘.
O texto do Laerte também trata de outras matérias da emissora, coisas dos tempos em que William Bonner ainda era criança e brincava de médico, fazendo o papel de Bart, um dos bambinos da família Simpson.
A mensagem subliminar
Eu pretendia escrever nesta edição do OI as minhas observações e impressões sobre a cobertura dos telejornais no caso da queda do avião da Air France, vôo 447. Mas o próprio Laerte é rápido no teclado e nos mandou excelente artigo (‘Lencinho de papel umedecido – A cura para todos os males‘), publicado no Jornal dos Vales. Laerte também é um dos titulares do time de colaboradores do blog República Vermelha, que tem como reserva este autor que vos fala, pronto para apoiar craques como Urariano Mota, Gilson Caroni Filho, Celso Lungaretti e outros, não menos importantes, da mesma equipe. Laerte é um jornalista ligado no cotidiano, permanentemente atualizado, só tira os olhos do teclado para, eventualmente, conferir aquilo que registrou na tela do monitor. Espero que ele continue assim, pois seu incansável trabalho é de grande importância para os leitores da blogosfera, que defende as suadas conquistas do povo brasileiro nos últimos anos.
Para mim restou comentar propaganda atualmente veiculada pelas grandes emissoras de TV.
O escritor Paulo Coelho, fazendo performance de garoto-propaganda no comercial de um carro de luxo, transcende-se e experimenta nirvânicos momentos ao apreciar as formas avançadas e o desempenho da maravilhosa máquina. No fechamento da peça publicitária, ele aparece sentado sobre uma mesa de trabalho. Efeito especial faz surgir pilhas de livros que, supostamente, representariam exemplares de sua imensa obra literária. O mago olha para os livros e gesticula com ar de desdém e sorriso debochado. Fecha. A mensagem é: ‘De que vale essa inutilidade diante daquela maravilha?’ (pode ser outra, mas também passou esta). Bom, considerando que sua produção literária apenas ‘autoajudou’ o mestre a comprar carros como aquele e até mais avançados, além de imortalizar sua milionária conta bancária, então, sob esse ponto de vista, dá para concordar com a subliminar mensagem.
‘Aqui pra vocês, ó!’
A agência que produziu aquela ‘obra-prima’ da propaganda comercial já tem o mote para uma campanha publicitária de televisor de avançada tecnologia. Taí a dica.
Famoso diretor de jornalismo de grande rede de televisão admira o novo lançamento, baba diante do moderníssimo design, dos recursos técnicos do aparelho, da praticidade do controle remoto… Liga-o. Surgem deslumbrantes imagens bucólicas (perfeita nitidez, sugerem, porque no aparelho aqui de casa é tudo borrado mesmo); corta, aparece o telejornal de maior audiência no país. Rápido no controle, ele desliga o televisor, apalpa as partes pudendas (dele, claro) e faz gesto obsceno para a tela (‘Aqui pra vocês, ó!’). Abraça o aparelho desligado e tasca um novelesco beijo apaixonado. A mensagem é: ‘Para que serve aquela inutilidade dentro desta maravilha?’
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Escritor, Rio de Janeiro, RJ