Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O jogo (finalmente) vai começar

ELEIÇÕES 2002

Chico Bruno (*)

A pré-campanha está chegando ao fim. A partir de 1? de julho a campanha começa para valer, e cabe uma reflexão sobre o comportamento da mídia nessa fase. A preparação foi muito puxada. Alguns candidatos não agüentaram o ritmo: Roseana Sarney foi para o estaleiro, Enéas não resistiu. A mídia, apesar da censura togada, se esforçou muito para cobrir essa fase da campanha. Saiu-se mais ou menos, pois com o passar do tempo foi retirando da cobertura alguns fatos marcantes, como o caso Roseana/Lunus, e aos poucos vai deixando Ricardo Sérgio de mão. O que é uma pena, pois a opinião pública continua à espera dos desdobramentos de ambos os casos e a mídia deveria procurar, pelo menos, informar a quantas andam os processos.

A campanha começa polarizada entre Lula e Serra. Ambos estão há bastante tempo estagnados em seus números nas pesquisas. Nem descem, nem sobem, apesar de a mídia tentar passar o contrário. Ao que tudo indica, será uma campanha feia, com muitas denúncias violentas, daquelas de gerar muitos cartões amarelos e, quem sabe, até vermelhos. No momento, a candidatura Lula está sofrendo o assédio do Ministério Público ? e da mídia ?, em função de alguns fantasmas existentes em administrações municipais petistas. As denúncias que pipocam estão, inclusive, tirando o brilho da adesão do PT à direita liberal. Infelizmente para o PT, essas denúncias acontecem no inicio da campanha oficial. Contra o PSDB, as denúncias aconteceram no meio da pré-campanha, e Serra conseguiu se recuperar. Foi favorecido pela mídia, que parou de divulgar o caso Ricardo Sérgio.

Essa campanha tem ingredientes para ser muito dura e, quem sabe, até muito suja. Terá com certeza um faz-de-conta entre liberais e petistas, haja vista que a coligação entre eles foi construída de cima para baixo e tem muita gente dos dois lados se desentendendo.

Hoje na defesa, os petistas estão usando a mesma estratégia que o PFL usou no caso Roseana/Lunus: pôr a culpa de suas mazelas no ombro do governo e seu partido. Alguns jornalistas políticos já puxaram as orelhas do candidato, pois acham que existe um exagero por parte dos petistas, além de não haver provas. Essa tática não colou com o PFL e tem tudo para não colar com o PT, pois ambos deixam transparecer que o Ministério Público é manipulado pelo executivo federal, logo o MP, um dos braços de maior credibilidade do Judiciário brasileiro e que, durante muito tempo, foi acusado de ser influenciado pelos petistas. Basta rememorar recentes episódios da cena política.

Ao que tudo indica, o jogo vai ser pesado, e ambos os lados vão tentar a tática da desqualificação dos adversários: nesse jogo não existe Irmã Dulce. Ambos os lados têm seus pecados, uns veniais, outros mortais. A mídia, principalmente a Rede Globo, promete a maior cobertura de todos os tempos de uma eleição presidencial, principalmente porque envolve novos componentes, como mercado, riscos, bolsa, sobe e desce do dólar, o que está obrigando aos analistas econômicos a dividirem com os jornalistas políticos essa cobertura. Até agora, a mídia se comportou com dignidade, com raras exceções, e espera-se que siga esse caminho até 6 de outubro.

(*) Jornalista