Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

No ar, a próxima atração da campanha

PROPAGANDA GRATUITA

Chico Bruno (*)

Terminou uma etapa da campanha presidencial. Nesta fase, os candidatos se esforçaram ao máximo em criar fatos políticos para abastecer o dia-a-dia da mídia. Valeu tudo, principalmente porque a pesquisitice exagerou em sua atuação e os recursos financeiros se tornaram escassos em todas as campanhas, sem exceção, pela primeira vez na história das eleições brasileiras.

Este período de buraco negro, entre as convenções e o início do programa eleitoral na televisão, foi marcado por muitas trapalhadas, com exceção da campanha de Lula, que se manteve olímpica, como rezam as cartilhas do marketing eleitoral para os primeiros colocados na intenção dos votos.

Nem mesmo a atitude inovadora das redes de televisão, que abriram seus microfones para entrevistas e debates, fez com que a campanha se tornasse mais atraente para os eleitores, principalmente os das classes C/D/E. A campanha nesta fase foi morna, e a cobertura da mídia também se manteve nesta temperatura, sem se arriscar a subir o tom da campanha. Os colunistas de política tiraram leite de pedra para escrever dia após dia suas colunas.

Já está no ar próxima atração da campanha, o horário gratuito eleitoral, que vai ao ar espremido entre o Jornal Nacional e a novela das oito da noite na rede de maior audiência do país. Quem tem experiência de coordenação da propaganda gratuita de muitas campanhas passadas afirma que o horário é muito mais uma potente arma de destruição do que de construção de candidaturas. Estes profissionais elencam um sem fim de situações que comprovam sua avaliação e afirmam que é a partir de agora que começa verdadeiramente a campanha eleitoral de 2002.

A previsão é que Lula mantenha mais ou menos a postura de até agora, com a clara intenção de assegurar sua vaga num segundo turno. Pelo que se conhece de seu marqueteiro, o programa do PT vai abusar da forma, em detrimento do conteúdo, e transbordar de emoção.

Ciro Gomes vai abrandar suas propostas de mudança do modelo econômico, retirando os excessos cometidos nesta fase de campanha. Seu discurso deverá se assemelhar ao de Collor, em 1989, no horário eleitoral. Vale ressaltar que não se está fazendo uma comparação Collor/Ciro. O que se analisa é que, partindo da premissa do que espelham as últimas pesquisas, o candidato vai evitar ao máximo responder às provocações.

Pouco denuncismo

José Serra vai colar o presidente Fernando Henrique a sua campanha, seguindo uma tendência, já explicita, nos novos outdoor que estão sendo veiculados em todo o país, mas sem perder de vista que precisa ultrapassar o adversário Ciro Gomes, mostrando aos eleitores o perfil que sua campanha traçou do principal concorrente. Quem sabe se tenha como atração do programa do PSDB os personagens Ciróquio e Odociro Paraguaçu.

Finalmente, Garotinho vai partir para se apresentar como um realizador, usando o horário eleitoral para se tornar conhecido no resto do país, seguindo a máxima de que quem o conhece o aprova. Como exemplo, seus índices de aprovação no Rio de Janeiro. Além disso, Garotinho vai repetir sua campanha de 98 para o governo do Rio, mais ou menos afirmando que o melhor governador do Rio de Janeiro será o melhor presidente do Brasil.

A próxima atração da campanha eleitoral tem tudo para abiscoitar altos índices de audiência, como também tem tudo para embaralhar a disputa entre os quatro candidatos a presidente. Portanto, é pagar para ver, pois não dá para arriscar palpite. Neste páreo não tem barbada, e é por isso que as lideranças políticas e os institutos de pesquisa estão com os nervos à flor da pele: será difícil explicar qualquer mudança brusca de intenção de votos. É o risco que correm pelo excesso de pesquisite desta campanha eleitoral.

A mídia, a partir de agora, vai cobrir fatos concretos, retirados dos programas dos candidatos na televisão e no rádio. Vai deixar em segundo plano o noticiário que até aqui consumiu milhões de segundos e centímetros/coluna, composto de declarações estapafúrdias de candidatos, de muita pesquisa e pouco denuncismo. Aliás, a falta de grampos e dossiês foi o ponto alto da cobertura da mídia nesta fase da campanha. A campanha eleitoral deste ano está demonstrando que finalmente a relação política x mídia amadureceu.

(*) Jornalista