Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Greve no France Soir

FRANÇA

Na sexta-feira passada, pelo terceiro dia consecutivo o tradicional diário France Soir não foi às bancas. Sua redação está em greve, em protesto contra o corte de 40% dos custos imposto por seu atual controlador, o grupo intaliano Poligrafici Editoriale. Segundo a direção, o jornal tem prejuízo mensal de 1 milhão de euros (perto de US$ 1 milhão).

Está longe a época em que o tradicional vespertino francês vendia 1,5 milhão de exemplares por dia em seis edições, e abrigava os melhores cérebros do país, como Jean-Paul Sartre, que em suas páginas publicou a famosa reportagem sobre a Cuba pós-revolucionária. Hoje, matutino, vende pouco mais de 100 mil cópias, uma edição nacional e outra parisiense.

Poligrafici Editoriale afirma ter inventido uns "300 milhões de francos" (45 milhões de euros), após a aquisição, em dezembro de 2000, e quer estancar a hemorragia, segundo José Barroso, no Le Monde de 12/9. O caderno semanal parisiense já foi cancelado. Agora, a empresa vai reduzir o pagamento de artigos de 52 mil euros a 35 mil euros por mês, o número de jornalistas freelance (que hoje são 22). A redação tem apenas 50 jornalistas, depois do corte de 56 no ano passado.

Le Monde conta que a redação reclama de ter que brigar para ir à rua fazer reportagem. "Nos pedem para trabalhar com material de agência", lamenta um jornalista. "Mudam o formato gráfico a cada 15 dias, fazendo o leitor fugir", reclama um diagramador. "Graças a nós, conseguiram o contrato com o Metro (300 mil exemplares do diário gratuito são impressos nas rotativas do France Soir em Aubervilliers, perto de Paris) e contratos de publicidade", denuncia outro empregado.

No Brasil, causaria escândalo o assunto central do tradicional jantar organizado anualmente em Paris pelo diário Humanité, para 100 dirigentes de empresas de comunicação e diretores de jornais da França, que teve lugar quinta-feira passada, 12/9: a ajuda do governo à imprensa nacional francesa.

O ministro da Cultura e da Comunicação, Jean-Jacques Aillagon, falou pela primeira vez do tema desde que assumiu. Ele disse que "o futuro da imprensa é do maior interesse" e antecipou algumas medidas para acalmar o setor. No orçamento de 2003 os financiamentos de 2002 ? cerca de 68 milhões de euros ? "deverão ser reconduzidos", anunciou. O governo não exclui mudanças na divisão do dinheiro. Por exemplo, um favorecimento à Agence France-Presse (AFP). Preocupado com a frágil situação financeira da AFP, o ministro disse que pode vir a ser criado um contrato de "objetivos e meios", como o que já vigora com a TV pública, permitindo que a empresa se estabilize.

"No momento de uma intervenção americana no Iraque, a AFP parece importante para o equilíbrio democrático da informação no mundo", disse o ministro. Afinal, ter cuidado com a liberdade de informação é tradição francesa, não importa que o governo seja de direita.

O anfitrião, Patrick Le Hyaric, diretor do diário comunista L’Humanité, manifestou sua preocupação com o contexto econômico atual ? receitas publicitárias em baixa, custos de produção e distribuição em alta ?, sem esquecer "a crise política, que tem conseqüências negativas na difusão de jornais". O ministro respondeu que será "evidentemente mantida" a ajuda "aos diários nacionais com fracos recursos publicitários". Nada como uma democracia antiga.

Dois terços da população querem a pornografia proibida na TV, seja aberta ou por assinatura, revelou pesquisa da CSA, entidade que vigia a televisão francesa, publicada no diário Le Parisien. Segundo matéria da Reuters [6/9], 76% das mulheres e 51% dos homens acham que a TV está sexualmente explícita demais; 64% querem a proibição dos filmes pornográficos, enquanto 35% são contrários à proibição.

Cerca de 950 filmes de violência e pornografia são exibidos por mês na TV. A imprensa tem destacado o aumento dos casos de estupro em gangues de jovens e os depoimentos de psicólogos atribuindo esse aumento a filmes com cenas de abuso sexual. "Seria simples aplicar a lei para proibir esses filmes, o que evitaria que jovens vissem na tela imagens que os envenenam numa idade em que estão formando sua identidade sexual", disse Christian Jacob, ministro da Família. Antes de agir, o governo aguarda relatório encomendado a uma comissão de notáveis, mas também conta com a iniciativa da própria TV. Vários canais a cabo, entretanto, planejam exibir mais filmes pornô, para aumentar a audiência.