A Folha de S.Paulo é o primeiro grande jornal brasileiro a dar alguma importância ao conceito da ‘Felicidade Interna Bruta’ (FIB), uma tese nascida no Butão, uma pequena monarquia encravada entre a China e a Índia, onde a televisão só chegou em 1999.
O FIB, indicador de felicidade de uma sociedade, vem sendo apresentado ao mundo pela psicóloga e monja iogue Susan Andrews, foi tema da revista Época há dois anos, mas até então era citado pela imprensa como mera curiosidade, coisa de alternativos.
A Folha traz o assunto para seu caderno de economia e negócios na edição de terça-feira (15/9), por conta de uma declaração do presidente da França, Nicolas Sarkozy, que lidera um movimento pela alteração dos padrões contábeis em todo o mundo. Sarkozy anunciou que o Instituto Nacional de Estatísticas da França vai incorporar às regras contábeis do país indicadores de bem-estar, como gozo de férias, sentimento de realização e outras expressões de felicidade.
Esforço de Obama
Longe de ser um exotismo, como já foi qualificado por economistas ortodoxos, o conceito tem sido estudado como uma forma de valorizar políticas sociais e ambientais e de justificar o chamado Estado do bem-estar social.
Se fosse adotado hoje internacionalmente em substituição ao PIB, Produto Interno Bruto, o FIB colocaria a França em melhor posição entre os países desenvolvidos, porque levaria em conta elementos do desenvolvimento como a alta qualidade do serviço de saúde, o sistema previdenciário francês e o direito a longas férias.
Por outro lado, os Estados Unidos perderiam posição, por conta justamente de políticas sociais opostas, baseadas na privatização da maioria dos serviços essenciais que asseguram qualidade de vida.
O esforço do presidente Barack Obama para mudar o sistema americano de saúde tem o sentido de aproximar os Estados Unidos do conceito de bem-estar europeu.
Ponto de inflexão
As conclusões a que chegou a comissão encarregada pelo governo francês de estudar as mudanças no sistema de cálculo do desenvolvimento são as mesmas que freqüentam o chamado jornalismo sócio-ambiental. Ou seja, há muito os jornalistas especializados em sustentabilidade afirmam que a imprensa utiliza indicadores antiquados para medir o desempenho econômico das sociedades.
O FIB, conforme foi elaborado no Butão, ainda é mais uma manifestação de desejo que uma ciência; mas, agregado a estudos oficiais de um país como a França, o conceito começa a chamar atenção da imprensa internacional.
O fato de a Folha de S.Paulo incluir o assunto em seu caderno ‘Dinheiro’ pode marcar um momento importante de inflexão no jornalismo que até aqui só considerou o aspecto financeiro como indicador de desenvolvimento.
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O Jornal Nacional
É hábito nas redações da maioria dos jornais brasileiros esperar o fim do Jornal Nacional, da Rede Globo, para completar o fechamento de suas edições. Para quase todos os jornalistas que trabalham em veículos diários, o ‘boa noite’ dos âncoras do Jornal Nacional é, há muitos anos, o indicador de que a edição do dia seguinte estará alinhada com o que de mais relevante aconteceu, do ponto de vista da imprensa nacional.
Ou a garantia de que um ‘furo’ seguirá sendo uma reportagem exclusiva.
Por esse motivo, parece estranho o fato de que a maioria dos jornais tenha ignorado a passagem dos 40 anos do mais antigo e ainda mais influente telejornal do país.
Alberto Dines:
A imprensa brasileira parece não gostar das efemérides, mesmo aquelas relativas à atividade jornalística. No ano passado, 2008, tanto nossa mídia impressa como a eletrônica omitiram os 200 anos de fundação do jornalismo brasileiro. E neste ano, apenas o Jornal Nacional da TV Globo lembrou os 40 anos do Jornal Nacional. Não é justo, nem elegante: trata-se do telejornal mais antigo e que se mantém até hoje como uma referência.
O Observatório da Imprensa resolveu lembrar os 40 anos do JN e entrevistou William Bonner, editor-chefe e um dos seus apresentadores. Vale a pena conferir. Terça-feira, às 22h40 na TV Brasil, em rede nacional. Em São Paulo, pelo canal 4 da Net e 181 da TVA.