FORMAÇÃO DO JORNALISTA
Mozahir Salomão (*)
Formaturas são isso… formaturas. Muita emoção, belíssimas falas, piadinhas treinadas, despedidas de um sincero pesar, outras nem tanto… e la nave va. A solenidade deste semestre da turma do Jornalismo 1? Semestre da PUC Minas não fugiu à regra. Só que, pelo menos para mim, deu-se em uma semana que coincidiu com uma série de outros fatos que me fizeram mais uma vez pensar, pensar bastante sobre os rumos que a profissão de jornalista está tomando.
O primeiro deles foi uma boa discussão com "profissionais de mercado" da área de comunicação em que pude perceber como afloram com facilidade os ultrapassados e descabidos preconceitos contra jornalistas. É intrigante como todo mundo quer dar pitaco e definir como deve ser a formação do jornalista. Os imaginários são tremendamente pobres e as avaliações de puro reducionismo. "Vocês só pensam em notícia", nos condenam. Gente que acha que você tem que ocupar 30% de sua grade com noções de gestão e ? lá vem ? empreendedorismo. Preparar o jornalista para ser um brilhante executivo e tudo mais… E a coisa não pára por aí. Quando não querem um curso de Jornalismo transbordando Sociologia e afins, as teses apontam para uma excessiva teorização pelo viés da comunicação.
Luz no fim do tubo
O outro fato foi a cobertura das comemorações, em Belo Horizonte, da conquista do penta. A cobertura pela TV na capital mineira transformou a cidade numa espécie de set televisivo. Pseudo-eventos pulularam pela cidade para garantir movimentação e matérias para os telejornais locais. Grupos de forró, bandas de rock, atores de teatro ? as equipes de produção dos telejornais tiveram que se desdobrar para conseguir arrastar dezenas de convidados para as praças da região central da cidade para garantir as entradas ao vivo. E os repórteres a essa altura, bem… todo mundo tem seu dia de animador de rua. A falta de espontaneidade era visível. A armação, grosseira. Passei por um desses locais. Santo Antônio, tinha um grupo de quadrilha ? de festa junina ? esperando alguém da TV dar o sinal para começar a dançar. Como ia demorar, vi alguns dos integrantes sentados pela calçada com um indisfarçável olhar de tédio… Anarriê!!!
Voltando à formatura, os alunos, em momento de muita felicidade, escolheram como patrono o jornalista José Hamilton Ribeiro. Sempre tive muita admiração pelo José Hamilton. Descobri que ele é merecedor de muito mais do que isso. Emocionado, mesmo do alto de seus 45 anos de jornalismo, o patrono dos formandos deu a todos, em poucas palavras, lições de humildade, respeito e amor à profissão. Tem que ser muito bom jornalista para ser tão direto e ao mesmo tempo tão sensível, tão apaixonado, mas tão sóbrio. Entre as coisas boas com que José Hamilton presenteou os alunos, ficou um grave alerta: tem gente que vive buscando o provisório, quando se vai morrer eternamente.
Tenho tentado não ser um xiita ou chaato (como diria Carlito Maia) nas infindáveis polêmicas sobre o jornalismo. Mas confesso que tem me incomodado ? espero até estar enganado ? ver tanta gente com uma receita pronta de um perfil para o jornalista. Sei que, se algum aventureiro seguisse uma delas, o idealizador do monstro seria o primeiro a não comprar jornal amanhã de manhã. Fiquei mesmo incomodado ao ver jornalistas que parecem não gostar de notícia. Pelo menos, fechei a semana ouvindo José Hamilton Ribeiro. Acho que há uma luz no fim do tubo.
(*) Coordenador do curso de Jornalismo da PUC Minas