RETORNO À DITADURA
Victor Gentilli
A Folha de S. Paulo deu uma nota discreta. Foi só. Os demais jornais silenciaram. Mas os fatos são assustadores. Na quinta-feira, 3 de outubro, a Polícia Militar de Goiás invadiu um dos campi da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, e ameaçou fechar a Rádio Universitária. Na Avenida Goiás houve conflito aberto, que lembrava tempos que pareciam sepultados no passado. O motivo: cumprir ordens do governador Marconi Perillo de impedir a divulgação do livro Dossiê K, de autoria do jornalista e radialista Jorge Kajuru. O livro é um conjunto de denúncias sobre irregularidades e atividades de corrupção praticadas pelo governo. O campus II da universidade foi tomado por policiais, que chegaram a retirar à força exemplares de livros portados por estudantes.
No caso da emissora de rádio, a ameaça se deu pela Polícia Federal sob o argumento que o debate que promoviam feria a legislação eleitoral. Mas os policiais não apresentaram nenhum documento. Inicialmente, desejavam fechar a rádio. Depois, solicitaram as fitas com a gravação do programa. Os responsáveis pela emissora não entregaram as fitas: nada comprovava que se tratava efetivamente de ato oficial. Somente o Tribunal Regional Eleitoral poderia fazer este tipo de solicitação. De acordo com informações não confirmadas até o fechamento desta edição, a rádio teria sido multada.
A Rádio Universitária da Universidade Federal de Goiás é uma das emissoras mais tradicionais do país, preservando equipamentos e instalações físicas dos tempos áureos do rádio. Fica no centro da cidade de Goiânia. Certamente é a única rádio universitária brasileira a contar um auditório ? mais uma herança dos velhos tempos. E talvez seja a única rádio no Brasil que, embora com pouca freqüência, ainda promova programas de auditório.
A violência da polícia é injustificável. A ameaça de fechamento de uma emissora universitária é inaceitável.
Veja também