Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Na internet, navegar ainda é preciso

O fenômeno da mobilidade ­ que levou o usuário a preferir o celular em vez do computador na hora de acessar a internet ­ também deslocou para os dispositivos móveis uma antiga disputa tecnológica: a dos programas de navegação na web. Praticamente todas as grandes empresas de tecnologia voltadas para o consumidor têm, hoje, seus próprios programas de acesso móvel. A Apple é dona do Safari, a Opera tem um programa de mesmo nome, a Microsoft oferece o Internet Explorer e o Google é dono do Chrome. A mais recente investida veio da Fundação Mozilla, que lançou uma versão do Firefox para aparelhos com Android, o sistema operacional do Google.

Essa briga promete ficar ainda mais quente nos próximos meses, quando a Microsoft lançar o Spartan, seu novo programa de navegação. A expectativa é que mesmo depois de lançado o programa conviva com seu antecessor, o Internet Explorer, já que leva algum tempo para que os sites se adaptem aos novos requisitos técnicos dos browsers. O lançamento pode ganhar uma importância estratégica ainda maior se a Microsoft decidir fazer com que o Spartan seja compatível com Android ou iOS, o sistema operacional da Apple usado em iPads e iPhones. Hoje, o Internet Explorer só pode ser usado em celulares com Windows Phone.

Essa abertura seria impensável para a Microsoft de pouco tempo atrás. Durante décadas, a companhia restringiu o uso de seus programas ­ como o Office e o próprio Explorer ­ a equipamentos que funcionam com o sistema operacional Windows. A medida sempre foi vista como uma tentativa de criar um cercado tecnológico em torno de seus clientes. É algo parecido com o que faz a Apple.

Mais recentemente, porém, a Microsoft passou a criar versões de seus produtos mais populares para outros sistemas, como o pacote Office para iPad e iPhone e para aparelhos Android. O Outlook, de e-mail, saiu primeiro para esses dois sistemas e só vai chegar ao universo Windows com a nova versão do programa, que será lançado até setembro.

Olho nos aplicativos

A variedade de browsers disponíveis pode criar uma certa confusão inicial para o consumidor, que nem sempre sabe o que escolher. Há diferenças técnicas entre os produtos, como a velocidade com que as páginas são abertas. Também há sites que são incompatíveis com determinados browsers. Cada usuário precisa avaliar com cuidado qual o mais programa mais adequado para seu uso. Em muitos casos, a decisão se baseia na aparência dos browsers, que não é um detalhe em se tratando de um navegador. Para evitar problemas, a recomendação é fazer o uso combinado de mais de um browser.

Ao fim das contas, apesar da quantidade de concorrentes, essa oferta ampla traz vantagens. De maneira geral, os sites foram feitos para o computador. Quando acessados pela tela reduzida de um smartphone, frequentemente é difícil ver os detalhes, como fotos e vídeos, ou acessar os botões dos menus. Mas esse cenário está mudando.

O Google adotou uma política de privilegiar em suas buscas, inclusive as que são feitas pelo computador, os sites que já estão preparados para ser vistos por meio de dispositivos móveis. A medida reflete a preferência do público em usar o smartphone para navegar na internet. A questão central é a comodidade. Dá para assistir ao capítulo da novela no percurso para casa ou acompanhar a partida de futebol mesmo fora do país. As empresas de mídia e entretenimento estão se esforçando para fazer com que seu conteúdo, desenhado para telas maiores, seja visto com conforto nos celulares e tablets.

O barulho em torno dos navegadores, porém, não deve provocar uma nova guerra dos browsers, como a travada nos anos 90 entre a Microsoft e a hoje extinta Netscape. Os programas de navegação perderam a hegemonia de mercado, o que reduz sua influência na internet. Na prática, todos os browsers ganharam um adversário em comum ­ os aplicativos.

Uma pesquisa recente da empresa de análises Flurry, realizada nos Estados Unidos, mostra que 86% do tempo gasto na internet por meio de smartphones está concentrado nos aplicativos, os softwares baixados da web com fins bem específicos. São esses programas, e não os sites da internet, que detêm a preferência dos usuários móveis.

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Gustavo Brigatto e João Luiz Rosa, do Valor Econômico