Todos os dias ao ligar a TV nos deparamos com um mundo colorido e dinâmico, as imagens seduzem. É quase irresistível almoçar sem ver televisão, ou jantar, ou quem sabe lanchar à noite. Mas, de uns tempos para cá, e estou falando de uns 12 anos atrás aproximadamente, as programações foram ficando cada vez piores. Repetitivas e muito pouco criativas. Investiu-se muito em violência, sexo e culto ao estrelato. Rapidamente, essa forma de fazer televisão se alastrou como uma praga. Quem viu?
Sem dúvida a televisão pode alienar, ou seja, nos jogar num outro mundo, sem que haja tempo de pensar. E talvez sua função/invenção não tem sido mesmo a de fazer o ser humano pensar, mas de fazer a gente se divertir. Principalmente divertir.
Nunca é tarde para lembrar que a baixaria é coisa recente no mundo televisivo. Há pouco mais de uma década não se via essa invasão do grotesco, do ridículo e do vale-tudo. Não em doses tão maciças. Também não se viam apresentadores com o dedo em riste jogando em nossa cara a violência mais descarada. Pura imposição a qualquer preço, a fim de alavancar a audiência custe o que custar. Evidentemente que o financiamento da TV no Brasil é um problema sério e merece discussão. O que não vale a pena é dar vazão ao experimentalismo barato, tentando-se de tudo para chamar a atenção do telespectador. Uma emissora, recentemente, pedia aos telespectadores que piscassem as luzes de suas casas para mostrar sua indignação, por exemplo, com a greve do INSS. Os pobres telespectadores nada mais fazem do que garantir alguns minutos preciosos de audiência. E, além disso, podem ver a sua casa, do alto, sendo filmada pelo helicóptero. É possível forjar a inocência.
Criam-se padrões estéticos, depois vemos no que dá. No caso da programação voltada para jovens pouca inovação se vê. Falta também criatividade. Um programa por exemplo, como o de João Gordo, na MTV, é um retrato fiel da esculhambação. O apresentador desrespeita seus convidados, fala palavrões quase o tempo todo, diz o que quer e o que não quer. E aí? Pode? Quem disse que não pode? A caretice é o faz-de-conta, a repetição de fórmulas que não servem para a TV.
O colorido da vida
A televisão é um veículo fantástico. Pode inclusive ensinar. Inclusive educar. Sem os preciosismos desta nossa época decadente. Só para lembrar, dia desses, no programa Boa Noite Brasil, da Bandeirantes, esteve lá o ator Alexandre Frota. O intuito era mostrar os escândalos nos quais, em tese, ele teria se envolvido. Tudo isso com os comentários do próprio e também do apresentador. Com música sensacionalista de fundo, aparecia ‘Escândalo número 1’, ‘Escândalo número 2’ e assim sucessivamente, até chegar ao décimo. Todos comentados um a um. Apenas maus exemplos, há que se destacar.
Pensei comigo, por que eles não chamam um médico desses que salvam vidas em resgates, para mostrar, por exemplo, ‘Sucesso número 1…’ e assim por diante? Este é o ponto a que chegamos. Celebridades e o que elas fazem valem mais do que gente que salva vidas. Essas talvez um dia apareçam em campanhas de solidariedade que todo ano acontecem – pelo menos uma vez por ano – e que têm cobertura da mídia.
É uma pena que um bando de gente que faz televisão tenha resolvido calar a criatividade brasileira. Mas, como não sou pessimista ao extremo, ainda acredito numa saída. Tomara que possamos novamente, o mais breve possível, ver o colorido da vida na mais simples espontaneidade, estampada nas telas de nossas TVs. Isto, sim, pode tirar a televisão do atraso em que a colocaram.
******
Professor de Filosofia