LULA PRESIDENTE
Afonso Caramano (*)
Diz-se que um país se faz com homens e livros. Também com esperança. Dos livros espera-se que contenham o que há de melhor no pensamento humano; dos homens, além dos melhores pensamentos, o que o dignifica como homem: seus atos de coragem, justiça, lealdade, solidariedade etc. Também sua capacidade de não perder a esperança.
Em tempos de frio pragmatismo e homogeneidade de pensamento, apontar para novas direções pode parecer estupidez, desarrazoamento, uma heresia para os cânones estabelecidos, principalmente se implica a adoção de novas posturas, de pensamento crítico e ético contra a inércia do fazer comum dos modelos preestabelecidos.
Inicia-se, talvez, com este período de transição para o novo governo, uma nova maneira de pensar a nossa realidade e repensar nossas atitudes ? a escolha feita o demonstra muito bem, ou pelo menos esboça o primeiro passo. E não é por acaso que o novo governo propõe o diálogo como plano de ação para fundamentar as principais mudanças necessárias ao país. Daí, também, a necessidade da discussão permanente e da mudança de pontos de vista, o que é muito mais difícil, devido ao fisiologismo arraigado em nossas instituições e aos vícios impregnados nas relações sociais.
Mas, convenhamos, que raios quer dizer todo esse papo de novas direções, inércia de perspectivas, proposta de diálogo permanente, livros e homens? Talvez seja mais um monte de palavrório, talvez represente outra maneira de encarar os fatos. O que importa realmente é se a sociedade vai corresponder às expectativas do governo eleito, e, mais importante, se o governo vai conseguir instaurar o "pacto social", dialogar democraticamente com a sociedade em seus diversos segmentos. Por enquanto tudo são expectativas. E poder-se-ia perguntar: qual o papel da mídia nessa história? Como ela vai se comportar nesse cenário? Qual será a postura dela? Fará o papel de interlocutora da sociedade ou assumirá as tendências do mercado? De novo teremos de esperar…
O papel de cada um
Uma coisa é certa: qualquer transformação passa necessariamente pelas palavras ? e estas têm sido de esperança e otimismo ? expressam os pensamentos que, por sua vez, só se concretizam em ações, neste caso, na prática política com as conseqüentes soluções para os inúmeros problemas do país.
Imprescindível, portanto, manter o bom senso e primar pelo uso correto da palavra ? recurso, instrumento, meio de expressão das idéias, pensamentos e diálogo ? bem como da prática jornalística.
Todo cuidado é pouco para evitar os argumentos falaciosos, as informações tendenciosas, os discursos tautológicos e as vicissitudes de uma imprensa arrivista e mercadológica. Isso não significa complacência com o novo governo nem condescendência com possíveis erros ou falhas, mas empenho crítico e responsabilidade.
Muitos parecem querer alinhar o discurso com o próximo governo (bancos anunciam os prováveis e, digamos, preferíveis ministros para pastas diversas), outros (partidos, por exemplo) prometem fazer oposição responsável e em benefício do país (mas disputam, nos bastidores, cargos e presidências do Congresso). Talvez seja o momento de deixar a hipocrisia de lado e praticar a verdadeira democracia.
E isso dependerá de cada um: dos políticos cumprirem o seu papel, das instituições fiscalizá-los, da imprensa observar a todos e informar a sociedade, e de cada cidadão fazer a parte que lhe cabe ? inclusive observando a própria imprensa. Sim, se um país se faz com homens e livros faz-se com palavras; palavras que refletem os homens que as usam.
(*) Funcionário público em Jaú, SP