MÍDIA NA COPA
James Görgen (*)
O diário Zero Hora, de Porto Alegre (RS), publicou na sexta-feira (21/6) um caderno sobre a Copa com duas versões para um mesmo fato: o jogo do Brasil contra a Inglaterra. Na mesma edição, dividindo as páginas pela metade (de cabeça para baixo a notícia da derrota e na posição normal, a da vitória) o jornal deu uma aula de desprezo pelo leitor e pela precisão da informação.
Impossibilitada industrial e operacionalmente de publicar uma edição com o resultado do jogo, que ocorreu às 3h30, o jornal optou por esquecer a notícia e definir dentro da redação o que aconteceria caso o resultado da partida fosse favorável ou desfavorável para a Seleção Brasileira. No caso de obituários de pessoas ilustres, a prática do "texto de gaveta" sempre sugeriu que se produzisse uma versão antecipada para posterior atualização, quando o fato se confirmasse. Mas não que se publicasse qualquer coisa antes do trágico desfecho do acontecimento.
Em um arroubo de criatividade, Zero Hora preferiu imaginar duas versões para a notícia e teve a ousadia de as publicar, deixando o leitor escolher a notícia que prefere receber. Ou seja, pela incapacidade de concorrer com a velocidade dos demais meios de comunicação, o jornal gaúcho optou por antecipar o fato antes que ele ocorresse. Mais do que presunção, a atitude de uma empresa de comunicação que cria duas versões, polarizadas, para abordar um jogo de futebol mostra que o compromisso com a informação precisa e bem apurada não é mais prioridade. Entre um produto agradável, que chega chegando na hora certa às mãos do consumidor, e a notícia, Zero Hora ficou com o primeiro.
A partir de agora, e principalmente até o final do ano, vou me perguntar duas vezes antes de ler uma matéria do jornal em que só apareça uma versão. Será que não foi publicada a errada?
(*) Jornalista