Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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TV GUGU

“Gugu Liberato estuda importar novelas latinas”, copyright Folha de S. Paulo, 10/8/02

“Dono de uma concessão de TV no Mato Grosso e de uma produtora que pretende produzir telenovelas no Brasil, o apresentador e empresário Gugu Liberato se prepara para entrar em mais um ramo de negócio: o da importação de dramalhões hispânicos.

Gugu negocia a compra da novela colombiana ?Pedro, el Escamoso?, que vem repetindo o sucesso de ?Betty, la Fea? nos países em que tem sido exibida. Antes mesmo de finalizar a compra, o apresentador está sondando emissoras brasileiras, como a Rede TV! e a Record, potenciais exibidoras da trama _mistura de comédia e drama, definida por publicações latinas como um mulherengo ?fora de seu tempo?, um ?Hércules terceiro-mundista?.

Gugu conta que a negociação por ?Pedro, el Escamoso? empacou por causa da recente alta do dólar. ?Ainda não encerramos as negociações. Mesmo com o dólar a R$ 2,90, o preço continua alto, impedindo o negócio?, afirma.

A intenção de Gugu é oferecer esta e outras novelas já dubladas. A Folha apurou que ele pediu US$ 960 mil por ?Pedro?, sem contar dublagem, taxas e despesas de importação. Como a novela tem 320 capítulos, custaria US$ 3.000 por episódio, mais entre US$ 1.000 e US$ 1.500 pela dublagem. O preço é competitivo para os padrões internacionais e vantajoso para TVs brasileiras _o SBT declara gastar US$ 43 mil por capítulo de ?Marisol?.

Atrito 1

A União TV, entidade que congrega SBT e Band, enviou anteontem carta ao ministro das Comunicações, Juarez Quadros, pedindo prorrogação por mais 60 dias do prazo para apresentação de críticas e sugestões ao anteprojeto de lei que regulamenta o capital estrangeiro na mídia.

Atrito 2

O período para comentar o anteprojeto começou no dia 29 e acaba no dia 15. A União TV acha pouco. E, reservadamente, critica a proposta, por não impor limites à propriedade cruzada de veículos de comunicação, o que favoreceria a Globo.

Areia 1

Foram finalizadas nesta semana as negociações, incentivadas pelo ministro Sérgio Amaral (Desenvolvimento), para divulgar produtos brasileiros na novela ?Vale Todo?, co-produção da Globo para a rede hispânica Telemundo, em exibição nos EUA.

Areia 2

A telenovela terá 12 ações de merchandising, que custarão R$ 1 milhão. Serão criadas situações em que personagens aparecerão, por exemplo, falando bem do biquíni brasileiro.

Flop

Mesmo com realismo e alguma repercussão, as cenas em que a personagem de Ana Paula Arósio destrói uma estátua e fere Reynaldo Gianecchini não alavancaram o ibope de ?Esperança?, que registrou 40 pontos anteontem.”

 

11 DE AGOSTO

“No campus de concentração”, copyright Jornal do Brasil, 11/8/02

“Graças à vigilância da imprensa, a sociedade brasileira sabe que as universidades federais estão na maior pendura. O caso mais dramático envolveu a Light, que, renunciando a antigas delicadezas, simplesmente cortou a energia do campus da UFRJ.

Este domingo, porém, especialmente em São Paulo, como reza o costume, é dia de outra pendura previamente remida. Universitários de Direito irão aos restaurantes comer de graça. Mas ocultarão a identidade. O Diretório Acadêmico XI de Agôsto, que faz questão de manter até o acento circunflexo em agosto, na luta por conservar as boas tradições, recomendará aos novos que cultivem o hábito já secular. Não se desconhece, sobretudo entre homens da lei, a força do hábito, que não faz o monge, mas ajuda na aparência. Afinal, distinção no vestir é uma das condições para a ciência jurídica não ir para o beleléu.

A origem do costume remonta à primeira metade do século XIX, quando foram criados os primeiros cursos de Direito no Brasil, exatamente no dia 11 de agosto de 1827. Naquele tempo, São Paulo não era mais que uma pequena vila, com alguns poucos milhares de habitantes. Pensões foram improvisadas em casas de família, advindo do novo costume uma salutar convivência democrática, que as repúblicas estudantis infelizmente baniram. Com efeito, os universitários mesclavam-se a boêmios, vendedores, garçons, artistas e profissionais à procura de emprego. O nascente império brasileiro movimentava o comércio paulistano e as famílias tinham no acolhimento dos estudantes uma fonte de renda complementar. Como se vê, a economia informal vem de longa data.

Muitos acadêmicos, filhos de grandes proprietários rurais, eram também bons clientes das lojas. E no princípio a ?pindura? (grafia preferida pelos estudantes) não foi esbulho, arresto ou coisa parecida. Ao contrário, nasceu de uma das delicadezas do século XIX, a hospitalidade. Donos de casas gastronômicas passaram a oferecer refeições gratuitas no dia 11 de agosto com o fim de celebrar a criação da Academia de Direito. Em retribuição, os estudantes penduravam a conta na porta do estabelecimento, como forma de demonstrar que aquele local homenageara os famintos alunos. Era uma insígnia, uma distinção, um louvor, uma summa cum laude. Afinal, dar de comer aos famintos, além de preceito evangélico e mote de propaganda política, é gesto humanitário que vai muito além de religiões e ideologias.

Mais tarde, rebaixados os nobres motivos da ?pindura?, ela deixou de ser magnânima e tornou-se compulsória. No lugar da antiga cortesia, foi instituído o confisco. Senhores de lábia incomum, transviados filhos do Direito, transformaram-se em operadores espertos que, por conhecerem a lei, passaram a acreditar que estavam acima dela.

Entre tantas perdas, entretanto, os acadêmicos do Largo de São Francisco, geração após geração, cultivam a ?pindura?. Hoje, em vários restaurantes paulistanos, quando o garçom que teve a subida honra de servir tão ilustres comensais chegar à mesa com a conta ouvirá os esperados ou surpreendentes versos, dependendo do grau de disfarce dos confiscadores: ?Garçom, tira a conta da mesa/ e põe um sorriso no rosto/ seria muita avareza/cobrar no ?XI de agosto?.?

A Light que tire a carranca do rosto e reflita se não foi muita avareza cobrar a UFRJ justamente em agosto, fazendo o reitor Carlos Lessa pagar o pato com tanto desgosto. Dublê de escritor e professor universitário, as brigas do ministro Paulo Renato de Sousa me parecem briga de marido e mulher: há o ponto de vista do marido, o da mulher e o correto. Lamento de todo modo, porém, inconformado, a perda de certas delicadezas que houve outrora entre o poder e o saber, excetuadas naturalmente as escuras noites de tantos arbítrios. (Deonísio da Silva (teresa97@terra.com.br) escreve nesta página aos domingos)”

 

MEMÓRIA / FERREIRA NETTO

“Ferreira Netto morre aos 64 anos”, copyright Comunique-se, 5/08/02

“O jornalista paulistano Joaquim Ferreira Netto morreu, aos 64 anos, na noite deste domingo (04/08), de falência múltipla dos órgãos. Ele havia sido internado no Hospital Igesp, em Bela Vista (SP), há três semanas, depois que caiu em casa e bateu com a cabeça. Apesar de ter sido operado para drenar um hematoma do cérebro, ele acabou apresentando uma doença crônica no fígado, que provocou sua morte.

Ferreira Netto apresentava o ?Programa Ferreira Netto?, na CNT, com debates entre personalidades da política, relações internacionais e economia.

Ele começou a carreira no jornal O Dia, como repórter. Passou pelo Correio Paulistano, Diário da Noite, Diário de São Paulo, Jornal do Brasil, Folha da Tarde, entre outros, além das revistas Manchete e Amiga.

Mas a experiência não se limitou apenas a imprensa escrita. Além de trabalhar nas principais redações de TVs, também passou pelas rádios Tupi, Jovem Pan, e muitas outras.

De tanto gostar de política, acabou se candidatando a senador pelo partido PRN, mas perdeu para Eduardo Suplicy (PT).

O programa ?Ferreira Netto? estreou na TV Record, em 1978. Sempre obedecendo o mesmo formato, passou pelo SBT, Rede Bandeirantes, Abril Vídeo, TV Gazeta, Rede Mulher, Rede Manchete e, recentemente, pela CNT.

Em 1981, ele mediou o primeiro debate da TV brasileira com os então candidatos ao governo de São Paulo Franco Montoro e Reynaldo de Barros.

Tanto trabalho e dedicação foram reconhecidos quando ganhou os prêmios de jornalismo Roquete Pinto, Governador do Estado, Troféu Imprensa, Associação Paulista dos Críticos de Arte, Troféu Bandeirantes e Homem de Visão.

O corpo de Ferreira Netto será velado nesta segunda (05/08) na Assembléia Legislativa de São Paulo e, depois, cremado no Crematório de Vila Alpina, na Zona Leste da cidade.”