Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sérgio Dávila

INTERNET

"Hacktivismo lança seu software-manifesto", copyright Folha de S. Paulo, 16/07/02

"A H2K2, uma das maiores convenções de hackers do mundo, acabou anteontem em Nova York com uma decisão histórica. Um grupo internacional anunciou que vai oferecer na rede um software gratuito capaz de deixar internautas ?invisíveis? ao navegarem em países que exercem alguma censura na internet.

A idéia é ajudar principalmente os usuários da rede que vivem em lugares como a China e a maioria dos países do Oriente Médio, que praticam monitoramento e vigia on-line.

O nome do grupo não poderia ser melhor e reforçar ainda mais a ligação da atividade com alguns ideais que floresceram nos anos 60: hacktivismo.

Já o programa foi batizado de Camera/Shy e é um software que permite que usuários de internet escondam mensagens em imagens publicadas na rede, ludibriando assim toda forma de controle. Como toda inovação, é claro que o sistema pode ser utilizado pelo ?lado negro da força?, o que já atraiu as atenções do FBI.

A polícia federal norte-americana teme, por exemplo, que membros da Al-Qaeda, organização terrorista filiada ao milionário saudita Osama bin Laden, responsável pelo ataque do dia 11 de setembro, façam uso do programa para se comunicar entre si e organizar planos para novos atentados.

Outra utilização preocupante seria a dos pedófilos virtuais, um universo que cresce perigosamente, principalmente nos países europeus. Estes poderiam lançar mão do Camera/Shy para trocar imagens de pornografia infantil sem que o mecanismo dos provedores detectasse algo.

?Embora nem todos nós sejamos norte-americanos, nós apoiamos as idéias fundamentais da Constituição dos EUA, especialmente a liberdade de expressão?, disse o fundador do hacktivismo, ?Oxblood? Ruffin.

O H2K2, evento patrocinado pela bíblia hacker ?2600?, aconteceu pela primeira vez em 1994, no hotel Pennsylvania de Manhattan, ainda com o nome de HOPE (um trocadilho em inglês com a palavra ?esperança? e as primeiras sílabas do hotel).

Foi a primeira convenção hacker a reunir mais de cem pessoas e um passo adiante das pré-históricas Galactic Hacker Party (1989) e Hacking at the End of the Universe (1993), ambas realizadas na Holanda. A atração principal daquele ano foi uma palestra do ex-diretor da CIA Robert Steele.

Depois, houve o Beyond HOPE (1997) e o H2K – HOPE 2000. O resto é história e, agora, ativismo histórico."

 

"Assalto intelectual", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 17/7/02

"Ganha terreno na internet o debate sobre plágio de conteúdo jornalístico. Pelas infinitas possibilidades que abriu aos usuários, a Web tornou-se caminho ágil e fácil para a apropriação indébita de textos. No site Comunique-se, Mário Lima Cavalcanti informa que o assunto está em ebulição. ?Seja de textos escritos ou de imagens, o número de plágios no meio on line cresce na mesma velocidade que a internet?. Mário adverte que é um engano pensar que aqueles que copiam textos não sabem o que fazem. Dá o exemplo de dois órgãos da imprensa americana que demitiram colunistas porque copiaram parágrafos inteiros sem citar a fonte.

Pela troca de chumbo que o artigo provocou, ficou evidente que o Brasil também foi infestado pelo vírus do plágio. Em seus comentários, vários jornalistas lembraram casos semelhantes nos quais notícias (e até furos de reportagem) foram republicadas sem qualquer preocupação com os direitos autorais. O mal está fora de controle. Os abusos são incontáveis e vão além, muito além, da imprensa. Até teses de mestrado já foram surrupiadas. Vicente Tardin, editor do Webinsider, tentou explicar o fenômeno: ?Existe uma certa confusão entre informação livre e cópia de conteúdo. Quem copia textos de sites de conteúdo está na verdade vendendo um pastel cujo recheio não é dele?.

Não há o que confundir. Na internet ou fora dela, plágio é a apropriação indébita de obra intelectual. É um assalto. E como tal deve ser coibido e denunciado. Se recorro ao texto de Mario Lima Cavalcanti como gancho, tenho obrigação de passar esta informação ao leitor. Infelizmente, porém, alguns jornalistas se fazem de desentendidos. Há alguns anos, surpreendi-me com um colega que copiava parágrafos inteiros de jornais e revistas sem a obrigatória referência à fonte. Perguntei-lhe o motivo e recebi de volta o seguinte disparate: ?Não é necessário. Aqui não temos esse costume?. Costume? Só se é um hábito copiar textos, montar uma colcha de retalhos com trabalho alheio e assumir a autoria. Diante de tamanha desfaçatez, preferi não voltar mais ao assunto.

De minha parte, considero muito estranho que jornalistas copiem textos sem citar a origem. É uma punhalada na profissão (pelas costas). Afinal, vivemos dos textos que produzimos. De nossa capacidade e competência para levantar informações, fazer entrevistas, analisar fatos e emitir opiniões. Quando colegas preguiçosos se apropriam indevidamente do trabalho alheio, a profissão corre grave ameaça. O plágio no jornalismo exerce o mesmo efeito deletério que o CD pirata na esfera da música.

É fundamental que os jornalistas se mantenham bem informados. Hoje, graças à internet, é possível acompanhar edições on line dos principais jornais, como The New York Times, The Wall Street Journal, Clarín, El País, Le Monde, Le Figaro e Financial Times. Para quem não abre mão de exemplares impressos, livrarias e bancas mais sofisticadas vendem revistas como The Economist, Time, Newsweek, Business Week, Forbes, L?Express, Focus, Der Spiegel, Panorama, o suplemento literário Babelia (de El País e o Courrier International.

Fontes não faltam. Mas é um dever citá-las. Quem não o faz acha que o brasileiro é um monoglota, ignorante e otário. Um dia a casa cai. E os plagiadores serão apanhados em flagrante delito."

 

JORNALISMO ONLINE

"Ameaça para os jornais online", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 17/7/02

"No dia 06/07 o site Newsbooster.com, da Dinamarca, foi proibido pelo tribunal de Copenhague, no país, de fazer ?links profundos? para jornais dinamarqueses. Segundo este tribunal, que decidiu a favor da Associação de Jornais da Dinamarca (Danish Newspaper Association), o Newsbooster – que tem como carros-chefes a busca de notícias e o serviço de clipping personalizado -, era um concorrente direto dos sites jornalísticos cujas notícias eram ?linkadas?, o que viola as leis de direito autoral e marketing do país.

Para quem não sabe, links profundos (ou, em inglês, deep links) levam o internauta direto para um determinado conteúdo dentro de outro site, sem passar por sua página principal. Como conceito, um deep link é também aquele que, num site, está entre os mais baixos em uma ?hierarquia?, contados a partir do primeiro, que seria a página inicial. Para mim, a única coisa estranha nisso é que os usuários não verão as propagandas veiculadas na página inicial do site.

Particularmente, discordo do tribunal. O Newsbooster.com, com mais de 4,5 mil sites de notícias como fontes hoje em dia, apresenta manchetes organizadas em categorias e ?linkadas? para o site de origem dessas notícias. Mas essa não é a prática que tem sido utilizada comumente em sites de notícias no mundo inteiro quando queremos citar um artigo? Inclusive, é também uma forma de servir melhor o leitor online. Não vejo outra intenção senão proteger anunciantes e patrocinadores dos veículos membros da Associação Dinamarquesa de Jornais.

Segundo notícia na Wired, de autoria de Michelle Delio, defensores de uma internet cheia de links afirmam que a decisão do tribunal dinamarquês pode um dia afetar todos os websites – incluindo ferramentas de busca como o Google – que oferecem links diretos ao conteúdo de outras páginas, o que acabaria privando os usuários do acesso fácil e rápido à informação.

Renata Aquino, editora-assistente do Hotbits, tem a mesma opinião: ?Acho que a iniciativa de processar um site por deep linking é não apenas infrutífera como péssima publicidade para a associação de jornais e ótima propaganda para o Newsbooster. A internet tem muito mais conteúdo do que qualquer internauta possa ler. É de interesse, também, para os sites que geram conteúdo, que tudo o que produzem chegue até os seus leitores. O Hotbits, por exemplo, chega a publicar cinco matérias a cada meia-hora. Eu tenho certeza que mesmo nossos leitores mais fiéis não irão digitar www.hotbits.com.br cinco vezes a cada meia-hora para se informar. Eles lerão o site uma vez por dia, no seu palmtop, ou irão lê-lo a partir de um RSS reader (aplicativo leitor de notícias como o Newsbooster que pode também linkar as notícias direto para o site do leitor.)?, diz.

Na mesma nota da Wired Brasil sobre esse assunto, segundo o advogado Victor Angeleno, especializado em direiro na internet, ?pelas transcrições do processo, parece que o tribunal está decidindo sobre assuntos bastante específicos, e não sobre a prática de criar links em geral?.

O editor do Cosmo On Line, Artur Araújo, também contra a decisão do tribunal dinamarquês, não acha que links profundos possam ser prejudiciais: ?É ridículo imaginar que um link profundo prejudica um site. Todos os sites ?normais? têm, nas suas páginas ?profundas?, links que levam o usuário de volta para a capa. Um site que indica outro não está ?sabotando? sua referência. Isso está mais para coisa de advogado ?esperto? do que para webmaster preocupado com a evasão de leitores do seu site.

Bom, gostaria que a Associação de Jornais da Dinamarca me desse motivos realmente concretos para tal decisão, que, nesse primeiro instante, sinceramente, é lamentável. Aguardo comentários. Até a próxima!

Em tempo: O tribunal dinamarquês não é o único contra a prática do deep linking. Sites como o canal de notícias financeiras Bloomberg proíbem que outros sites criem links para o seu conteúdo sem autorização."