Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O ocaso do vice-rei

A imprensa manteve durante o último fim de semana a atenção ligada no caso das decisões administrativas secretas que vinham sendo tomadas há uma década pelo Senado Federal. Só não explicou ainda ao público como foi possível manter o esquema durante dez anos sem que nenhum jornalista sequer desconfiasse de tal falcatrua.


Conforme se esclarecem os fatos, concentram-se as evidências de que o chefe do grupo que domina a Câmara Alta do Legislativo brasileiro é o seu presidente, o senador José Sarney. Mas as duas revistas semanais de informação de maior circulação, Veja e Época, passam ao largo das responsabilidades do vice-rei do Amapá e Maranhão e dirigem as acusações ao ex-diretor geral Agaciel Maia, como se um burocrata pudesse ter agido por conta própria durante todos esses anos, sem as costas quentes de um político a lhe garantir a impunidade.


A exceção segue sendo CartaCapital, que costuma nomear os bois devidamente.


Atos secretos 


Os jornais foram mais fundo, levantando as evidências de que a sucessão de irregularidades que mancha a reputação do Senado tem sempre uma conexão com o ex-presidente José Sarney.


Na edição de domingo (14/6), o Estado de S.Paulo publicou reportagem de página inteira mostrando como o Ministério Público e a Polícia Federal estão recorrendo ao Judiciário para apreender provas de transações milionárias com empréstimos consignados, que constituem uma das vertentes dos escândalos que marcam a atual legislatura.


Na mesma edição, o jornal traça um perfil do senador maranhense que representa o Amapá, mostrando como ele lutou para voltar à presidência do Senado por um motivo muito particular: encher-se de poder para fazer frente a uma investigação da Polícia Federal que ameaça colocar na cadeia seu filho Fernando Sarney e outros familiares.


‘Na solidão do poder, Sarney vive o outono do patriarca’, diz o título da reportagem do Estadão.


Nada mais revelador. Aos 79 anos e cercado de escândalos, Sarney vive mesmo o ocaso de sua carreira política. Como o personagem de Gabriel García Márquez, ele amarga a decadência mas se nega a largar o poder.


A imprensa noticia na segunda-feira (15) que o Ministério Público Federal também está abrindo investigações sobre os 500 atos administrativos secretos revelados na semana passada.


É o começo do fim para Sarney.