CRIANÇAS NA MÍDIA
Seqüestradas em 1? de agosto, duas garotas americanas tiveram seus nomes e fotos divulgados em todos os jornais, sítios de internet e programas de TV para ajudar na busca. Mas assim que Tamara Brooks e Jacqueline Marris foram encontradas, a polícia revelou que elas foram estupradas, o que criou um dilema para a imprensa: como respeitar a política interna de não revelar a identidade de vítimas de agressões sexuais ? ainda mais sendo menores de idade ? se o caso fora intensamente veiculado?
Dana Calvo [Los Angeles Times, 2/8/02] revela que alguns veículos agiram depressa. Minutos depois da declaração da polícia, a ABC News enviou boletim às afiliadas proibindo-as de usar imagens e mencionar os nomes das garotas. A CNN fez o mesmo, embora não pudesse evitar que as fotos aparecessem em programas pré-gravados que seriam reexibidos naquela noite.
Em artigo para a Salon [9/8], Margot Magowan critica a atitude da imprensa de glorificar o feito da pequena Erica Pratt, a menina de 7 anos que conseguiu fugir do cativeiro e ganhou capas de jornais, enquanto tenta esconder Tamara e Jacqueline, "que não foram honradas pela revista Time ou reconhecidas como heroínas nos outros veículos". "O que faz a história delas tão diferente?"
Para a autora, esta política interna de jornais e emissoras de não revelar a identidade das vítimas serve apenas para estigmatizá-las, promover a idéia de que elas têm alguma culpa da agressão que sofreram e reforçar o mito de que as mulheres são fracas e estão traumatizadas demais para decidir se querem ou não contar a sua história. Nesta correria para obscurecer os rostos das garotas nas fotos e apagar seus nomes do jornal, a mídia tentou escondê-las, mas Tamara e Jacqueline não aceitaram tal situação. Segundo Margot, elas foram a programas de TV contar, sem embaraços, a experiência terrível que tiveram.
Pânico induzido
A histeria da imprensa ao cobrir os recentes casos de seqüestro de crianças e adolescentes tem espalhado pânico e ansiedade desnecessários entre os pais. Embora um caso ou outro sempre ganhe certo destaque, o National Center for Missing and Exploited Children estima que 100 crianças americanas são seqüestradas ou mortas todos os anos. Não se trata, portanto, de uma epidemia como a mídia parece gostar de pintar (nas palavras de Bill O?Reilly, da Fox News, este seria um verão "infernal para crianças da América").
Michelle Cottle [The New Republic, 31/7] pondera que é importante alertar o público sobre o desaparecimento de uma criança, mas isto é trabalho para noticiários locais. Ela critica os comentários de âncoras como Larry King e O?Reilly e a cobertura da CNN do funeral de uma garotinha, pois estariam apenas sensacionalizando as tragédias dos outros. "A única epidemia aqui", aponta Michelle, "é o ataque coletivo de ansiedade espalhado por uma mídia irresponsável e desesperada por índices de audiência numa temporada baixa de notícias".