Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Nelson de Sá

ELEIÇÕES 2002

“No Ar”, copyright Folha de S. Paulo

“Sob controle ? 4/10/02

Se existe um vencedor do debate final, não é nenhum dos quatro presidenciáveis. É William Bonner.

Do jovem de boa voz da escola de comunicação; do locutor de boa voz do início na TV; da boa voz, enfim, ele virou mais do que um âncora.

É uma estrela global que se vê com poder para passar ordens aos quatro presidenciáveis, um dos quais será o presidente da República.

– O Brasil exige um debate de idéias.

Em diferentes versões, sempre ostentando severidade e falando em nome do Brasil, foi o que ele exigiu de Lula, de José Serra, Garotinho, Ciro Gomes, desde o Jornal Nacional.

Na mesma direção, sublinhou o ?civismo? que foi levar 115 candidatos estaduais a debater ?aqui na Globo?.

Os quatro, a exemplo dos 115 um dia antes, se submeteram a um controle pleno, monopolista, não só de seu ?comportamento? mas também das ?idéias? que poderiam abordar, a três dias da eleição.

Um controle do que perguntar -o oposto do debate em arena, que na verdade ficou, se houver, para o segundo turno.

Até o detalhamento das ?idéias? ficou sob controle, sob o arbítrio de Bonner, sempre. Eram como quatro estudantes acuados pela voz.

O resultado foi o contrário do debate anterior, visto na Record, com Boris Casoy -quando se revelou muito dos candidatos, que falaram com uma liberdade jamais vista.

Era tudo o que a Globo não queria: descontrole.

Se na Record o programa se aproximou da histeria, ontem não saiu da mesmice.

Em tal ambiente, se houve um favorecido, foi Lula. Por ele, era melhor nem estar ali.

Na última -e esvaziada- propaganda antes do primeiro turno, a única novidade foi uma disputa pela herança de Mário Covas por Lula e Serra.

Logo eles.

A petista Benedita da Silva, no Rio, entregou os pontos. Apelou para Cesar Maia, até para os EUA, na luta contra o ?poder paralelo?.

Agora é o ministro da Defesa quem informa que o Exército, a Marinha e até a Aeronáutica ?estarão nas ruas?.

Isso sem contar, segundo a Globo, ?450 homens da Polícia Federal, 4.500 policiais civis e 35 mil PMs?. E isso sem contar a contribuição de Cesar Maia, ?1.030 guardas municipais nos locais de votação?.

Por fim, ontem o governo já queria mandar Fernandinho Beira-Mar aos EUA.

A explicação da governadora, no JN:

– É melhor prevenir.

Primeiro balanço ? 2/10/02

E nquanto o debate não vem, vai ao ar hoje a última propaganda antes do primeiro turno -que pode encerrar a campanha presidencial.

De novo, Duda Mendonça e Nizan Guanaes disputaram os holofotes com seus atores. Mas um esboço de balanço do que foi esta campanha presidencial na televisão não traz o marketing em primeiro plano.

A campanha que chega ao fim se definiu, ao que parece, em três edições do Jornal Nacional, que comandou a maior cobertura eleitoral da Globo.

Na primeira edição, no dia 7 de março, o telejornal deu com destaque uma foto com pacotes de dinheiro sobre uma mesa da empresa da pefelista Roseana Sarney. E descreveu:

– Um milhão e 340 mil, em notas de 50.

Foi-se a candidata, até então em segundo lugar.

Mais alguns meses, no dia 10 de julho, e quem já ameaçava o líder Lula era José Serra. Mas veio a entrevista de dez minutos, na primeira série do JN, e tudo mudou outra vez.

Os apresentadores disseram ao tucano, diante do país, que ele tem seu nome sempre ligado a ?dossiês? contra adversários -e citaram o nome de Ricardo Sérgio, lembrando que era um arrecadador e virou diretor do Banco do Brasil.

Serra caiu, Ciro foi a segundo. E chegou a vez dele.

Em 30 de agosto, o JN destacou as imagens em que Ciro fazia a ?brincadeira? sobre a função de Patrícia Pillar na campanha -dormir com ele.

Acabou ali o terceiro antiLula. (Não foi a contrapropaganda tucana que tirou Ciro do jogo, avaliação equivocada que levou Serra a fazer o mesmo contra Lula, estancando seu próprio crescimento.)

Sobraram assim Garotinho e o próprio Lula.

O petista ainda foi atingido pelo telejornal, lateralmente, nas coberturas cada vez mais editorializadas sobre a violência no Rio e o assassinato de Tim Lopes, da Globo.

Ou melhor, Benedita da Silva foi atingida. Em Lula, como em teflon, nada colou.

Garotinho, que atravessou meses sob insinuações de que desistiria, também chegou a ser questionado -sobre uma fita que depois terminou esquecida pelo próprio JN.

Ele não parecia ser ameaça, como não parece ser agora, quando todo o terrorismo desta reta final é relativo ao ?poder paralelo?, até favorecendo, em parte, Garotinho.

O alvo ainda é Benedita -e Lula, falta ele.

Para ter segundo turno, vale dizer, não é preciso abater Lula. É só conter a onda -o que, sem ataque direto, pode ser obtido freando seus apoios: Benedita, Itamar Franco etc.

2/10/02 Esperando o debate

José Serra perdeu oito dos 20 minutos derradeiros que teria amanhã. É ainda efeito dos ataques a Lula.

É difícil imaginar o que de tão decisivo Nizan Guanaes poderia fazer, pelo que se viu ontem no horário eleitoral.

Em programa dos mais fracos, ele apelou a prefeitos de Minas, o foco tucano nesta reta final, e amontoou feitos e promessas de Serra.

Com menos tempo amanhã e negando em seu site qualquer golpe baixo, resta para o tucano o debate na Globo.

Terá um dia inteiro para se preparar. O petista, escaldado de 89, terá dois. Mas o debate também não deve dar espaço a golpes de cena.

Será adotado, em princípio, o formato que predominou nas últimas campanhas dos EUA: os candidatos respondem mais a uma platéia selecionada do que uns aos outros.

Do público, como se notou na segunda rodada de entrevistas do Jornal Nacional, as questões são as mais inesperadas. Na maior parte das vezes, até fáceis de responder.

O público não segue roteiro de marqueteiro.

Na propaganda e na própria cobertura dos telejornais, Serra anda contido.

Já FHC, enfim convocado para participar, não tem mais ?papas na língua?, na expressão dele, contra Lula:

– Ver na TV tanta bobagem. Esse voluntarismo de que tudo depende da vontade política é de quem não sabe nada. Haja paciência.

Mas está sem ritmo de jogo, não sabe como atacar, chega a ecoar um mote de 98, de que ?os críticos do Plano Real são hoje defensores?. E continua fora da propaganda.

Do outro lado, após posar com FHC em troca de dinheiro para Minas, Itamar fez até passeata com Lula.

Minas também ganhou mais atenção da propaganda petista. O vice José Alencar declarou do nada, à tarde:

– Sou senador por Minas.

Mas não eram os mineiros a preocupação maior. Eram as mulheres.

Pelo voto delas, Lula chorou outra vez, agora ao lado de sua mulher, Marisa.

Pelo voto delas, dezenas de grávidas desfilaram com fundo de Ravel e locução de Chico Buarque. Corte para os olhos verdes de Chico, aconselhando às mulheres:

– Se você não mudar, o Brasil também não muda.

Isto é Duda Mendonça.

O JN, um dia depois de abrir a guarda, ontem questionou as insinuações petistas quanto aos ?boatos? no Rio.

E expôs Lula em inusitada ode ao ?socialismo?.”

 

“Rádio paga multa por emitir opinião contrária a Alckmin”, copyright Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), 4/10/02

“A Rádio Conquista de Ribeirão Preto terá que pagar multa de R$ 21.282 por manifestar opinião contrária ao governador Geraldo Alckim, candidato à reeleição pelo PSDB. A decisão foi do juiz Rui Stoco, do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.

?O ilustre jornalista restou por emitir pronunciamento com conteúdo de juízo de valor, que se converte em opinião pessoal?, disse o juiz, referindo-se ao apresentador Marcelino Romano Machado, cujo programa leva seu nome.”

 

“Resultado das eleições brasileiras é destaque na imprensa internacional”, copyright Último Segundo, 7/10/02

“Nos Estados Unidos

O jornal norte-americano New York Times, que tem feito uma completa cobertura das eleições, diz que a indicação de que a corrida presidencial vai para o segundo turno deve acalmar os mercados internacionais.

?Investidores deverão ponderar se Lula, um ex-metalúrgico, será rápido em acalmar os nervos do mercado, nomeando uma equipe econômica confiável, ou que chances terá ele contra Serra, um hábil tecnocrata e preferido do mercado?, afirmou o ?Times?.

Em outro artigo, o ?Times? destaca que o partido de Lula, o PT, não obteve uma boa votação para as cadeiras da Câmara. ?Apesar da sólida performance de Lula, as projeções indicam que seu partido provavelmente ganharia menos de um quarto das cadeiras no Congresso e que a coalizão governista continuaria a controlar o Legislativo?.

Já o Washington Post destaca que Lula obteve uma votação muito expressiva, se comparada com as eleições anteriores. ?Os resultados indicam uma grande mudança política no Brasil?.

O ?Post? ainda comentou a reação internacional. ?Enquanto é exaltado no Brasil, Lula, um líder carismático que mantém fortes laços com Fidel castro e outros líderes de esquerda na América Latina, é uma fonte de preocupação para círculos políticos em Washington e para investidores internacionais?.

Na América Latina

Os principais jornais da Argentina coincidiram nesta segunda-feira em seus comentários sobre as eleições brasileiras. A expectativa é que, independentemente do vencedor das eleições, o vizinho ajude a Argentina a sair de sua pior crise em um século.

Os jornais destacaram em suas primeiras páginas desta segunda-feira o esmagador triunfo do candidato do PT, sem tomar partido, salvo as moderadas comemorações da centro-esquerda e a ligeira preocupação na direita.

O Clarín, o jornal de maior circulação do país, comentou que o governista José Serra competirá com Lula no segundo turno, no que deve ser interpretado como ?uma profunda derrota, pois apenas 24% dos brasileiros deram seu voto ao candidato do presidente Fernando Henrique Cardoso?.

Com letras grandes na primeira página, a imprensa mexicana destaca nesta segunda-feira a liderança do candidato do PT no primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil e alguns meios de comunicação já o consideram eleito.

?Lula a um passo da presidência?, colocou na primeira página o La Jornada (esquerda), que também publicou uma foto do candidato na hora de votar, enquanto o Reforma (centro) deu a manchete ?Lula consegue 46,6%; não é suficiente?.

Na Europa

O jornal francês Le Monde destacou nesta segunda-feira que a vitória ?anunciada? de Lula nas eleições brasileiras foi ?adiada? até 27 de outubro, ao considerar quase ?impossível? que o adversário José Serra, candidato do Governo atual, consiga vencer no segundo turno.

?A vitória anunciada de Lula foi adiada até 27 de outubro?, escreveu o correspondente do jornal no Brasil, depois que o candidato petista ficou a um passo de obter a vitória no domingo em primeiro turno, com 46,67% dos votos válidos, quase o dobro de Serra, levando porém a disputa para o segundo turno.

Para o jornal francês, o êxito de Serra em 27 de outubro parece ?impossível?, devido ao fato de que Lula provavelmente vai receber o apoio maciço dos eleitores de Anthony Garotinho, que ficou em terceiro com 17,05% dos votos – o outro candidato, Ciro Gomes, obteve 12,19%.

Le Monde alertou, no entanto, para o perigo do segundo turno, já que Lula pode precisar do apoio do PSDB de Serra para conseguir maioria no Congresso.

O britânico The Times diz que o bom desempenho de Lula se deve à promessa de ?mudança de direção? prometida pelo candidato. O jornal britânico afirma que, se realmente ganhar, Lula não deverá rever as medidas de abertura de mercado implementadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

The Times chama a atenção ainda para o fato de que Lula representará um contraste a FHC. ?(Lula) não fala nenhuma língua estrangeira e, apesar do novo gosto por ternos e gravatas, não tem o mesmo conhecimento de macroeconomia?, completa a reportagem.

A reportagem do The Guardian diz que uma vitória de Lula seria a mais importante demonstração das mudanças políticas na América Latina, contra o chamado modelo neoliberal.

Já o jornal The Independent destaca o sistema de votação eletrônica usado nas eleições deste ano, classificada como ?a maior votação eletrônica do mundo em um país onde o voto é obrigatório?.”