Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

B.A.

"Crítica interna" copyright Folha Online (www.folha.com.br)

"05/07/2002

O dia não é dos mais quentes. Nem mesmo os dois incidentes no 4 de julho norte-americano conseguiram inflamar o noticiário. Com exceção do ?JB?, os principais jornais dão manchete para a captação recorde da poupança, fruto das incertezas em relação aos fundos de investimento. A migração já era esperada. A impressão é de que, na política, os jornais (e os políticos) aguardam divulgação de novas pesquisas para redefinir rumos. Novidade mesmo está no ?Valor?, que antecipa a ?costura? de um possível novo acordo com o FMI a partir de sugestões de Armínio Fraga.

PT-PL

Mais do que esperadas eram as dificuldades de PT e PL para garantir nos Estados a reprodução da aliança nacional. O desafio da cobertura é acompanhar passo a passo o desenrolar das soluções ou das crises, para mostrar ao leitor a viabilidade prática da aliança ou seu desgaste.

Na cobertura da Folha (pág. A9), senti ausência de dois aspectos: a) o histórico partidário de Heloisa Helena (pertence a alguma corrente interna? Qual?); e b) existem pesquisas mostrando o quanto ela tem de intenção de votos em AL, de modo a corroborar a idéia de que sua desistência na verdade usa o caso da coligação como pretexto diante de uma previsão de que não há chances de vitória para a senadora?

Cabe observar, também, que o ?Globo? hoje ?amarra? num só texto e em edição unificada as dificuldades regionais dos dois partidos coligados. Permite, dessa forma, Ter uma idéia de conjunto a respeito da coligação.

Sísifo

1) No quadro ?Personagens? da arte que resume o caso TRT (pág. A6), faltaram as idades dos protagonistas;

2) A Panorâmica ?Prefeito de Jacareí compra livro do MST para ser usado em escola pública? (pág. A6) não informa que essa cidade fica em SP.

Números da poupança

A Folha afirma que o saldo (depósitos menos retiradas) da poupança em junho foi o maior desde 1966. Já o ?Estado? registra que a série histórica é feita pelo BC desde 1991.

Também não batem os valores. Segundo a Folha, o saldo é de R$ 5,29 bi. Pelo concorrente, seria R$ 6 bi. Uma bela diferença. Aliás, todos os jornais ficaram com os R$ 6 bi, menos a Folha. A verificar.

SP e Brasil

O terceiro parágrafo de ?Paulistanos têm inflação de 103% no Real? (Dinheiro, pág. B5) afirma que o teto da meta de inflação do BC (pelo IPCA) é de 5,5% e que, para a Fipe, a inflação deve fechar este ano em 4,5%. Há, aí, um estímulo à imprecisão na interpretação dos dados. Salvo engano, o BC trabalha com um dado nacional (a meta é nacional) enquanto a Fipe apura dado regional (paulistano, segundo o texto). Qual é o sentido, no contexto desse parágrafo, de comparar uma coisa com a outra? Cria-se confusão.

Acabamento

1) Tanto a capa de Cotidiano quanto a de Esporte trazem textos longos sem nenhum intertítulo. Os tijolaços afastam os leitores;

2) Há um pastel no texto-legenda ?Violência? (Cotidiano, pág. C5).

Itamar paulista?

Um leitor chama a atenção para a reportagem de ontem da Ilustrada ?Itamar Assumpção vence adversidades e volta ao palco? (pág. E6), segundo a qual o músico é paulista. De acordo com o leitor, ele é, na verdade, paranaense. A verificar.

Onde está o mal?

A capa da Ilustrada (?O lado obscuro de Neil Young?) vende a idéia de que o leitor terá pelo menos alguns dropes sobre o lado ?escuro? do músico, revelado pela biografia ?Shakey?. A rigor, nenhum episódio que justifique o título é revelado, seja no abre, seja no pingue-pongue com o autor do livro.

Quantos anos?

O texto ?Atenuada acusação contra estudante preso por disparar em sala de cinema? (Cotidiano, pág. C4) informa que, na denúncia feita inicialmente pelo Ministério Público, Mateus da Costa Meira teve sugerida uma pena que somava 810 anos de prisão. Com a reavaliação, pelo TJ, o montante se reduz, mas a reportagem não informa para quanto. A dúvida fica no ar.

Milton e Thatcher

Cada uma a seu modo, há duas notícias que não vi no jornal mas que mereciam nele estar.

A primeira diz respeito à internação de Milton Nascimento, que teria ocorrido na tarde da quarta-feira, no Rio, por gastroenterite.

A segunda se refere à estátua de Margareth Thatcher, que foi decapitada por um diretor teatral.

04/07/2002

Sem dúvida a notícia do dia reside na decisão do Banco Central de intervir diretamente no mercado, com venda de dólares, para ?acalmar? os investidores e segurar o real -tema de manchete na Folha, ?Estado? e ?Globo?. O fato jornalístico, porém, está na Folha: não sei se para ?compensar? politicamente o enorme ?Erramos? das palmeiras (ver nota específica) e mostrar que não se intimidou com isso, o jornal resolveu trazer hoje duas chamadas de capa e cinco abres de página (70%) anti-PT em Brasil, em evidente desequilíbrio editorial. O jornal não precisa disso. Ainda assim, deixou de expor as importantes e contundentes críticas feitas por Serra a Ciro e Lula, acusados de alimentar o nervosismo na economia.

Caso das palmeiras

É óbvio que o caso das palmeiras da Prefeitura é grave e já entrou para a história dos erros mais evidentes cometidos pelo jornalismo. Não foi o primeiro nem, infelizmente, será o último. A questão é saber quais lições tirar do episódio. Algumas observações:

1) Ao contrário do que fez o ?Agora? em sua capa, a Folha escondeu na Primeira Página o erro. Não só lhe conferiu espaço bem menor do que o da chamada original, de domingo, como fez uma formulação (?Prefeitura de SP não pagou mais por palmeiras usadas em paisagismo?) obscura, que só os mais atentos e os que se lembram da reportagem de domingo poderiam identificar como uma informação diferente da anterior (e ainda assim não explicitamente de que teria havido um erro do jornal). É como se a Folha quisesse poupar a sua vitrine, deixando apenas para as páginas internas o reconhecimento de um erro grave, que abala sua credibilidade. O mesmo se pode afirmar da nota do ?Erramos?, na pág. A3, em que se diz que a referida reportagem continha ?alguns erros?. Não, ela estava totalmente equivocada na sua essência. O comportamento da folha hoje não foi um bom exemplo de absoluta transparência;

2) Não sei se todos os pontos levantados no Painel do Leitor pelo presidente da Emurb estão corretos. De todo modo, na reportagem de Cotidiano em que admite o erro, o jornal não esclarece dois itens ali expostos: o preço de um tipo de palmeira no edital (que seria R$ 2.000, e não R$ 2.600) e o fato de que a prefeita não tem responsabilidade formal ou institucional pelas compras realizadas, dado o estatuto legal da empresa;

3) Parece-me evidente que o jornal cometeu, além disso, dois erros estruturais: a) falta de preparo e de checagem técnica por parte do reportariado; b) leniência no tratamento que deve ser dado à questão -tão cara ao jornal- do ?outro lado?. A Folha não deveria precisar do ?sermão? dado a este respeito pela carta no Painel do Leitor para saber que um de seus principais pilares de credibilidade (o ?outro lado?) foi aqui seriamente maltratado. Não custa nada tomar esse triste exemplo como elemento para discutir como se tem lidado, no conjunto do jornal, com essa questão;

4) Creio ser evidente, por fim, que Cotidiano -e todo o jornal– não deve permitir que esse erro grave acabe intimidando sua pauta em relação às administrações municipais (em especial as petistas, por terem sido objeto deste caso). A melhor forma de garantir que isso não ocorra é fazer o balanço aberto e transparente do comportamento da Folha no episódio e identificar como puderam acontecer as falhas apontadas.

Caso Santo André

1) Ao citar a analista financeira Gislene da Silva, o abre ?Depoente diz que recolhia dinheiro para ‘fazer troco’? (pág. A4) afirma ?…eu repassava de R$ 100 a R$ 120 mil mensalmente para o sr. Irineu…?. Deve ser ?R$ 100 mil?, não? A verificar;

2) A própria coluna Janio de Freitas chama a atenção para divergência entre o que lhe declara Luiz Antônio Marrey e o que retranca específica sobre o assunto coloca, também hoje, na boca do procurador-geral. Na coluna, se a entendi bem, Marrey admite haver uma testemunha secreta real, que não é João Francisco Daniel. Já na reportagem, o mesmo Marrey explica que, sim, os dois depoimentos são da mesma pessoa, tendo isso ocorrido por uma questão técnica. Pergunto: e o leitor? Como ele fica?

3) Faltou o ?outro lado? de José Dirceu na retranca ?Promotoria descarta testemunha e diz que Jobim fez ‘leitura desatenta’? (pág. A6). Como a esquisita entrevista com a ?testemunha anônima? saiu ontem, esperava ver no jornal hoje esse ?outro lado?.

Estevão

1) A Panorâmica ?Justiça mantém arresto de bens de Luiz Estevão? (pág. A6) menciona que o ex-senador foi condenado pelo TCU mas simplesmente ignora que, em processo paralelo, o ex-senador acabou de ser absolvido em primeira instância na semana passada no caso TRT. Basta ler a mesma reportagem no ?Globo? (que contextualiza a situação) para verificar como o ?outro lado? foi mais uma vez negligenciado pela Folha;

2) Não vi na Folha notícia sobre a polêmica com Boris Casoy, que foi proibido por um juiz de mencionar termos pejorativos em relação a Estevão em seus telejornais (está no ?Estado?).

O BC e as reservas

1) O abre de Dinheiro (?BC retoma ração diária para segurar dólar?) afirma, no pé, que as reservas líquidas do país somam US$ 28 bi; que, descontados pagamentos de dívida externa, sobram US$ 9 bi para as intervenções do BC; que, se o banco fizer o previsto, essas intervenções gastarão US$ 6,4 bi até dezembro. Com tudo isso, diz o texto, as reservas cairiam, então, para US$ 17,6 bi. Como é possível? Ora, é óbvio que a conta, matematicamente, não fecha. De duas uma: ou a conta está errada mesmo ou o jornal não explicou ao leitor corretamente o que são as tais reservas líquidas. É preciso esclarecer;

2) Faltou repercutir com os presidenciáveis a decisão do BC. Creio que seria uma forma de mostrar concretamente aos leitores o que pensam os candidatos ou seus assessores, para além da retórica genérica.

Questão de estilo?

Não há como não registrar a diferença entre a indagação dirigida a Rivaldo por FHC segundo a Folha e a mesma frase na versão do ?Globo?. Folha: ?Você ainda está puto comigo??. ?Globo? (?coluna ?Panorama Político?): ?É verdade que você ficou bravo comigo??.

03/07/2002

Duas notícias disputavam a manchete hoje: a chegada dos pentacampeões e a antecipação das eleições presidenciais na Argentina. Surpreendentemente -pois o ufanismo nunca foi característica sua–, a Folha deu absoluta supremacia à primeira, delegando à aguda crise no país vizinho apenas chamada de um módulo, no alto. Linha semelhante à do ?Globo?, embora este tenha publicado chamada para Argentina embaixo. Creio que o ?Estado? foi mais equilibrado. Deu manchete em seis para Argentina e uma em cinco, acima da dobra, para a seleção, com fotos desta última dominando toda a página.

Copa 2002

Avalio que a festa ontem em Brasília foi um prato cheio para o caderno Copa 2002, uma espécie de coroação, pois corroborou, por parte dos protagonistas (os personagens das notícias), a linha de bom humor e leveza que caracterizou o caderno desde o seu primeiro número, linha esta simbolizada na pág. D2.

Em que pesem esse ou aquele problema, não é difícil afirmar que a Folha produziu o caderno sobre o Mundial mais rico e interessante dentre os principais jornais brasileiros de informação geral (não comparo, por razões óbvias, com as publicações especializadas).

Volta, mais uma vez, a preocupação que se segue às grandes coberturas do jornal: como manter o nível, ou ao menos aproveitar e incorporar como definitivos alguns dos bons recursos utilizados de modo sistemático ao longo dessas coberturas especiais?

É o desafio, agora, não só para a cobertura diária (a ?vida normal? de Esporte) mas para as grandes coberturas que virão (por exemplo, a sucessão presidencial, que agora ganha o primeiríssimo plano).

Já que a Folha se deu o direito, na Primeira de hoje, de um pouco de ufanismo, vai aqui um tanto de pieguice: para quem o acompanhou diária e detalhadamente, o caderno Copa2002 vai deixar saudade.

Algumas observações sobre a edição de hoje:

1) O ?Estado? afirma que a delegação da CBF se dividiu na verdade em dois trios elétricos em Brasília. De fato, numa das fotos do concorrente, isso fica claro. Pode ser que em algum momento do trajeto, ali, todos se tenham reunidos no de Ivete Sangalo. A verificar;

2) A legenda da foto do caminhão da capa do jornal fala em Ivete Sangalo, mas é quase impossível achá-la na imagem. Com algum esforço, penso tê-la identificado debruçada no canto direito inferior da fotografia. Será?

3) A foto da cambalhota de Vampeta na capa da Folha é a mesma que saiu no alto da capa do ?Globo?. Compare as duas. A da Folha tem uma resolução muito pior. Por falar nesse aspecto mais técnico, não dá para deixar de registrar o quanto perderam, por estarem em PB, as fotos da página D4 (o Boeing com os caças no céu azul e Cafu com Felipão nas janelas da aeronave). Uma pena;

4) O perfil de Bia Aidar (na pág. D6), sobre a mulher que comandou o ?espetáculo? no Planalto ontem, registra que as bagagens de mão dos atletas não foram submetidas à alfândega. E agora? Como fica?;

5) Nesse mesmo perfil, afirma-se que Aidar é a responsável pelos eventos públicos da campanha de Serra. Pergunto: o que ela estava fazendo ali? Quem a contratou?

6) Admito que não era fácil apurar, mas a dúvida é evidente: o que FHC disse cara a cara a Rivaldo? E a Felipão?

7) Ao falar da premiação de Ronaldo como o melhor em 98 e do fato de que ele, na final contra a França, entrou em campo debilitado, a retranca ?Fifa repete gafe de 98 e premia vice-campeão? (pág. D12) cai num jargão impreciso, que deveria ser evitado: ?…não conseguindo mostrar o seu verdadeiro futebol?.

Caso Santo André

1) A Folha deve informação clara e didática sobre quais foram as bases do despacho do ministro Nelson Jobim (STF) que negou abertura de inquérito contra José Dirceu no caso Santo André. Além da inexistência de provas, o texto ?Procurador pode entrar com recurso? (pág. A4) menciona dois fatores: a questão da suposta testemunha secreta e o não reconhecimento de validade técnica de investigação por parte do MP sobre servidor público. É só isso?

É preciso deixar claro para o leitor;

2) O abre da página A6 é uma ?agenda? recheada com intrigas menores entre os participantes da CPI de Santo André. Não merecia tamanho destaque num jornal como a Folha. O mesmo vale para a sub sobre o vereador do PMDB que entrou na comissão, além de sua foto. Penso que a reportagem sobre a autorização de abertura de inquérito sobre Antonio Palocci, ao pé da mesma página, merecia bem mais destaque;

3) O nome do vereador José Montoro Filho saiu como José Franco Montoro no 11o parágrafo desse mesmo abre (pág. A6).

Sem sintonia

Afirma o texto ?Lula discursa para eleitores de ACM? (pág. A8) que o Pelourinho, durante a passagem do candidato petista, estava ?repleto de faixas e cartazes em homenagem a ACM?. Na foto relativa ao acontecimento, não se vê nenhuma dessas faixas, muito menos os tais cartazes.

Memória

A retranca ?Autoridades dizem que Arafat demitiu chefe de segurança? (pág. A14) lembra que em fevereiro Arafat chegou a apontar arma para Rajoub, chefe de segurança que teria sido demitido agora. Faltou lembrar um aspecto politicamente bem mais relevante: naquele momento, Arafat chegou a dizer, entre aspas, que Rajoub queria tomar o lugar dele como principal dirigente palestino.

Argentina

Todos os jornais, a meu ver, por ?piloto automático?, deram a antecipação da eleição na Argentina em seus cadernos de Economia. Claro que a crise econômica é o pano de fundo da crise geral do país, mas essa é uma notícia política. E a crise política, diga-se, é tão aguda quanto a outra. O mais correto, até pensando na sequência da cobertura sobre essas eleições, seria editá-la em Mundo, com as devidas remissões.

Opa

Nota no Painel SA informa que Ricardo Carneiro deixa a coordenação do programa econômico do PT. Foi ele quem deu aquela entrevista ao ?Valor?, semanas atrás, cuja repercussão (ampliada por Luiz Carlos Mendonça de Barros na Folha) não pegou nada bem no PT. Vale a pena aprofundar o assunto.

Vivendi

O material ?Bola da vez, Vivendi Universal cai 25,5%? (Dinheiro, pág. B6) não informa, afinal, qual é a operação contábil irregular que teria sido efetuada por mais essa empresa gigante. O que diz a reportagem do ?Le Monde?, mencionada no texto, sobre essa contabilidade?

Sísifo

Para quem Fraga falou? O que ele fazia na Fiesp (informação que só aparece na legenda da foto) ontem? A reportagem ?Armínio dá prazo para país abandonar risco? (pág. B7) não traz informações básicas.

Um detalhe: pelo que relata o ?Valor?, aliás, o presidente do BC não apenas deu prazo de 30 meses para o país ganhar confiança, como está na Folha, mas também fez uma proposta de acordo de transição entre os presidenciáveis com base em alguns parâmetros econômicos. O que seria isso? A verificar.

Gás

Não vi na Folha informação trazida no ?Globo? de que o gás de cozinha terá aumento de 6,2% a partir desta sexta-feira. O anúncio, segundo o jornal do Rio, foi feito ontem pela Petrobrás.

Uniforme

A reportagem sobre o fim do sequestro de um garoto em Cotidiano deixa claro que o rapaz usava uniforme do colégio quando foi sequestrado. No ?story board?, entretanto, o adolescente aparece de blusa listrada. Não deu para entender.

?Testável?

Essa palavra aparece no texto de abre de Ciência (pág. A16). Ela não é reconhecida, porém, pelos dicionários. Sugiro avaliar, para eventual Erramos.

Sem um ?plus a mais?

Creio que a Folha teria marcado um ponto de diferenciação na cobertura sobre a inauguração de museu no antigo prédio do Dops (capa da Ilustrada) se tivesse conseguido trazer crônicas de personagens que passaram pelo prédio quando ele era parte dos ?porões? do regime militar, de um lado e do outro da barricada.

02/07/2002

Apesar da prevalência de imagens do ?penta? nas capas, os principais jornais abriram, em manchete, com a subida do dólar. A Folha (?Dólar sobe a R$ 2,90 no oitavo ano do real?) e o ?JB? optaram por colocar um valor nos títulos, sem mencionar que se trata de um recorde. É uma pena, pois não conseguem, assim, chamar a atenção para dimensão e o significado desse mesmo valor. Melhor se saiu o ?Estado?: ?No aniversário do real, dólar dispara e volta a bater recorde?. Mesma direção do ?Globo?: ?Real faz 8 anos com dólar mais alto de sua história?.

Primeira Página

Não sei qual poderá ter sido o critério de escolha da foto do alto da capa do jornal, mas ela me parece gélida, inadequada. Vale como um registro de imagem do vôo, ou até mesmo -dado o ?clima baixo-astral? do retrato – para alimentar eventuais insinuações sobre boatos referentes à suposta crise do casal Ronaldo-Milene. Justifica-se em página interna, mas não, a meu ver, na capa da Folha hoje.

Copa 2002

1) O título da ?retranca? dos ?Piores da Copa?, na página D2, não corresponde ao conteúdo, no qual se relatam curiosidades e eventos de diferentes significados (por exemplo: ?Troféu Musa do Penta?, para a mulher de Cafu);

2) Faltam bastidores a respeito da decisão da CBF de fazer desfile em Brasília e ir com a equipe campeã ao Planalto. Coluna no ?Valor? de hoje (pág. A6) amarra alguns elementos. Falta, creio, aprofundar;

3) Acabamento: inexistem remissões recíprocas entre o caderno e Cotidiano, que também traz material sobre a chegada dos atletas da seleção a SP;

4) Não há como não lamentar que a página D9, com as fotos de comemorações pró-Brasil em diferentes países, seja em PB. Matou! Sobre isso, aliás, gostaria de ter visto na Folha a foto (colorida) creditada à ?France Presse? que o ?Estado? traz com crianças sobre um riquixá em Calcutá;

5) Sobretítulo da contracapa do caderno: ?Seleção deixa para trás o enigmático palco do pentacampeonato e retorna ao Brasil?. Ahã!

6) Sai em Cotidiano uma página sobre o Jardim Irene, terra de Cafu. Tudo bem, é uma pauta obrigatória. Mas sua edição, creio, está burocrática, desumanizada. Faltaram fotos, imagens de gente. Perdeu-se a oportunidade de fazer algo mais ?quente?. Ficou, a meu ver, como se fosse reportagem sobre estudo sociológico de um bairro pobre de SP. O ideal talvez seria t~e-la editado no caderno da Copa, com seu espírito editorial.

Caso Santo André

1) Na retranca ?Remessa ilegal ao exterior é apurada? (pág. A4), afirma-se que a empresa SinalRonda tinha capital de R$ 360 quando foi fundada, em 94. É só isso mesmo? A verificar;

2) Senti falta, na Folha, de reação dos promotores à decisão de Nelson Jobim de rejeitar abertura de inquérito contra José Dirceu. Segundo o ?Estado?, eles avaliam que o ministro do STF se equivocou;

3) Não está claro, até agora, a meu ver, o argumento do ministro para a rejeição. É a história do ?depoente secreto?, que seria, na verdade, o próprio irmão de Celso Daniel. De acordo com o concorrente, haveria aí um aspecto técnico central, justamente aquele que é contestado pelos procuradores. Falta aprofundar;

4) Outra coisa a esclarecer: o que é a ?escolha aleatória?, que levou o caso a ?cair? com Jobim? É feita por sorteio? Falta esclarecer.

Fox aqui

Segundo o texto ?Presidente do México chega hoje ao Brasil? (pág. A5), o governante chega hoje à noite e janta com FHC. Mais adiante, afirma: ?Na terça-feira, assina acordos, almoça com empresários…?. Hoje já não é terça-feira?

Sobrenome

O coordenador da campanha de Garotinho é chamado de Márcio Jardim no abre da pág. A6. Em sub da mesma página, ele é Márcio França. Qual é o sobrenome correto?

Perfil

O jornal apresenta o vice da chapa de Maluf (pág. A7) com perfil mínimo. Faltou informar formação, idade, dados pessoais e familiares.

Caso TRT

Há uma aparente contradição entre duas informações na pág. A9. A sub ?AGU considera que juiz errou ao absolver Estevão? registra a falta de autenticação de extratos bancários como base da decisão do juiz de inocentar o ex-senador. O texto ?Juiz Casem Mazloum vê ação imprecisa?, porém, atribui ao magistrado, entre aspas, a declaração de que ?reconheço que os documentos [sobre as contas bancárias de Luiz Estevão] são autênticos e que a assinatura é dele?. Não deu para entender. Acho que o jornal deveria recuperar o caso didaticamente, mostrando as acusações, os pontos de apoio da absolvição etc.

Força total

Afirma a retranca ?EUA retiram soldados de Timor Leste? (pág. A12) que aquele país anunciou ontem estar retirando do Timor ?todos os três (sic) soldados americanos de uma força da ONU…?. São só três mesmo? A verificar.

Sem números

A reportagem sobre as eleições bolivianas (?Ex-presidente e ex-prefeito disputam 2o turno na Bolívia?, pág. A13) não traz um único número referente aos votos dados a cada candidato presidencial nas eleição gerais do domingo.

Barbalho

Não vi na Folha informação de que Jader Barbalho decidiu concorrer para a Câmara dos Deputados, não mais ao Senado ou ao governo do PA.

Pesquisa e especulação

Uma pesquisa eleitoral encomendada por uma corretora a pedido de um cliente (internacional, segundo ?Globo?) causou novo nervosismo no mercado (manchete do jornal e capa de Dinheiro). Creio que está na hora de o jornal explicar a seus leitores como é que funciona isso. Qualquer um pode encomendar pesquisa? E sua divulgação? O que manda a legislação? E obrigatória? Como é, concretamente, o fluxo, o jogo de especulação que se forma numa situação (não inédita) como essa?

Receita e lucro

Leitor chama a atenção para reportagem da Ilustrada de ontem sobre o lançamento do filme ?Star Wars – Episódio 2…?. O sobretítulo fala em lucro de US$ 270 mi. No texto, esse valor corresponde à renda do filme.

Renda (ou receita) é diferente de lucro, certo? Qual é o dado correto?

01/07/2002

As manchetes do pentacampeonato: Folha: ?Pentacampe&aatilde;o!?; ?Estado?: ?O maior campeão do mundo?; ?Globo?: ?Pentacampeão de todos os continentes?; e ?JB?: ?Penta Brasil!?. Embora a manchete da Folha seja a meu ver a mais apropriada, menos ufanista, creio que a foto do ?Estado? é a mais ?quente?, a melhor, retratando em conjunto diversos personagens importantes do acontecimento. A de Cafu erguendo a taça, na Folha, é plasticamente bela, mas é também fria em relação ao evento. Sua figura isolada, em absoluto perfil, com um fundo ?metálico?, esfriou a capa do jornal.

O penta

A Folha arriscou. Ousou. E creio que se saiu bem no conjunto da edição do pentacampeonato hoje. Seu caderno Copa 2002 não ?cantou? o hino nacional, mas também não deu as costas ao leitor e a seus sentimentos de torcedor. Conferiu à cobertura uma temperatura média entre essas duas posturas, difícil de se manter. A maior ousadia da Folha, creio, foi abrir o caderno com a foto do beijo Rivaldo-Ronaldo. Ela apresenta um resultado estético duvidoso, certo ruído, a imagem é bizarra. Mas a minha impressão é de que se conseguiu um diferencial. Algumas observações:

1) Na capa do jornal, não há menção ao técnico, Scolari (a não ser como recurso para falar da equipe como ?o time de Luis Felipe Scolari?). Reflete-se, aí, uma avaliação a meu ver equivocada sobre o papel do treinador no Mundial. Que os ?talentos individuais? tenham definido a parada, é óbvio. Mas a possibilidade de eclosão desses talentos tem muito a ver com a coordenação do grupo, e Scolari não foi, nem de longe, apenas um instrutor, certo?

2) A Folha traz hoje tantas páginas quanto o ?Estado? (32) em seu caderno de Copa. O concorrente, porém, mais uma vez, consegue imprimir cor em todas elas, enquanto a Folha ficou em 75%. Uma pena;

3) Registre-se que cerca de um terço do caderno do concorrente hoje praticamente reproduz (com algumas alterações ou atualizações) páginas da edição extra de ontem. A Folha o fez bem menos, em duas páginas;

4) Sobre essas edições extras, aliás, não há como deixar de lamentar que a Folha tenha posto nas bancas um jornal com menos páginas (20 contra 24) e com o dobro do preço (R$1,00 contra R$ 0,50). Ignoro os motivos que possam estar por trás disso. Intuo, porém, que esse fato não deve ter ajudado muito os leitores a se decidiram pela Folha nas bancas;

5) Senti falta hoje do registro de três fatos, os quais estão em edições de concorrentes: as declarações de Romário pós-jogo, favoráveis à manutenção de Felipão à frente da seleção; o telefonema dado logo após o jogo por Ronaldo a Chico Buarque; o episódio da troca de camisa de Edmilson, que se atrapalhou durante o jogo ao fazê-lo, criando um momento inédito e folclórico na partida e, segundo alguns, contribuindo para desconcentrar um pouquinho os adversários;

6) Na Copa dos recordes brasileiros, também a Folha bateu o seu: não me lembro de ter visto um crédito de texto com tantos nomes como o abre da pág. D3. Um texto escrito a dezesseis mãos. Ficou bem esquisito. Por que, então, não ter bolado um expediente específico, como ocorreu em outros jornais?

7) Duas fotos eram a meu ver ?obrigatórias?, mas não as vi na Folha: a) Marcos ?consolando? Khan após o jogo e b) Ronaldo de costas para o mesmo Khan após fazer o primeiro gol, estando o goleiro alemão completamente estirado, batido, no gramado. Por envolverem o principal atleta alemão, são imagens daquelas que ?vão ficar?;

8) O texto ?Time promove ‘vão ter de me engolir’ coletivo? (pág. D18) atribui a pressa e a indisposição dos jogadores para falar com a imprensa ao deixarem o vestiário ao ressentimento deles em relação às críticas recebidas antes. Esse pode até ser um fator real, mas, embora se afirme que eles falaram à Fifa e à Globo, não se diz, no texto, que todos eles estavam nos estúdios da emissora logo em seguida a essa saída dos vestiários. O que quero dizer é que, à parte ressentimentos, não deve ter pesado pouco, para aquela pressa, questões contratuais e o fato de que a Globo estava ao vivo, com todo seu aparato, exclusividade etc, aguardando os atletas no ar;

9) ?FHC pede, e CBF resolve mandar seleção a Brasília? (pág. D22) mostra como deve ser a recepção do time na capital federal, mas não informa o que se espera para São Paulo e Rio;

10) O jornal deu pouco registro (duas meias páginas) para as manifestações de rua em diferentes cidades em comemoração ao título. No caso da avenida Paulista, a foto, na página D19, não dá idéia, ao leitor, da dimensão da reunião de torcedores que ali aconteceu após a decisão. Foto mais ampla publicada no ?JT? hoje é, nesse sentido, bem mais informativa;

11) Deve-se ao leitor uma explicação sobre a taça da Fifa, imagem que ?atravessa? o jornal. Quem a esculpiu o troféu? O que ela procura simbolizar como escultura etc? 12) Fraca, me pareceu, com apenas um pirulito na pág. D18, sem imagens, a cobertura da repercussão do resultado do jogo na imprensa internacional. Vale a pena recuperar.

Outros assuntos

1) Espanta que até a edição de hoje o jornal não tenha dado sequência ao noticiário de sábado sobre a condenação do juiz Nicolau e a absolvição, em primeira instância, de Luiz Estevão no caso TRT-SP. Trata-se de um dos casos mais rumorosos dos últimos tempos. Mesmo que haja recursos e que, eventualmente, instâncias superiores optem por outro caminho, o ex-senador merecia, no mínimo, um pingue-pongue;

2) O caderno Dinheiro, hoje, apresenta três retrancas diferentes (págs. B3 e B5), assinadas por três repórteres diferentes, em que se ouve um mesmo consultor financeiro, Victor Zaremba. Não é um exagero?

3) Falta o posicionamento da prefeitura paulistana no material de capa de Cotidiano, hoje, sobre o Plano Diretor. Há os empresários e o legislativo. O que a administração pensa a respeito das propostas de mudança que estão sendo feitas pelos vereadores? Ela está de acordo? Qual é a tendência da votação, esperada para esta semana?

Edição de sábado, 29 de junho

Lula x Suplicy

O texto ?PT faz concessões inéditas na 4a tentativa de Lula à Presidência? (pág. A6) afirma que o candidato obteve 86,4% dos votos nas prévias internas do partido. Arte na mesma página, porém, registra que foram 84,6% dos votos. Qual é o dado correto?

Inversão

Na data de 4 de abril de 2001 do quadro ?Entenda o caso da denúncia? (sobre investigações da PF contra Lula, pág. A8), afirma-se que o agente da PF Gilvan de Souza entregou documentos ao denunciante (Fernando Cavalcanti). É o contrário, não?

Alckmin nomeado?

Não entendi por que a arte ?raio-x?, sobre o candidato tucano à reeleição em SP (pág. A15), afirma, em seu currículo, que ele foi ?nomeado? vereador…, ?nomeado? prefeito, ?nomeado? deputado estadual etc. Por que não usar ?eleito??

Edição de domingo, 30 de junho

Outro lado

Faltou o registro do ?outro lado? dos acusados na boa entrevista pingue-pongue com os promotores do caso Santo André, à pág. A4.

Por falar em pingue-pongue, registre-se que, neste domingo, a Folha esteve excepcionalmente recheada deles. Foram sete, ocupando grandes espaços, apenas em Brasil, Mundo e Dinheiro.

Microcâmeras

A reportagem de capa do TV Folha, sobre os perigos da investigação jornalística com microcâmeras, perdeu a oportunidade de discutir um aspecto desse assunto, referente à ética (ou não), ou aos limites dentro dos quais cabe (ou não) utilizar esse recurso, independentemente do aspecto segurança. Numa declaração, o diretor da Globo Luís Erlanger tangencia a polêmica questão ao afirmar que o equipamento só é usado pela emissora depois de ?exaustiva investigação e confirmação de que há algo de interesse público que não pode ser registrado de outra forma?. Vale a pena, creio, voltar ao assunto."