AL-JAZIRA
O estúdio da rede não podia estar numa posição geográfica melhor: localizado a 64 quilômetros da base área de Al Udeid, o provável alvo dos ataques americanos contra o Iraque, a al-Jazira promete superar as rivais do Ocidente na cobertura da provável guerra. O editor-chefe Ibrahim Helal conta que mantém três correspondentes na sucursal de Bagdá, inaugurada em 1998, uma das únicas no Iraque até o país ter recentemente liberado a entrada de outras redes. E Helal assegura: a al-Jazira não vai dar à CNN a chance de ter exclusividade na cobertura, como em 1991.
Segundo Jane Perlez [New York Times, 23/9/02], o canal do Catar provoca as mais diversas reações em todo o mundo: nos EUA, há quem condene a programação, afirmando que os apresentadores se referem aos seqüestradores de aviões do 11 de setembro como mártires. Alguns diplomatas, no entanto, acham que a emissora é um modelo que deveria ser imitado por outras estações árabes, ainda sob rígido controle governamental. Mas os programas exibidos também incomodam nações árabes: a Jordânia recentemente fechou a sucursal da rede no país, e só não interrompeu a transmissão devido à popularidade do canal.
A contragosto, as empresas jornalísticas do Ocidente admitem que a al-Jazira tem acesso a furos que elas jamais teriam, como a entrevista com Ramzi bin al-Shibh, militante da organização de Osama bin Laden. Helal desdenha de quem procura ligações entre a exibição da matéria e a prisão do terrorista, ocorrida dias depois. "Agora somos acusados de ser um instrumento americano. É tão insano quanto dizer que somos uma ferramenta da al-Qaida."
PALESTINA
Salah Elayan, assessor do presidente do Parlamento Palestino, Ahmed Qurei, foi preso e libertado sob fiança devido a queixa do repórter Khaled Abu Toameh, do Jerusalem Post. Pelo telefone, ele teria ameaçado diversas vezes o jornalista, que publicara matéria afirmando que Qurei teria pedido uma audiência com o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon para discutir o cerco das Forças de Defesa de Israel ao quartel-general de Yasser Arafat em Ramallah.
Segundo Toameh, Elayan teria ligou, negou o pedido de audiência e "começou imediatamente a fazer ameaças". Como o repórter teria desligado, o assessor teria feito várias chamadas para seu celular, com o mesmo tipo de amedrontamento. Poucas horas após esse episódio, outro assessor, Firas Yaghi, teria chamado dizendo que a matéria "feriu a dignidade de Qurei e o apresentou como alguém que está se humilhando perante o primeiro-ministro israelense". O repórter conta que, após conversar com diversos colegas ? dos quais muitos também já haviam sofrido ameaças -, resolveu ir à polícia.
Em entrevista ao Jerusalem Post [24/9/02], Toameh afirma que a intimidação de jornalistas é muito comum na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Especialmente nos últimos anos, os profissionais de imprensa estariam enfrentando situações de risco de morte. "É por isso que muitos deles, particularmente equipes de TV estrangeiras, têm preferido usar carros blindados". Há algum tempo, a Autoridade Palestina teria melhorado um pouco sua postura com relação à liberdade de imprensa, mas muitos de seus funcionários ainda acham que o jornalista tem de ser mais leal à causa nacional que à publicação da verdade. A situação seria ainda mais difícil para um árabe que trabalha para veículo estrangeiro ou israelense, como é o caso de Toameh. Desses jornalistas, alguns integrantes da AP esperam que sejam "servos obedientes" da guerra de propaganda.