ELEIÇÕES 2002
"Três contra um", copyright Folha de S. Paulo, 5/8/02
"Não existe quase conflito entre Lula, Ciro Gomes e Garotinho. O conflito, com os demais e até consigo mesmo, é todo de José Serra.
Quando Lula pergunta a Ciro diretamente e vice-versa, os dois concordam ou aparentam concordar em tudo. Quando Ciro questiona Garotinho, idem. Entre os três, com poucas exceções, o debate foi assim.
Agora, era José Serra falar e o choque se instalava.
É conhecido o talento do tucano para fazer inimigos por onde passa. No caso, embora Garotinho, Ciro e Lula disputem entre si, parecem ter um só inimigo, o governista Serra.
O tucano, levado à tensão, é capaz de dizer coisas como ?eu sou candidato do meu governo? e não do governo FHC. E aí um adversário, com desprezo, diz que ele ?tem vergonha? de ser governista -que é o contrário de sua estratégia. Até com seu maior eleitor, FHC, o candidato arrumou encrenca.
O debate foi um tiroteio contra Serra, de Garotinho e Ciro, e de Serra contra Ciro -até com algum resultado.
Lula estava só preocupado em não balançar o barco e chegar ao segundo turno.
– Como falar sem dar vexame. Procure o instituto Vida Alves Comunicação.
Era um comercial em meio ao debate. Os quatro pareciam alunos do tal Vida Alves. Falaram bem, sucintamente, com boa projeção de voz.
São todos profissionais, dois com experiência em campanhas presidenciais.
A diferença não foi na voz, na técnica, mas na interpretação. Lula foi vago, mas simpático. Ciro foi contido, mas sedutor. Garotinho foi franco-atirador. Serra foi trêmulo e irritado, às vezes raivoso.
Pequenos recados foram distribuídos pelos presidenciáveis ao longo do debate.
Garotinho falou muito do Rio, onde ainda tem chance de eleger a mulher. Ciro, aflito por se mostrar confiável, repetiu sem parar que foi ministro da Fazenda. Lula, evitando todo comprometimento, falou em Deus, nas mulheres.
Serra, num momento pouco feliz, defendeu o FMI. Paul O?Neill provavelmente assistia, mas ele não vota.
Pelo número e pelo teor das menções, FHC virou um fardo e o ex-presidente Itamar Franco é o novo grande eleitor."
"O DNA da ?Veja? e a bomba da ?Época?", copyright Tribuna da Imprensa, 4/8/02
"Sexta-feira, na rádio CBN, um editor da revista ?Época? dizia que uma ?reportagem-bomba?, que sairia no dia seguinte, derrubaria a candidatura do vice de Ciro Gomes, Paulinho Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.
A ?Veja? desta semana diz assim:
?O vice de Ciro está sendo alvejado por suspeitas que, até agora, se mostraram inconclusivas, extremamente vagas e frágeis, quase beirando a leviandade, mas que já se transformaram em fato político. São suspeitas extremamente aéreas. O caso se assemelha a uma tremenda patuscada?.
A ?Veja? confessa que são ?suspeitas inconclusivas, extremamente vagas e frágeis, quase beirando a leviandade, extremamente aéreas, uma tremenda patuscada?. Apesar disso, ou exatamente por isso, a ?Veja? montou sua principal matéria em cima de chantagem: ?As pedreiras de Ciro?. DNA não falha. O velho DNA da máfia de Milão ultrapassa gerações.
?Época? não sabe, mas diz
A ?Época? desta semana diz assim:
?Segundo o ex-sindicalista Wagner Cinchetto, a oferta de dinheiro (R$ 3 milhões oferecidos pelo assessor do sindicato dos motoristas de ônibus, Marcos Cará, para ele parar de chantagear a Força Sindical) foi feita em dois encontros na semana passada. `Época’ presenciou o primeiro. O outro foi relatado por Cinchetto à `IstoÉ’.
Cinchetto foi orientado pelo procurador Luiz Francisco de Souza a gravar as conversas. `Falei para ele registrar tudo’, confirmou o procurador. Como Cinchetto diz que não gravou a conversa, é possível questionar o que ele falou, é a palavra de um contra o outro. Na sexta-feira à noite, Cará e a mulher invadiram a redação da `Época’, aos gritos?.
Em cima de um encontro, que a ?Época? ?presenciou? mas não ouviu nem sabe o que houve, porque ?não foi gravado, registrado?, a revista também montou retumbante matéria: ?Paulinho na corda bamba?.
Imprensa marrom
Eles chamam a isso imprensa. Quando comecei, há meio século, também se chamava a isso de imprensa. Mas ?imprensa marrom?. Os jornaleiros escondiam as revistas no fundo das bancas. Vendiam, mas com vergonha. Hoje, grandes revistas fazem do jornalismo marrom seu código de ética.
A artrose de Serra
A mesa-redonda da TVE, com jornalistas, professores de política e pesquisadores, na noite de domingo, logo depois do debate entre os candidatos à Presidência da República, destacou, no comportamento dos quatro, sobretudo a surpreendente e inesperada artrose de Serra.
Nervoso, inseguro, irritado com as perguntas, Serra começou o debate com as mãos muito trêmulas. Os dedos chegavam a sacudir, como patas de caranguejos aflitos. Para segurar, Serra passou a enrijecer as mãos e os dedos, que em alguns instantes ficaram enormes sobre a mesa. Parecia uma elefantíase, uma artrose. Ou o que era mesmo, o Zé do Caixão.
Perfeita a síntese da TRIBUNA DA IMPRENSA na primeira página de ontem:
?Serra se perde, Ciro vai bem e Lula acaba vencendo – Lula ficou fora da linha de fogo e acabou se beneficiando. Ciro também se comportou de forma positiva. Garotinho demonstrou sua experiência de comunicador e acabou se sobressaindo, animando o debate com suas perguntas, chegando a tirar a tranqüilidade de Serra. Ciro também conseguiu abalar Serra, que partiu para a agressão. Serra perdeu-se completamente, tendo o pior desempenho?.
O candidato do nada
Os aristotélicos ou tomistas, discípulos de Aristóteles e São Tomás de Aquino, filósofos, professores, estudantes ou simplesmente diletantes, que assistiram ao debate e ouviram Serra dizer que ?não é o candidato do governo Fernando Henrique, mas o candidato do governo de José Serra?, foram levados a um inevitável silogismo.
Primeira premissa ou premissa maior: Serra disse que é o ?candidato do governo Serra?.
Segunda premissa ou premissa menor: ora, não há (nem vai haver) governo Serra.
Conclusão: logo, Serra não é candidato.
E, se não é candidato, o que é que Serra estava fazendo ali?"