Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Falsa democracia

PESQUISAS & INTERPRETAÇÃO

Jeferson de Andrade (*)

Pesquisa para presidente da República divulgada pela TV Globo dia 16 de julho aponta o candidato Ciro Gomes à frente de Lula num eventual segundo turno.

É o candidato B do poder. Serra não sobe, não avança, serra-serra e não sai do lugar. A grande imprensa já abre mais espaço para Ciro Gomes. Enquanto toda a tropa Collor está a seu lado, o candidato tenta se desvencilhar do apoio do próprio Collor em Alagoas. Até o seu vice, Paulinho, vem da Força Sindical, criada com dinheiro e ajuda de Collor para fazer frente à CUT. Tudo corre com muito pragmatismo, a forte característica do ex-governador do Ceará.

Continua um mistério o vice de Ciro Gomes. Paulinho da Força Sindical não pode ser chamado de nova esquerda. Não representa força nenhuma entre a massa de trabalhadores, já que foi sempre o mais autêntico pelego. Quem representa de fato o trabalhador é a CUT. É estranho que esteja calada. Sempre combateu Paulinho e a Força Sindical ferozmente. Está calada porque o PT se aliou ao PL e Luiz Antônio de Medeiros, o verdadeiro mentor da Força Sindical, está no PL. Ou seja, a aliança espúria do PT com o PL obriga a CUT a se calar. E a CUT sempre foi uma grande força do PT. Uma coisa é certa. Os sindicatos têm gráficas próprias, têm muito dinheiro arrecadado com o imposto sindical e podem colaborar muito em qualquer campanha eleitoral. No fundo, o dinheiro tirado do próprio trabalhador sustenta presidentes e diretorias de sindicatos como verdadeiros nababos. Ora, ora, como dizia o velho comuna: a burguesia tem os seus encantos.

Enquanto isso, Ciro Gomes leva todo o jeito de um novo Collor, pronuncia um discurso para enganar o leitor, tal qual o próprio Collor e Fernando Henrique Cardoso. Lá vai o eleitor validar nas urnas eletrônicas, não confiáveis, a farsa de novas eleições.

Poder de calar

Lula já perdeu outra eleição. Lá vem a elite paulistana novamente para se manter no poder, aliada ao coronelício nordestino. É Serra. É Ciro Gomes. A verdadeira disputa é essa. Lado A e B do poder que aí está e nossa falsa democracia.

A ditadura civil é muito mais poderosa do que a militar.

Extremamente sagaz, manteve a Lei de Imprensa da ditadura militar e cala quem quer.

Estou com dois processos em andamento na comarca de Paraguaçu, MG, denunciado pelo promotor da cidade por injúria e difamação por classificá-lo em artigo de jornal como autoritário e ditador, exatamente por se beneficiar de lei de 1967 da ditadura militar. Solicita a suspensão de meus direitos políticos.

No Espírito Santo, uma jornalista está presa em domicílio porque denunciou o crime organizado do Estado.

No Rio, um desembargador tomou o talão de multas da guardinha.

Há casos e mais casos.

Há democracia?

Como um jornalista que é remunerado na conta de pagar seus compromissos mensais pode arcar com as despesas contratando bons advogados para enfrentar o Poder Judiciário e seu deslavado corporativismo?

A ditadura militar prendia, torturava, matava. A civil cala quem quer. E não tenho dúvidas de que mata caso julgue necessário.

(*) Jornalista e escritor; e-mail: <jefersonandrade@hotmail.com>