Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Vai dar Globo de novo?

EXPOSIÇÃO DE CANDIDATOS

Leonor Macedo (*)

Deu na Folha de S.Paulo: até a Patrícia Pillar votará no Lula depois do debate de ontem. Para os que chegaram agora, melhor explicar. No domingo (4/8) a Rede Bandeirantes de Televisão promoveu debate com os quatro principais candidatos à presidência ? um absurdo, pois num país "democrático" Zé Maria, do PSTU, e Rui Pimenta, do PCO, deveriam estar incluídos na lista. Mas Lula, Serra, Garotinho e Ciro Gomes protagonizaram um ótimo programa para se assistir em família no domingo à noite.

Em frente à TV, entre dezenas de piadinhas que surgiam na platéia doméstica, algumas questões mais sérias me preocupavam. Uma delas é esse julgamento de esquerda e direita de hoje em dia: me pareceu estar na moda ser de esquerda. E, entre todos os candidatos, o que menos pintou ser de esquerda foi o comunista de verdade (?!), aquele que come criancinhas na ceia de Natal. Talvez porque ele não tenha afirmado o tempo todo que seus princípios eram socialistas, mas seus adversários partiram da premissa de que uma mentira contada muitas vezes vira verdade. Por outro lado, eles realmente podem se considerar socialistas se comparados a Hitler. Tá legal, pegou pesado (será?) o Bush. O estranho é que o "comunista" Ciro Gomes diversas vezes no debate elogiou os anticomunistas EUA.

Conceitos à parte, enquanto Ciro dublava Fernando Collor de Mello com um tom professoral o tempo todo (na minha santa ignorância econômica as únicas palavras ditas por ele que me soaram inteligíveis foram "mal e porcamente"), o franco-atirador evangélico Garotinho mirava em todos os inimigos e não acertava nenhum. A bala ricocheteava e voltava. Tiros que saíram pela culatra… Alguém aí acredita no socialismo-Garotinho? O crente fervoroso, escorraçado pelo Brizola do PDT no início de seu mandato de governador do Rio de Janeiro, fez beicinho e carinha de pobre quase esmolando uns trocados a mais para sua campanha, e ainda tentou ensinar o que era coerência política a Lula. O mesmo socialista que estava recentemente com Maluf em fotos de jornais. Na certa, uma montagem. Ou será que Maluf também é de esquerda?

Serra, então, quis mostrar experiência, mas me pareceu mais um novato, colega da mesma creche de Garotinho. Se embananou com as palavras, perdeu o respeito, insistiu na mesma tecla e confessou (tremendo erro) que o presidente é seu amigo. Dize-me com quem andas e te direis quem és. O ditado é antigo, mas cabe. No final, achei que ele fosse chorar. Digno de pena.

Enfim, Lula. Percebi que depois de anos tentando e tentando ele ganhou o respeito de todos. Foi um lorde do início ao fim do debate. Aprendeu de verdade. Quebrou a cara quem achou que aquele que mal consegue falar "déficit" ia se complicar ao tocar em economia. Claro de ponta a ponta. Inteligível e preciso. Tiro certeiro! Me fez pensar em largar a faculdade. Ninguém precisa ter uma para ser uma pessoa culta, capaz de discutir com o presidente dos EUA de igual para igual, quer dizer, de melhor para… deixa pra lá!

O mais triste é que os eleitores ? principalmente a classe média ignorante que elege ? estão preocupados em quem vão apresentar ao mundo: um presidente sem o dedo mindinho ou uma primeira-dama sem cabelo. E como cabelo cresce, o resultado a gente já sabe. Vai dar Globo novamente.

(*) Estudante de Jornalismo