Pronto, acabou a farra do papa. A imprensa brasileira não precisa mais fingir que atende aos anseios do ‘maior país católico do mundo’ com esses ‘hectares’ de páginas e essas ‘eras’ de tempo na TV, como definiu uma leitora do Observatório, desse chatíssimo noticiário sobre o Vaticano. Temos papa! E um papa da Opus Dei!
Má notícia para alguns. Oren Nahari, analista da TV estatal israelense que a BBC e o iG citaram, por exemplo: ‘O mais conservador entre os conservadores, não há dúvida de que Ratzinger tem uma certa mancha em seu passado’. Ele se referia a informações, desmentidas por alguns biógrafos, de que o papa militou no movimento juvenil hitlerista.
Na grande imprensa do ‘maior país católico etc.’, a seriedade imperou. No Globo Online, continuou melosa como nas últimas semanas. Na Folha, felizmente bem crítica. Alguns títulos: ‘Conservador, Ratzinger reprimiu teólogos’; ‘Ratzinger foi guardião do extinto tribunal da Santa Inquisição’; ‘Ultraconservador, novo papa condena gays e adoção’; ‘Leonardo Boff se diz ‘perplexo’ com novo papa’; ‘Severino diz que novo papa é ‘excelente’’.
Novo cenário
Para muitos, porém, a escolha foi motor do riso, pecado que o Santo Ofício tanto condenou. Personagem da família Addams, clone do imperador Palpatine de Guerra nas Estrelas… esse papa saiu à janela já coberto de apelidos. O nome, inicialmente, estava difícil. A Folha e o JB afirmavam que era Bento XVI, a Globo e o Globo, que era Benedito XVI. ‘Mas isso não importa, como disse o blog Diário Ateísta (www.ateismo.net/diario/) – aportuguesando o latim –, ‘habemos tirano’’, comentou uma internauta. Outro resolveu: ‘Para não ter confusão com Bento, Benedito ou benedictus, a gente pode chamá-lo de Torquemada’.
O que o internauta queria era brincar pelos blogs, aliviado porque o papa não é brasileiro. Já pensou? Seria a ‘maior autoridade/celebridade do país e aí, sim, teríamos um inferno papal…’, disse um; ‘os brasileiros perderam mais uma corrida para um alemão…’, disse outro. Algumas tiradas do Kibe Loko (http://kibeloco.blogspot.com/), que há dias trucida com humor esse tedioso noticiário: ‘Acabaram de escolher o novo papa. E pela cor da fumaça, dizem que é argentino, zagueiro e joga no Quilmes’; ‘Alemanha 1 x 0 Brasil! As primeiras (e equilibradas) palavras do papa alemão: ‘Quem é o vice agora, hein, Galvão?’’. Acima da foto de Rubinho Barrichello travestido de cardeal, a frase: ‘Se o alemão chegou em 1º, adivinha quem foi o 2º!’; ‘Responda depressa: do que adianta nascer Ratzinger, se vai morrer Bené?
Noves fora nada, dizem que pela primeira vez na história a imprensa acertou o nome do papa – apesar do tropeço ‘global’. Também caiu o tabu de que quem entra papa no conclave sai cardeal. Mas a boa pauta mesmo está na análise deste novo cenário internacional que se descortina, com George W. Bush na Casa Branca, Paul Wolfowitz no Banco Mundial, Joseph Ratzinger no Vaticano. O conservadorismo marcha.