Cerca de 200 fiscais da receita federal argentina fizeram uma blitz nos escritórios do jornal Clarín, em Buenos Aires, na semana passada, acirrando ainda mais a briga entre o maior conglomerado de mídia do país e o governo federal. Outros 100 agentes realizaram buscas em outras companhias do Grupo Clarín em Buenos Aires e Córdoba, e pelo menos 10 executivos tiveram suas casas vistoriadas. O incidente, que as autoridades da receita classificaram de ‘atividade rotineira’, não tem precedentes desde a volta da democracia ao país, em 1983. Executivos do grupo de mídia descreveram a ação como uma tentativa de intimidação.
As buscas, feitas na quinta-feira [10/9], ocorreram pouco depois da publicação de uma matéria de capa denunciando uma fraude de 10 milhões de pesos na Oficina Nacional de Controle e Qualidade Agropecuária, agência governamental chefiada por Ricardo Echegaray, que também dirige a Administração Federal de Receitas Públicas. Echegaray afirmou que a operação contra o jornal não teve seu consentimento.
Motivação política
As críticas do Clarín ao governo de Cristina Kirchner são constantes, e a presidente já chegou a afirmar que o jornal precisa ser ‘disciplinado’. Cristina também culpa a cobertura negativa do diário pelo seu índice de aprovação de 20%. Agora, a presidente tenta aprovar uma controversa reforma na legislação de mídia do país que praticamente quebraria o grupo. Críticos acreditam que o projeto é motivado pelos desentendimentos entre ela e o conglomerado.
Diante das acusações de que as buscas aos escritórios do Clarín seriam uma tentativa de intimidação, Cristina reiterou seu apoio à liberdade de expressão na Argentina e propôs a suspensão de penas por calúnia e difamação. ‘Eu prefiro um bilhão de mentiras a calar a boca de alguém’, afirmou a presidente. ‘É assim que eu vejo os direitos humanos e a liberdade’. Com informações do Knight Center for Journalism in the Americas [11/9/09].