POLÊMICA DO DIPLOMA
Gerson Martins (*)
A responsabilidade social do jornalista impõe certas diretrizes que são apreendidas com um estudo sério, de alta qualificação e num período de tempo superior a um ano.
Contudo essa condiçccedil;ão sofre o risco de ser definitivamente abandonada pelo malogro judicial de um entendimento parcial e superficial do processamento da informação. Em razão disso criou-se um profissional precário. Nesses termos é muito importante buscar o Aurélio e entender o que significa "precário". Antes, porém, quero destacar que a denominação "precário" foi inteligente e providencial. Agradecemos, sinceramente, essa denominação. Ela expressa corretamente a condição do pseudoprofissional.
Segundo o Aurélio, precário quer dizer "que não é estável ou seguro; incerto, duvidoso; minguado, difícil; frágil, débil". Dessa forma podemos concluir que o jornalista precário é um jornalista incerto, débil, instável, frágil. As empresas de comunicação, a mídia com toda certeza não contrata seus potenciais profissionais nessas condições. Embora se trate de pura especulação de lingüística, essa conceituação traduz a realidade dos fatos.
No mercado em que atua o jornalista profissional as empresas de comunicação de forma generalizada contratam apenas jornalistas profissionais diplomados; mesmo aquelas que apregoam, enfatizam e até mesmo fazem campanhas contra a necessidade do profissional diplomado têm, em seus quadros, apenas profissionais diplomados. Por quê? Todas têm consciência da qualificação e das condições desses profissionais, e não estão dispostas a arriscar ou, mais ainda, em investir mais recursos ? do que investem hoje ? para treinar profissionais sem as condições mínimas de trabalho, segundo essas empresas.
Se esta condição é generalizada podemos concluir ? e os registros nas Delegacias do Trabalho confirmam ? que os jornalistas precários são aqueles que não têm competência para a aprovação num vestibular, pois a maioria dos novos jornalistas precários é oriunda de atividades marginais do jornalismo. A ansiedade em adquirir o título de jornalista usando atalhos não-qualificados resulta nessa condição. O caminho natural para conquistar a designação de jornalista por meio da formação universitária torna-se inacessível pela ausência de condição intelectual necessária, ou seja, aprovação num processo seletivo (vestibular) proposto pelas instituições de ensino superior.
Situação temporária
Como condição de profissional de formação superior ? e somente essa disponibiliza condições mínimas para preparar adequadamente esses profissionais ?, a responsabilidade social que impõe denota a seriedade e a competência que os cursos de preparação devem possuir. A estrutura escolar brasileira impõe por si mesma as condições de qualidade do processo de ensino-aprendizagem em todas as profissões regulares no país. Nesse sentido não nos compete nesse momento julgar a qualidade deste ou daquele curso, desta ou daquela escola. Não obstante esse fato, os campos profissionais que se definem na estrutura escolar do país exigem a formação superior quanto maior a responsabilidade social que se lhes imputa. Conhecemos inúmeros casos de uma imprensa, de um trabalho jornalístico que resultou em destruição de famílias, instituições, empresas, pessoas. Imaginemos essa possibilidade nas relações de profissionais que não tenham uma formação mínima adequada.
Pessoalmente acredito que a principal disciplina num curso de jornalismo é Ética Jornalística. Afirmo sempre aos colegas, alunos e amigos que se um profissional de jornalismo não se conscientizar da importância dos procedimentos éticos, da importância da consciência de sua classe, de seus direitos e deveres no espaço, no tempo dessa disciplina, então, dificilmente vai conseguir atuar como profissional qualificado e eticamente consciente. Já observei inúmeras vezes estudantes de Jornalismo que adotam como norma de conduta a conhecida frase espanhola "Se hay gobierno, soy contra", denotando comportamento essencialmente "anarquista" no aspecto de desorganização e simples contrariedade a tudo. Esses mesmos estudantes, posteriormente, como profissionais adaptam-se a todas as estruturas organizacionais e "rezam a cartilha" empresarial. Há aí um processo totalmente oposto. Tornam-se mascaradores e manipuladores da realidade. São maus jornalistas. São profissionais aéticos.
O profissional de jornalismo tem uma responsabilidade social muito ampla e profunda. Não podemos brincar de produzir informações ou continuar a elogiar nossos amigos pela mídia. Alguém admitiria um profissional da área médica sem condições de clinicar ou realizar uma cirurgia? Admitiríamos um profissional da área jurídica sem conhecimentos suficientes para defender uma pessoa? Admitiríamos um profissional da área de engenharia sem informações mínimas para garantir que uma edificação depois de concluída não venha ruir? E por que um profissional que trabalha com informação, com a produção da informação, que pode também destruir pessoas com uma informação falsa, alterada ou manipulada não necessite estar adequadamente preparado? É! Se esse não for o entendimento creio que vou solicitar meu registro como médico e clinicar "por aí!".
O registro de jornalista precário é obtido com base na liminar da juíza Carla Rister, que suspende a necessidade do diploma de curso superior em jornalismo para o exercício profissional. Apesar de ser uma situação temporária, várias pessoas, sem conhecimento devido do jornalismo e de sua responsabilidade social, requerem o registro como jornalista. Esses registros obtidos pela força da liminar serão anulados assim que ela perder a validade. Aqueles cidadãos que buscam ser profissionais do jornalismo devem, de forma coerente com as características da profissão, buscar a formação universitária em jornalismo para assim, de fato e de direito, ostentarem a designação "jornalista".
(*) Jornalista, professor de Jornalismo