JORNALISTA OU TESTEMUNHA?
Jacky Rowland, correspondente da BBC em Belgrado de outubro de 1998 a janeiro do ano passado, concordou em testemunhar contra o ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic no tribunal de crimes de guerra em Haia. Rowland será interrogada sobre o que viu numa prisão em Istok, em Kosovo, em maio de 1999; os sérvios alegam que a cadeia foi bombardeada pela Otan, causando a morte de prisioneiros, mas a jornalista contou que não foi possível confirmar como os detentos morreram.
Matt Wells [The Guardian, 20/8/02] lembra que repórteres divergem sobre testemunhar em tribunais. Alguns afirmam que isso compromete a segurança de colegas em áreas de conflito. Jonathan Randal, ex-correspondente do Washington Post, inicialmente se recusou a depor no julgamento do nacionalista sérvio Radoslav Brdjanin, que entrevistara em 1993. A Justiça, no entanto, derrubou seu recurso em junho, afirmando que o jornalista pode ser interrogado sobre o que publicou.
Rowland justificou a decisão de testemunhar: “Vejo isso como um dever, não como algo de que possa me esquivar. O que nos coloca numa categoria ética tão diferente dos outros? Eu não acredito realmente nessa história de risco para os jornalistas. A vida é perigosa para nós de qualquer forma, e na era da notícia 24 horas as pessoas provavelmente estão mais preocupadas em tirar nossas fitas e equipamentos imediatamente do que em pensar que você pode testemunhar contra elas num tribunal três anos depois.”
Martin Bell, outro ex-correspondente da BBC que já depôs na Justiça, concorda. “Acho que seu dever como cidadão vem antes do dever como jornalista. Se você é testemunha de um crime ou de seus efeitos e conseqüências, o que deveria fazer? Nada?”
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Após apurar que algumas celebridades foram pagas por companhias farmacêuticas para promover remédios na TV, as emissoras CNN, ABC e CBS decidiram revelar ao público as ligações financeiras de seus entrevistados com os laboratórios. Conta Melody Petersen [New York Times, 23/8/02] que tal estratégia de divulgação já se tornou comum, e envolve atrizes consagradas como Lauren Bacall e Kathleen Turner. Esta última, que luta contra uma artrite reumatóide, é patrocinada pela Amgen e Wyeth, fabricantes da droga usada em seu tratamento.
A CNN exibiu entrevista com Kathleen em 11 de agosto. Apesar de ela não ter mencionado o nome da droga, a rede resolveu, no dia seguinte, lançar a nova política de declarar aos telespectadores a ligação financeira entre laboratórios e artistas convidados. A ABC disse também estar atenta ao assunto desde que a mesma atriz foi ao Good Morning America em fevereiro promover o sítio de internet da Amgen e Wyeth; as companhias alegam que pretendem informar melhor o público sobre a doença e convencer as pessoas a procurarem o médico.
Marcy McGinnis, vice-presidente da divisão de notícias da CBS, afirma que os produtores do Early Show falharam ao não investigar a relação entre a cantora Ann Wilson, da banda Heart, e a Inamed, companhia que fabrica produtos para obesos. Ann usa uma cinta de silicone que envolve o estômago, colocada cirurgicamente, e é paga pela Inamed para divulgá-la, através de uma firma especializada em criar campanhas de marketing com celebridades para a indústria farmacêutica. No programa que foi ao ar em 18 de julho, Ann não deixou de elogiar o produto.