CONFLITO DE INTERESSES
Howard Kurtz ? autor do texto anterior ? é um dos repórteres de mídia mais famosos dos Estados Unidos: além de assinar coluna no Washington Post, apresenta um programa semanal na CNN, Reliable Sources (fontes confiáveis), ambos dedicados à crítica de imprensa. Mas, recentemente, o analista viu-se no centro de uma polêmica. Jerry Nachman, editor-chefe da MSNBC, escreveu aos chefões Leonard Downie Jr., do Post, e Walter Isaacson, da CNN, questionando como ele pode ser independente se é pago pelos dois veículos. “Ouvi a defesa de Howard, de que critica a CNN em sua coluna e jamais deixaria esta relação afetar a cobertura que faz do canal e dos rivais”, afirma Nachman. “Mas a questão do conflito de interesses ? e seu parente próximo, a aparência do conflito ? envolve sua cabeça cada vez que ele escreve ou fala na TV sobre a CNN, a Fox ou a MSNBC.”
Kurtz se defende: “Todos sabem que trabalho para a CNN e para o Post e que freqüentemente critico ambos, tanto na TV quando no papel, de uma forma que poucos jornalistas fazem quando falam de seu empregador.” O crítico alega que deixa bem claras suas relações com as empresas para que o público possa tomar suas próprias decisões.
Mas o professor de Jornalismo William Serrin, da Universidade de Nova York, vê em Kurtz um “conflito de interesses ambulante”. “É escandaloso, e não entendo como ninguém o repreendeu até agora. Você realmente acha que ele vai à CNN atacar o Post? Ainda assim”, pondera, “a aparência de conflito é problemática, no mínimo”. James Fallows, autor de Breaking the News: How the Media Undermine Democracy, provoca: “Já que Howard Kurtz tem sido tão vigilante nesses anos sobre conflitos de interesse, teríamos que perguntar como ele cobriria esta situação se envolvesse outra pessoa.” E completa: “Meu palpite é que ele adotaria a posição de Nachman.”
Segundo Sid Smith [Chicago Tribune, 10/7/02], Alex Jones, diretor do Centro de Imprensa, Política e Políticas Públicas Shorenstein, da Universidade de Harvard, sai em defesa do jornalista, alegando que sua relação com os veículos é clara. “Questionar se ele tem direito a ser repórter de mídia é besteira. É como dizer que nenhum jornal deveria cobrir a si mesmo ou seus rivais.”
Bob Steele, diretor do Poynter Institute, tem ponto de vista intermediário. “Crítica de mídia feita por jornalistas é intrinsecamente confusa”, opina. “A situação em que Kurtz se meteu é complicada, ao menos na superfície: ele é pago por duas empresas diferentes que estão na mira de seu exame, e apenas revelar suas relações trabalhistas não abranda o problema.”