Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Falso calote, irresponsabilidade e inépcia

BARRIGA DO ANO

Sergio Diniz (*)

A implantação de um novo governo, que se apresenta como antagônico ao antecessor, não é tarefa fácil. O período entre a eleição e sua instalação, denominado "transição", não só no Brasil, como em todo o mundo, é caracterizado por incertezas e dúvidas. O que provoca movimentações desordenadas dos agentes sociais e conseqüentemente dos mercados.

Neste contexto, a imprensa assume comportamentos igualmente desordenados, ou mesmo conflitantes. Existem aqueles que, ciosos de seu dever de informar, buscam traduzir os fatos, se aprofundando nas averiguações e nas análises de suas conseqüências. Outros, movidos pelo ímpeto sensacionalista, agem de forma oportunista e irresponsável.

O caso envolvendo a divulgação de uma nota à imprensa pela Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo no dia 6 de novembro, informando que não havia recursos orçamentários para o pagamento da amortização da dívida com a União, provocou turbulências no mercado financeiro. Este é, sem dúvida, um exemplo típico da irresponsabilidade ou da inépcia de alguns, ditos profissionais do jornalismo.

Paradigma a considerar

Foi uma associação de erros. De um lado, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo que, no intuito de ocupar espaço na mídia, falhou ao querer transformar em notícia um fato que deveria ser visto como normal e perfeitamente legal. Em rápida avaliação, seria possível chegar a uma única conclusão: devido às circunstâncias delicadas que envolvem a transição no governo federal, a ação seria considerada descabida, inoportuna e, até mesmo, contraditória.

Por outro lado, parte da imprensa, sem qualquer responsabilidade, transformou em escândalo um fato rotineiro. Optar por uma das cláusulas do contrato de renegociação da dívida de estados e municípios é ato perfeitamente legal. Exercê-lo, sem alarde, é apenas questão de bom senso e prudência.

Vale lembrar que os serviços de assessoria de imprensa devem ser entendidos como de utilidade pública. Os profissionais que se propõem a atuar nesta área necessitam assumir de forma responsável suas funções. Informar com veracidade e se basear em dados comprovadamente reais são premissas do trabalho de um assessor de imprensa. Outra, igualmente importante, é orientar o assessorado sobre o melhor momento para uma divulgação.

Aqueles que se propõem a exercer as funções de assessor de imprensa precisam entender o paradigma de que a "a notícia é sempre maior do que o fato". Não foi o que ocorreu no mencionado episódio.

(*) Publicitário, assessor político/parlamentar e editor do Painel Brasil <http://www.painelbrasil.com.br/>