TV / MERCADO
“Receita de meios de comunicação cresceu 14%”, copyright O Estado de S. Paulo, 12/8/02
“O investimento das empresas nos meios de comunicação cresceu 14% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2001, com os valores passando de R$ 8,093 bilhões para R$ 9,249 bilhões, embora em dólares registrem ligeira queda, de US$ 3,736 bilhões para US$ 3,718 bilhões.
Os dados são do Ibope/Monitor e não levam em conta descontos dados aos anunciantes pelos veículos de comunicação.
A montadora Fiat liderou o ranking dos anunciantes, com investimento de R$ 119,2 milhões, um salto de 75% em relação ao primeiro semestre de 2001. Foi esse investimento que levou a montadora a ser escolhida Anunciante do Ano da 35.? edição do Prêmio Colunistas Brasil. Também foi isso que ajudou a Fiat a desbancar a Unilever da liderança do ranking dos anunciantes e, de quebra, superar a Volkswagen em vendas.
Outra surpresa foi a Casas Bahia, que saltou da sexta posição no ranking para a segunda, com investimento de R$ 117,1 milhões, onde se inclui uma das cotas de patrocínio dos jogos da Copa Coréia-Japão pela TV Globo, de R$ 35 milhões.
A Casas Bahia, atendida pela agência de publicidade Bates, manteve acirrada disputa no varejo. Tanto que a concorrente Marabraz, que nem chegava a figurar no ranking dos anunciantes em 2001, ocupou a 15.? posição neste primeiro semestre, com investimento de R$ 60,9 milhões. Em 2001, a Marabraz investiu R$ 12,5 milhões. A Kaiser que também não figurava entre os 30 maiores anunciantes no primeiro semestre de 2001, este ano ficou entre os 10 maiores, com campanhas também criadas pela Bates.
As emissoras de televisão foram as mais beneficiadas pelo investimento publicitário no primeiro semestre, abocanhando fatia de R$ 3,6 bilhões, um crescimentro de 19% em relação a 2001. Já o rádio viu seu faturamento crescer 47%, de R$ 209 milhões para R$ 307 milhões. Os jornais também registraram crescimento, de 11%, com a receita publicitária passando de R$ 2,9 bilhões para R$ 3,2 bilhões.”
“Emissoras declaram crescimento de até 65%”, copyright Folha de S. Paulo, 9/8/02
“Impulsionadas pela Copa do Mundo e pelos ?reality shows?, as principais redes de TV do país declaram ter registrado crescimento nas receitas publicitárias no primeiro semestre deste ano. O aumento varia de 10% (Band) a 65% (Rede TV!). Neste trimestre no entanto, as emissoras passam por um momento de estagnação, provocado pela turbulência na economia e pelas eleições.
A Globo, segundo Octavio Florisbal, superintendente comercial, faturou 12% a mais do que no primeiro semestre do ano passado. O executivo, que prevê um crescimento nominal de 5% no atual semestre, não revela valores. Cálculos sobre dados do balanço de 2001 apontam para uma receita de cerca de R$ 1,25 bilhão.
Também sem revelar valores, Guilherme Stoliar, superintendente comercial do SBT, diz que a emissora cresceu 49%. No mercado, entretanto, circulam estimativas de que o crescimento foi menor, de 20%. O SBT teria alcançado faturamento de aproximadamente R$ 260 milhões.
A Record aumentou suas receitas em 25%, atingindo R$ 150 milhões no primeiro semestre, de acordo com Walter Zagari, principal executivo de vendas da rede. A Band declara ter crescido 10%, mas não fala em cifras.
Já a Rede TV! registrou um impressionante crescimento de 65%. A emissora faturou R$ 75,9 milhões _contra R$ 46 milhões no primeiro semestre de 2001.
Formato
Para não deixar as eleições passarem em branco, o jornalismo do SBT inventou uma variação do que a Globo e a Band vêm fazendo. Os candidatos à Presidência irão participar do ?Jornal do SBT?. Mas, em vez de serem entrevistados, os políticos irão comentar as notícias do dia. Começa segunda, com Ciro Gomes.
Palanque
O ?Jornal da Globo? de anteontem, que entrevistou o presidenciável Joséeacute; Serra, registrou média de 15 pontos no Ibope, mesma performance da edição de segunda, com Ciro Gomes. Na terça, com Lula, a média foi 10.
Níquel 1
O SBT virou sócio da Globo. A emissora fechou negócio para lançar CDs, que envolve a Som Livre, braço fonográfico da Globo. Também fazem parte da operação as gravadoras BMG, Universal, EMI, Warner, Sony e Abril Music.
Níquel 2
Até o final de 2003, serão lançados 26 CDs da série ?Minha Vida, Minha Música?. Serão coletâneas de sucessos e músicas inéditas mesclados com depoimentos dos artistas entre uma faixa e outra. Bruno & Marrone e Alexandre Pires inauguram a coleção.
Cotação
Parece que agora vai. A Record começou nesta semana a fazer orçamentos para produzir telenovelas. O projeto é começar a gravar em dezembro, para exibição a partir de março.”
MERCHANDISING DA VIOLÊNCIA
“Blindem o meu caixão”, copyright Folha de S. Paulo, 11/8/02
“No domingo passado, o apresentador Gugu Liberato, do SBT, dedicou parte de seu programa de auditório a promover a venda de blindagem de automóveis. Foi um filme de terror ao cair da tarde. De dar medo no cachorro da família. Imaginei os telespectadores vendo aquilo e fazendo as contas do que economizar para transformar a viatura familiar num minitanque de guerra. Carro blindado, de acordo com o ?Domingo Legal?, é muito mais que uma necessidade: é um objeto do desejo ou, mais precisamente, do pânico.
O poder de convencimento da mórbida propaganda se articulou em dois atos. Primeiro, foi ao ar a dramatização de um sequestro fictício. Nele, um ?empresário? dirige seu carro pela estrada quando é interceptado por salteadores que atiram contra seu pára-brisa. Rapidamente, engata marcha a ré, sai do cerco, vira a direção e foge, cantando os pneus. Salva-se porque a lataria e os vidros do automóvel são impenetráveis aos disparos dos bandidos.
É possível que o final feliz do nosso ?empresário? tenha deixado uma sensação de alívio na platéia. É possível, também, que, ato contínuo, a platéia tenha ficado apreensiva, muito apreensiva. Para muita gente, o filminho funcionou como ameaça de morte. Seria apenas um clichê malfeito, não fosse a chantagem que ele encerra, bem no estilo da linguagem visual de programas policiais como o ?Linha Direta?, da Globo. Visto por aí, ele veio à tela menos como um quadro fictício e mais como a reconstituição de um crime real. Um tipo especial de reconstituição, pois retrata não o que já aconteceu mas o que certamente vai acontecer com o telespectador. É como se a televisão dissesse: ?Eis aqui, telespectador, a ?reconstituição? de seu futuro. Se você não tiver o cuidado de andar protegido num ?bunker? sobre rodas, será uma presa fácil. Não terá salvação.?
Depois do filminho, apavorante embora chinfrim, veio o segundo ato do merchandising chantagista. Liberato saiu do estúdio e, seguido pelas câmeras, foi até um pátio onde um fabricante de blindagem fez a demonstração de seu produto. Um senhor que se dizia o engenheiro responsável da empresa sentou-se no lugar do motorista enquanto um outro o alvejava com pistolas dos mais diferentes calibres. Suspense. Mais medo. Mais finais felizes. Os projéteis, como dizem os escrivães de polícia, eram todos barrados pelos vidros e pelas portas. O engenheiro responsável, com seus cabelos brancos, saía intacto. Num outro carro, dois manequins de gesso (ou de plástico, não sei), desses manequins de loja, eram perfurados pelas balas. Ali não havia blindagem. Ali a morte pegava carona. Ali estava o carro dos pobres, dos mortais, o carro que o telespectador tem na garagem.
Desliguei a TV. Incrível como a propaganda de blindagem acaba sendo a propaganda da violência. A pretexto de se demonstrar como o sistema é de fato inexpugnável, os vendedores sempre se valem dos mais variados modelos de trabucos, garruchas, mil ferramentas de nos matar. Eu não quero discutir aqui a necessidade prática de se usar um carro blindado em meio à insegurança pública. Pode ser que seja mesmo um recurso razoável, o que não importa. O que eu discuto é a transformação da blindagem num objeto do desejo, um objeto promovido pela indústria do entretenimento convertida em indústria do pânico. A blindagem, como fetiche, será que representa mesmo um canal para o impulso de viver? Ou representa o contrário? Quem sonha com a blindagem não estará sonhando com isolar-se inteiramente de toda estranheza e, no fim, do próprio risco de viver? Não estará sonhando com uma forma de morte? Se a resposta for sim, blindar o carro será o mesmo que blindar um esquife. E morar ali dentro.
Tive uma vontade repentina de blindar a televisão, mas logo desisti.”