PROFISSÃO PERIGO
Cobrir tráfico de drogas na fronteira do México com os Estados Unidos é uma ousadia que custou a vida, de 1995 para cá, de 20 jornalistas mexicanos, fora os 40 atentados registrados. Nenhum caso foi resolvido: os barões da droga continuam impunes, segundo telegrama da AP de 3/9. Robert J. Cox, presidente da Associação Interamericana de Imprensa, com sede em Miami, viajou a Tijuana, cidade fronteiriça do México, para comandar seminário sobre o assunto que reuniu mais de 100 jornalistas do México, dos EUA, da Colômbia e de países da América Central.
Cox, editor-assistente do The Post, de Charleston, Carolina do Sul, cobrou das autoridades mexicanas a proteção dos jornalistas e a condenação dos culpados. A maioria dos mortos trabalhava em Tijuana (quartel-general do maior cartel local de drogas, a Organizaciones Arellano Félix) ou Ciudad Juarez (onde ainda é forte o cartel local), ambas na fronteira com El Paso, Texas. José Luís Soberanes, presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos do México, informou que dezenas de prisões são feitas, mas raramente chefões são indiciados.
Em breve discurso lido, o procurador-geral do México, Rafael Macedo de la Concha, prometeu que a polícia vai se esforçar mais. Ele ouviu em seguida os depoimentos de dezenas de jornalistas afirmando que a polícia recebe propina dos cartéis em aldeias e cidades na fronteira dos estados de Baja California, Sonora e Coahuila. Para José Santiago Ealy, do diário El Universal (Cidade do México), vice-presidente da Comissão Mexicana para a Liberdade de Informação, um meio de proteger os jornalistas da fronteira é assegurar que seus informes cheguem ao público no México e nos EUA.
"Os criminosos vão pensar melhor antes de atacar profissionais da imprensa", disse. "Vão saber que suas agressões serão conhecidas em vários países, e a impunidade assim chegará ao fim." A semelhança com o caso Tim Lopes parece acabar aqui: aos "Elias Malucos" de lá pouco importa a divulgação de seus crimes.
Ned Zeman, repórter da Vanity Fair, foi ameaçado por um homem armado num carro escuro que emparelhou com o seu em Los Angeles, conta David Carr, em matéria no New York Times de 4/9. "Pare o que você está fazendo", gritou o homem. Zeman apurava matéria sobre o ator Steven Seagal, que acusa a Máfia de extorsão, num caso sob investigação federal.
É o segundo jornalista ameaçado por escrever sobre o assunto: em junho, Anita Busch, do Los Angeles Times, teve seu carro abalroado por outro, e um peixe morto foi jogado do capô, com um bilhete: "Pare." Nada aconteceu, porém, a outros jornalistas que cobrem o caso. "Nossa repórter foi ameaçada", disse o porta-voz do LAT, "e tomamos medidas para protegê-la".
Zeman também está sob proteção, por iniciativa da polícia e da Vanity Fair. Em Nova York, Julius R. Nasso, produtor de cinema, foi acusado de conspirar com a Máfia para extorquir Steven Seagal. Os dois foram parceiros em produções como Força em alerta e Duro de matar. A matéria de Zeman, publicada na Vanity Fair que foi às bancas no dia 4/9, sugere que a relação entre os dois acabou quandp Seagal se tornou budista, e passou a se recusar a fazer filmes de violência.