“Uma coisa é pensar sozinho, outra coisa é pensar em conjunto”, disse um jovem referindo-se ao fato de ter aberto uma conta no Twitter para acompanhar as informações acerca da onda de protestos populares que ocorreu no Brasil em 2013. Os protestos como são sabidos, também intitulados de jornadas de junho, emergiram, a priori como manifestações contra o aumento na tarifa de transporte público, e postumamente, alastraram-se pelo país, passando os manifestantes a protestarem por causas variadas.
Segundo informações da BBC Brasil, as redes sociais mais populares, Facebook e Twitter, não divulgaram dados sobre o aumento de novos perfis relacionados ao período concomitante aos protestos desencadeados no país em 2013. Contudo, um levantamento da consultoria Serasa Experian, divulgado pelo jornal Valor Econômico, indica que o Facebook teve uma taxa de participação de 70% dos brasileiros com presença no site, no dia 13 de junho ─ o terceiro pico de participação do ano. O Twitter, por sua vez, contabilizou cerca de 11 milhões de tweets com a palavra “Brasil” e 2 milhões, mencionando “protesto” entre os dias 6 e 26 de junho. Tais dados só confirmam que a previsão de McLuhan estava certa.
Em seus primeiros estudos acerca de educação, datados do fim da década de 1950, Marshall McLuhan preconizava que, no futuro, uma rede mundial de computadores estaria disponível, interconectando um bombardeio de informações. Mais tarde, ele prenunciou que os meios de comunicação seriam extensões do corpo humano, dada a conexão tão profunda entre o homem e a tecnologia digital. Desta feita, ele ousou demais em sua clarividência para a época, sendo tachado de desvairado. Ninguém deu muita atenção para as previsões de um “insano visionário”. Pois bem, hoje a sociedade em rede está tão presa aos artefatos tecnológicos, que se tornou difícil afirmar onde se termina o órgão físico e começa o órgão tecnológico. Fundiram-se o corpo humano, real e o corpo virtual. Tanto que arrisco dizer ser uma experiência pungente, massacrante, tentar separar um adolescente de seu celular. Seria quase o mesmo que lhe amputar um membro do corpo. Outro dia, estava eu ocupada com as atribulações do cotidiano quando conhecido, atônito diante de minha resposta negativa concernente à indagação se tenho whatsapp, lançou-me uma pergunta retórica: “Você é real?” Essa é uma questão filosófica e reflexiva para a qual me custa encontrar respostas.
A “retribalização”
Mas, dando prosseguimento ao assunto, Luís Mauro Sá Martino endossando o discurso de McLuhan acerca dos meios de comunicação como extensão do homem, ressalta que os meios tecnológicos são uma extensão do homem, já que ampliam a capacidade de funcionamento de um dos sentidos humanos. A título de exemplo, teria-se a câmera de televisão, que proporcionaria ao público enxergar lugares distantes fisicamente onde a vista não alcança. Seria louvável se esses lugares não explorados e percorridos antes, fossem o interior de cada pessoa humana. Mas, o progresso, por ora, é tecnológico, não no âmbito humanístico.
Se a internet é mesmo compreendida como uma extensão da mente humana, do imaginário do homem; é de bom tom que ela seja usada para somar, contribuindo para apurar e aguçar nosso senso crítico, nosso olhar que não é o biológico. Existe uma tendência crescente, na atualidade, de usar as plataformas sociais digitais em face da velocidade do fluxo de mensagens e da supressão do espaço que elas acarretaram; a fim de mobilizar pessoas e instigá-las a participar dos muitos protestos de ruas que ocorrem mais recentemente em nosso país. Fato que pode ser verificado na convocação que se deu, sobretudo, por intermédio das redes sociais, para endossar as manifestações contra o governo Dilma, no dia 15 de março e que se repetiram no dia 12 de abril. Um dos grupos que lideram os movimentos antigoverno, não por acaso, foi batizado de “Os revoltados online”.
14A mobilização que se faz por meio da internet ocorre de modo difuso e tende a incidir numa falta de coesão, muitas vezes, de tais movimentos e dos grupos organizadores. Corre-se o risco de se estar levantando uma bandeira não por se estar imbuído de uma causa ou ideologia, mas pelo simples modismo de se estar conectado, estar em consonância com os demais, estar incluído e inserido na aldeia global e “retribalização” que a internet criou. Nem sempre indivíduos de lugares mais longínquos e diferentes possíveis estarão compartilhando de um mesmo pensamento coletivo, só por pertencer à mesma comunidade virtual ou rede social. Uma mensagem digital pode e vai estar em vários lugares ao mesmo tempo, mas é necessário que o receptor dela, use uma extensão essencial do seu corpo físico, o cérebro.
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Ana Karla Batista Farias é jornalista