Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo


ELEIÇÕES 2006
Luiz Inácio Lula da Silva


A esperança renovada


‘AJUDAR A transformar as esperanças do nosso povo em realidade foi o que me levou a abraçar a vida política e a nela persistir. O mesmo impulso de promover o país que éramos ao país desenvolvido que vamos ser me deu a energia necessária para honrar o mandato delegado pela nação ao longo destes 46 meses de governo, iniciado em janeiro de 2003.


Não ignoro as dificuldades que a luta pelo desenvolvimento ainda impõe à vida de milhões de cidadãos e cidadãs, em especial aos mais humildes. Mas chego ao final do mandato presidencial com a firme convicção de que materializamos uma parte significativa da esperança do povo na vida do nosso país. Uma esperança, felizmente, sempre renovada.


Tenho orgulho da oportunidade de conduzir esse processo ao lado da grande maioria da sociedade brasileira.


Desde esse mirante das experiências acumuladas e das conquistas alcançadas, enxergo com otimismo as imensas possibilidades reunidas no passo seguinte da nossa história. Com humildade, porém com firmeza, e, sobretudo, com o apoio encorajador e a confiança depositada em nosso trabalho, digo que valeu a pena assumir essa missão. Hoje, mais que ontem, estou certo de que o Brasil pode, sabe e tem condições de avançar cada vez mais no caminho da prosperidade com justiça social.


Quando assumimos a Presidência da República, o apelo da urgência social era inadiável. Impunha-se a tarefa imediata de regenerar os fundamentos que distinguem um povo de uma comunidade com destino incerto.


Os compromissos compartilhados que sustentam a convivência solidária e democrática estavam esgarçados no acesso aos mais elementares direitos humanos. Havia fome em milhões de lares, incerteza na produção e desalento na alma do povo. Demos as principais respostas requeridas pelo imperativo da hora.


Simultaneamente, vencemos a vulnerabilidade externa com uma ação comercial e diplomática que rapidamente reverteu o flanco de uma inserção internacional equivocada, substituindo-a por um ciclo robusto de exportações, que crescem acima da média mundial. Passamos às reformas prementes, restituindo previsibilidade ao horizonte econômico das empresas e das famílias após tantos anos de incerteza para planejar o futuro.


Lutamos a justa batalha. Somos humildes para reconhecer os erros registrados no caminho. Todavia eles não abalaram, ao contrário, reforçaram nossa convicção de que a democracia e a transparência do Estado de Direito são requisitos sempre indissociáveis à superação dos conflitos do desenvolvimento.


Temos orgulho da semeadura feita. Os frutos da colheita se encontram hoje ao alcance das mãos e das mesas de milhões de brasileiros. Vivemos o melhor ambiente macroeconômico das últimas décadas. O Brasil chega ao final de 2006 como o país menos desigual dos últimos 25 anos. 7 milhões de cidadãos venceram a linha da pobreza.


O poder de compra do salário mínimo aumentou 26%, em termos reais, desde 2003. Na esfera dos preços, nas contas externas, na regeneração orçamentária, na liquidez das empresas ou na trajetória declinante dos juros, fincamos pilares sólidos para avançar sem risco de regredir.


Estamos enfrentando com êxito o desafio de distribuir renda sem renunciar ao equilíbrio macroeconômico. Hoje temos uma sociedade menos pobre. E uma economia mais estável. Estamos prontos para ingressar numa nova etapa de crescimento acelerado. A opção que fizemos está estampada tanto na vida das pessoas como nas estatísticas -está nos campos e nas cidades de todo o país.


Consolidei nestes quatro anos de mandato uma convicção de vida. Não existe panacéia técnica que possa guiar o desenvolvimento de uma nação. Um povo não pode terceirizar as opções cruciais de sua história. Tampouco dissimular em uma agenda administrativa aquilo que é prerrogativa da condução política e da superação democrática de divergências e conflitos.


Nenhum governo melhora o desenvolvimento à margem da sociedade. O Brasil precisa reforçar a principal ponte erguida nos últimos anos entre nossas esperanças, sempre renovadas, e o passo seguinte da nossa história.


Ou seja, respaldar e impulsionar a articulação de forças políticas que acumulou um patrimônio inédito de estabilidade, confiança e entendimento indispensáveis para fazer do desenvolvimento a grande obra da maturidade democrática da sociedade brasileira no século 21. É o que peço aos 125 milhões de eleitores e eleitoras que vão decidir hoje o futuro do Brasil nos próximos anos.


LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA , presidente da República, é candidato à reeleição pelo PT.’


Geraldo Alckmin


Muitos Brasis e um só desejo


‘NESTA CAMPANHA , percorri todos os Brasis que formam este nosso imenso país. Em todos os Brasis -pobres ou ricos, industriais ou agropastoris, urbanos ou rurais-, vi e senti de perto um único e grande desejo: a aspiração justa e possível de fazer nosso país crescer mais rápido e mais forte, para que nossos irmãos possam ter a oportunidade de trabalhar, a oportunidade de ganhar seu pão de cada dia com suor e dignidade. Oportunidade de crescer e fazer o Brasil crescer.


Minha candidatura tem o objetivo principal de unir todos os Brasis em um país mais justo, menos desigual, com menos miséria, mais oportunidades. Com crescimento econômico acelerado e permanente. Hoje, nosso país é escravo do governo, que gasta muito e gasta mal. Vamos consertá-lo para que sirva ao povo, e não o inverso. Vou cortar despesas supérfluas, reduzir o peso da máquina pública e fazer render o dinheiro da sociedade. E, com isso, vamos reduzir os impostos, contribuindo para estimular ainda mais o crescimento.


Nenhum brasileiro se conforma de ver um governo que transforma a máquina administrativa em cabide de empregos para companheiros de partido; mantém altas as taxas de juros e impostos, asfixiando empresas e matando empregos. Os brasileiros querem mudar tudo isso. Querem um governo que faça render mais cada centavo do dinheiro dos impostos; que reduza impostos, como já reduzimos para mais de 200 produtos no Estado de São Paulo; que incentive novos empreendimentos; que melhore os serviços públicos, especialmente a saúde e a educação, que é a ferramenta mais eficiente para promover o desenvolvimento e distribuir os seus benefícios à população.


Todas essas mudanças estão focadas em meu programa de governo, que faz um completo diagnóstico dos complexos problemas deste nosso país tão cheio de diversidades e propõe soluções para eles, sem bravatas; de maneira séria, consistente e, sobretudo, exeqüível.


Crescimento econômico exige planejamento, ação, trabalho sério. Não vou cair nas discussões estéreis. Crescimento ou estabilidade é um falso dilema. O Brasil precisa dos dois. Crescimento sem estabilidade é fraude. Não existe. Estabilidade sem crescimento é perversão. Não deveria existir.


Os maiores entraves ao nosso desenvolvimento são conhecidos: carga tributária demais, investimentos de menos e um Estado ineficiente no cumprimento de suas funções básicas.


Junto com a economia, nossa prioridade será a educação. Cada vez mais, a escola deve ocupar um papel central na vida não só dos estudantes mas também de suas famílias e da comunidade, articulada com as políticas de trabalho, saúde, segurança, cultura e lazer.


Educação para o emprego será o instrumento prioritário para abrir aos jovens as novas perspectivas de progresso e ascensão profissional e social.


Na saúde, como na educação, o nosso país também andou para trás nos últimos anos. É caótico o atendimento público de saúde. Precisamos trabalhar -e muito- para tornar verdadeiro o preceito constitucional de que ‘saúde é direito de todos e dever do Estado’.


Quanto à segurança pública, é necessário reforçar a inteligência da Polícia Federal e estreitar sua cooperação com outros órgãos federais (Receita, Banco Central, Coaf, Abin, Forças Armadas), as polícias estaduais e o Ministério Público. O combate à corrupção precisa ser intransigente, pois é por meio dela que o crime organizado se infiltra no aparelho do Estado.


Nosso país precisa de uma reforma política. Defendo a fidelidade partidária e o voto distrital misto, que é o caminho para aproximar os representantes dos representados e, assim, combater a descrença no sistema. O desgaste da atividade política disseminou a falsa idéia de que todos os políticos são iguais. Não são, não. Somos muito diferentes, por exemplo, dos nossos adversários, hoje atolados na lama moral que eles próprios criaram.


O povo brasileiro não é corrupto. O povo brasileiro não é preguiçoso. O povo brasileiro não é omisso. O povo brasileiro não é cínico. O seu presidente também não pode ser.


Neste domingo, os brasileiros de todos os Brasis vão se encontrar nas urnas para iniciar a construção de um novo e grande Brasil, mais desenvolvido e socialmente mais justo. Vamos às urnas com a certeza de que podemos e devemos construir um Brasil digno da imensidão e riqueza do seu território e da grandeza e generosidade de seu povo.


GERALDO ALCKMIN , ex-governador de São Paulo, é candidato à Presidência da República pelo PSDB.’




TELECOMUNICAÇÕES
Janaína Leite


Tele quis investigar ministros, diz italiano


‘O ex-detetive italiano Mario Bernardini disse à Folha que a disputa entre a Telecom Italia e o grupo Opportunity pelo controle da Brasil Telecom fez o então chefe de segurança da tele italiana ordenar que os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) fossem espionados no início de 2005.


Bernardini é a principal testemunha do Ministério Público italiano em investigações que envolvem suposta rede de espionagem e propinas da Telecom Italia no país e no exterior. Ameaçado de ser preso por sua ação nessa rede, passou a colaborar com a Justiça.


‘A coisa mais importante era descobrir se o ministro da Justiça brasileiro tinha contato com os concorrentes [da Telecom Italia]’, afirmou Bernardini. ‘O Angelo Jannone [então chefe de segurança da tele italiana para a América Latina] queria monitorar também o ministro da Indústria, para saber com quem ele falava.’


Na última segunda-feira, Bernardini falou com exclusividade à Folha no escritório de seu advogado, Vincenzo Carosi, nas imediações da praça San Lorenzo in Lucina, Roma.


Bernardini diz não saber se os ministros foram de fato investigados e que não atuou para isso, mas ressaltou acreditar que Jannone tenha levado a espionagem dos ministros adiante. ‘Todos podem pensar que não, mas tenho quase certeza de que foi feita.’


Segundo ele, no Brasil, a Telecom Italia pagou lobistas, advogados, organizadores de eventos e agentes federais aposentados em troca de informações estratégicas dos concorrentes, de processos sigilosos e decisões governamentais. Segundo Bernardini, um desses contatos, o ex-policial João Álvaro de Almeida, foi apresentado a Jannone, da Telecom Italia, pelo que ele chamou de ‘chefe-geral da Polícia Federal’. A PF é chefiada por Paulo Lacerda desde 2003, que nega as acusações.


‘No mês de novembro de 2004, em Brasília, Jannone encontrou o chefe da Polícia Federal para pedir um suporte na defesa contra nossos concorrentes. Jannone me contou que ele disse que não podia ajudar. Primeiro porque não poderia defender uma empresa estrangeira. Segundo porque na sua posição ele estava acima das partes. Mas, segundo Jannone, o chefe disse também que, se a Telecom Italia quisesse obter uma ajuda ou ter um link com a PF, poderia usar João Álvaro’, disse Bernardini.


A prática de espionagem, conforme o ex-detetive, foi mantida no Brasil entre 2004 e o começo deste ano, quando o Ministério Público de Milão intensificou investigações sobre executivos da Telecom Italia.


Depois de meses de apuração e da prisão de 21 pessoas na Itália, ocorrida em setembro, os procuradores estão convencidos de que funcionários de primeiro e segundo escalão da Telecom Italia formaram uma administração paralela à oficial. Mais de 2.000 pessoas -entre políticos, banqueiros, artistas e empresários- foram espionadas pelo grupo em várias partes do mundo, disse Bernardini.


Embora não fosse empregado da operadora, e sim prestador de serviços, Bernardini era um dos principais elos do grupo. ‘O importante não era saber o que falavam [os ministros], mas com quem falavam’, disse o araponga, que afirma ter se aposentado e agora colabora com os procuradores, com quem já se reuniu quatro vezes. Seus depoimentos implicam várias pessoas na Itália e no Brasil. Renderam a ele o apelido de ‘Il Pentito’, ‘O Arrependido’, na imprensa italiana.


Entre os brasileiros citados por Bernardini como ajudantes de Jannone nas espionagens, estão o lobista Alexandre Paes dos Santos e o advogado Marcelo Elias.


Santos -ou APS, como ficou conhecido- vive em Brasília. É um dos lobistas da Telecom Italia e da Pirelli, que controla a operadora.


Já o advogado paulista Marcelo Elias é sócio de Luís Roberto Demarco, empresário paulista inimigo visceral do dono do grupo Opportunity, o banqueiro Daniel Dantas. De acordo com Bernardini, Elias recebeu da Telecom Italia US$ 500 mil entre 2005 e 2006.


À Folha, Bernardini afirmou jamais ter sido apresentado a Demarco ou a Dantas. Disse não manter com eles nenhum tipo de laço, mesmo por meio de terceiros.


Bernardini isenta a cúpula da Telecom Italia no Brasil. Segundo ele, o presidente da empresa no país à época dos acontecimentos, Paolo dal Pino, não sabia das ações de Jannone. Dal Pino saiu da tele no ano passado. Preside hoje uma concorrente italiana, a Wind.


Questionado pela Folha se as confissões feitas ao Ministério Público seriam mantidas diante de um procurador brasileiro, Bernardini afirmou que sim. ‘Mas só se vierem aqui na Itália. Ao Brasil eu não vou.’


Por que Bernardini resolveu depor contra seus antigos colegas? Quem responde é o advogado, Vincenzo Carosi. ‘Eu falei para ele contar. Era o melhor para ele’, disse Carosi. E por que agora? ‘Porque agora é que a investigação está sendo feita.’ Bernardini está a serviço de interesses de mais alguém? ‘Não, só dele. E dos da Justiça’, disse Carosi.’




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Acusados por araponga negam irregularidades


‘Angelo Jannone falou rapidamente com a Folha, por telefone. Disse que vai processar a reportagem pelas informações de Mario Bernardini, que classificou de ‘mentirosas’.


A Telecom Italia preferiu não comentar as declarações. Por meio de sua assessoria, afirmou que os assuntos abordados na entrevista já são alvo de inquérito aberto pelo Ministério Público italiano.


O advogado Marcelo Elias e o consultor Alexandre Paes dos Santos negam as acusações de Bernardini.


Santos afirma que presta serviços para a Telecom Italia desde 2004 e que sua função é acompanhar temas relativos à área de telecomunicações no Congresso e no Executivo e realizar análises de conjuntura política e econômica.


Ele diz que nunca fez contatos com parlamentares ou funcionários do Executivo para defender interesses da Telecom Italia e que foi contratado em razão do longo relacionamento que tinha com a Pirelli, que hoje controla a Telecom Italia.


O advogado Elias confirma que recebeu dinheiro da empresa, mas ressalta que foram US$ 250 mil -e não US$ 500 mil- e que os pagamentos foram feitos em razão do contrato de prestação de serviços advocatícios que tinha com a Telecom Italia, assinado em agosto de 2004.


Elias também diz não se lembrar de ter sido apresentado a Bernardini.’




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Chefe da PF nega acusação; Bastos vai investigar


‘Dizendo-se indignado com as acusações de Mario Bernardini, o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, afirmou não conhecer o araponga João Álvaro de Almeida.


‘É uma acusação ridícula e leviana. Só posso pensar nisso como uma espécie de vingança contra a Polícia Federal por meio da minha pessoa. Tudo isso começou depois que a investigação da Operação Chacal [de 2004, que teve como alvo a empresa Kroll e o banqueiro Daniel Dantas, principalmente] revelou a existência de uma rede de intensa atividade clandestina de arapongagem industrial’, declarou.


Por meio de sua assessoria, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que, ao tomar conhecimento, pela mídia, de que teria sido vítima de suposto grampo, determinou à PF abertura de inquérito para apurar sua procedência e eventuais responsáveis. As autoridades aguardam agora o envio, pelos investigadores italianos, de cópias dos depoimentos de Bernardini.


Almeida disse que foi apresentado a Bernardini por Angelo Jannone, mas negou que sua aproximação com a tele tenha sido obra de Lacerda. ‘Estive com esse homem [Bernardini] umas duas vezes no início de 2005.’ Disse ainda que prestava serviços regulares a empresa de análise de risco e controle de fraudes com cartões.


O ministro Luiz Fernando Furlan não quis comentar o caso.’




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Ex-detetive colabora com promotores


‘Antes de se envolver no escândalo da Telecom Italia, Mario Bernardini trabalhou como agente secreto por 12 anos na Sisde, agência de inteligência do governo italiano. Depois foi trabalhar na empresa de inteligência Global Service com Gianpaolo Spinelli, ex-agente da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos) e amigo de Giuliano Tavaroli, ex-chefe de segurança da Telecom Italia.


Há aproximadamente três anos, Bernardini começou a prestar serviços para a operadora com sua própria agência, a Business Security, com sede em Londres. De acordo com relatos da mídia italiana, fazia pagamentos a terceiros sem passar pela contabilidade oficial da Telecom Italia e repassava dinheiro da operadora para investigadores privados.


Em julho deste ano, quando a polícia italiana estava prestes a desbaratar a quadrilha que atuava dentro da Telecom Italia, Bernardini fez um acordo. Com medo de ser preso, ele concordou em delatar os companheiros e detalhar aos procuradores de Milão como funcionava o esquema. A desconfiança do Ministério Publico é que as triangulações de pagamentos escondiam espionagem ilegal e serviam para que a Telecom Italia corrompesse políticos e autoridades em outros países, por meio de vários colaboradores que agiam como Bernardini.


O escândalo ocupou as capas dos principais jornais italianos e, em setembro, levou à prisão de 21 pessoas -entre empregados da operadora, funcionários públicos e policiais-, supostos participantes de uma rede de espionagem ilegal com uso de escutas ilegais. A tele nega participação nas irregularidades.’




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Telecom Italia entrou no país com a privatização da Telebrás


‘Para entender o caso Telecom Italia e suas conexões brasileiras, é preciso voltar a 1998. Naquele ano, o Sistema Telebrás foi privatizado. Vários investidores internacionais associaram-se a grupos locais para garantir sua participação no mercado de telefonia -um deles foi a tele italiana.


No leilão, a Telecom Italia comprou a operadora de telefonia fixa responsável pela cobertura das áreas Norte, Centro-Oeste e Sul. Nomeada Brasil Telecom, ela se tornou a terceira maior concessionária do setor no país. Vale hoje cerca de R$ 7,5 bilhões.


O controle da Brasil Telecom é dividido entre fundos de pensão (maiores investidores nacionais), Citigroup (maior banco do mundo), Opportunity (do banqueiro Daniel Dantas) e a própria Telecom Italia (quinta operadora da Europa e primeira no país de origem).


Os quatro sócios lutam pelo direito de administrar a Brasil Telecom desde 2001. A disputa ultrapassou as assembléias de acionistas, chegou aos tribunais e entrou no terreno da espionagem.


Em meados de 2004, o então chefe da segurança latino-americana da Telecom Italia, Angelo Jannone, veio ao Brasil entregar à Polícia Federal um CD com investigações sobre a Telecom Italia feitas pela Kroll a mando da então presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco. A gestão da operadora cabia, à época, ao Opportunity.


A Folha revelou, em julho de 2004, que a Kroll montou, a pedido da Brasil Telecom, então comandada por Daniel Dantas, uma rede de espionagem no Brasil que monitorou petistas que viriam a ocupar cargos de destaque no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, como Luiz Gushiken.


A Polícia Federal invadiu as sedes da Kroll e do Opportunity e as casas de Cicco e Dantas. Apreendeu o disco rígido do banco, que continua intocado por decisão judicial, e correspondências trocadas entre Luiz Demarco e o então ministro Luiz Gushiken. Os e-mails datavam de antes de Gushiken assumir o cargo.


Até março do ano passado, os fundos de pensão eram alinhados à Telecom Italia. O Citigroup, por sua vez, estava com o Opportunity.


O caso Kroll, como ficou conhecido, foi decisivo para a saída de Dantas do comando da Brasil Telecom. O banqueiro foi acusado pelo Ministério Público de formação de quadrilha.


Em março do ano passado, entretanto, as posições mudaram: fundos assinaram um acordo de venda conjunta das ações com o Citigroup.


Um mês depois, foi a vez de a Telecom Italia e o grupo de Daniel Dantas se transformarem em parceiros -o acordo durou até abril deste ano, quando foi desfeito.


A situação acionária da Brasil Telecom continua indefinida. Fundos e Citi se dizem vendedores, mas não conseguiram fechar um acordo que permitisse aos italianos comprarem sua fatia na operadora. A confusão era tamanha que a Telecom Italia decidiu vender as operações no Brasil, inclusive a TIM. Depois, voltou atrás.’




WEB & TV
Mariana Tamari


Internet e TV iniciam os jovens no mundo do pôquer


‘Internet e televisão foram a porta de entrada dos jovens no mundo do pôquer. O marco da explosão da jogatina foi 2003, quando um jogador conhecido como ‘Chris Moneymaker’ (‘Chris Criador de Dinheiro’) conseguiu se classificar para um torneio mundial e venceu a competição, levando para casa um total de US$ 2,5 milhões (R$ 5,5 milhões).


‘Com a história do Moneymaker se espalhando pela rede, a molecada pensou: se ele conseguiu, eu também consigo’, diz Sérgio Prado, produtor dos programas de pôquer transmitidos pela ESPN Brasil e colunista do site da emissora.


Prado conta que, no ano seguinte à vitória de Moneymaker, o número de inscritos nos torneios mundiais de pôquer praticamente dobrou, assim como o valor da premiação. E esses números só aumentaram desde então.


Em 2006, o WSOP (World Series of Poker), um dos maiores campeonatos mundiais, também transmitido pela ESPN, distribuiu um total de prêmios de US$ 90 milhões (R$ 198 milhões). O primeiro colocado levou, sozinho, US$ 12 milhões. Para se ter uma idéia, o 12º recebeu US$ 1 milhão.


Casas de carteado


Agora, os jovens começam a arriscar a sorte nas casas de carteado, locais que, até o surgimento dessa onda, eram quase exclusivos de jogadores da terceira idade.


No Texas Tatuapé, localizado na rua Tuiuti, 2.117, zona leste de São Paulo, de 60 freqüentadores que enchiam as mesas de jogos na última quinta-feira, 20 tinham até 25 anos. Muitos deles usavam os bonés e os óculos escuros adolescentes como auxiliares nas estratégias de despiste típicas do pôquer.


Um jogador veterano, habitué de cassinos em Punta del Leste (Uruguai) e Ciudad del Leste (Paraguai), além de Las Vegas (EUA), admitiu que a chegada dos meninos assusta a clientela tradicional. ‘Eles estão acostumados a jogar desde crianças. Além disso, são aplicados e estudiosos. Devoram a farta bibliografia sobre pôquer, em que se destacam obras como ‘A Teoria do Pôquer’, ‘Por que Você Perde no Pôquer’, ou ‘Zen e a Arte do Pôquer’, sempre em inglês. A maioria dos jogadores mais velhos aprendeu por tentativa e erro, muito mais limitado.’’




TELEVISÃO
Daniel Castro


Fernanda Lima volta às novelas como ela mesma


‘A modelo Fernanda Lima, 29, está encarando seu segundo trabalho de destaque em uma novela da Globo, apesar das críticas por sua atuação em ‘Bang Bang’. Ela grava ‘Pé na Jaca’, próxima novela das sete da Globo, no papel da famosa e glamurosa modelo, Maria.


Fernanda falou à Folha, por e-mail, sobre seu trabalho:


FOLHA – Sua personagem ser uma modelo facilita sua atuação?


FERNANDA LIMA – Claro que facilita. Esse é um universo que eu conheço muito. Tem um espírito e um sentimento que já vivi, e não algo que tenho que pesquisar. Mas acho que não é isso que vai determinar se vou fazer bem ou mal a Maria. Estou lidando com os mesmos desafios e dificuldades que uma atriz ainda inexperiente pode ter.


FOLHA – Por que você demorou a aceitar atuar em ‘Pé na Jaca?’


FERNANDA – Demorei porque eu achava que ainda não era o momento de voltar a fazer novela e porque tinha outros projetos. Cheguei a dizer não, mas o [autor Carlos] Lombardi insistiu dizendo que o personagem tinha sido escrito para mim.


Quando percebi que daria para trabalhar nos outros projetos e fazer a novela, decidi que abraçaria tudo. Pertenço ao time que não desiste, mas que olha para a frente e continua.


FOLHA – A crítica foi cruel com você em ‘Bang Bang’?


FERNANDA – Que crítica? Falar mal ou bem não é crítica, é opinião! E essas me cansaram, me entristeceram, me alegraram, me encheram o saco, mas verdadeiramente serviram muito pouco para o meu crescimento artístico. Entendo que a crítica tem uma função pedagógica. Estou fazendo o meu melhor. Como diz meu pai, se te dão um limão, faça uma limonada!


DISPENSADOAssessores de imprensa que procuram a produção do ‘Programa do Jô’ tentando emplacar entrevistados têm ouvido que o apresentador está de férias e só volta no ano que vem. É mentira. Depois de duas semanas de folga, Jô volta ao batente amanhã e grava na Globo até as vésperas do Natal.


OUVIDORIAAtores de ‘Páginas da Vida’ voltaram a reclamar que estão recebendo os capítulos da novela na véspera das gravações e que, por isso, não têm tempo para estudá-los.


RESERVADOO ator Alexandre Barillari ainda é contratado do SBT, como participante de ‘Bailando por um Sonho’, mas a Record já conta com ele para a novela que irá substituir ‘Bicho do Mato’.’


Laura Mattos


Caixa-preta da TV


‘O Brasil está em choque. A estrela da novela das oito da maior rede de TV do país foi morta com um tiro que atravessou o silicone de seu peito. Na lista de suspeitos, boa parte do elenco, o autor e o diretor do canal. Viciada em álcool e cocaína, a musa quase cinqüentona vivia envolvida em escândalos e colecionava desafetos. Na emissora, o clima era de festa. Aproveitaram para matar sua personagem, criar um ‘quem matou?’ e elevar a audiência da então fracassada novela a um patamar histórico.


Essa é a trama de ‘98 Tiros de Audiência’, novo romance policial do novelista da Globo Aguinaldo Silva, 62, baseado em fatos e personagens reais da televisão. Em entrevista exclusiva à Folha, ele não deixa dúvidas: ‘Minha intenção foi realmente abrir a caixa-preta da TV.’


Autor de novelas como ‘Roque Santeiro’, ‘Tieta’ e ‘Senhora do Destino’, Silva transporta ao livro sua vivência de quase três décadas na Globo. ‘98 Tiros’ (Geração Editorial, 340 págs) é seu 14ª romance, e Silva anuncia que irá se dedicar exclusivamente à literatura a partir de 2010, quando termina seu contrato com a Globo. Leia a seguir algumas de suas apimentadas revelações.


FOLHA – O livro tem quanto da sua experiência de três décadas na TV?


AGUINALDO SILVA – Quase tudo vem de histórias que vivi ou ouvi, só que não são contadas necessariamente como aconteceram. Acrescentei os temperos da ficção. Embora seja um livro baseado em fatos reais, é 100% um livro de ficção. Ainda não é o meu livro de memórias.


FOLHA – O leitor então, paralelamente ao romance policial, encontra a realidade dos bastidores da TV.


SILVA – A minha intenção foi realmente abrir a chamada caixa-preta. Existe um interesse muito grande em relação a esse universo, que é muito fechado e mitificado. Os personagens da TV são tratados como deuses, e quis desmitificar isso, mostrar que somos seres humanos, temos paixões, ódios. É um ambiente de grandezas e misérias como qualquer outro.


Não sou um sociólogo, mas tive a intenção, que pode parecer pretensiosa, de mostrar como funciona esse universo que ocupa tanto a atenção das pessoas. Queria que daqui a 20 anos, quando alguém quisesse saber como era a TV brasileira naquela época, pudesse ler esse livro. Não quis escrever um livro que causasse escândalo, mas algo que fosse além disso.


FOLHA – Mas as fofocas são saborosas. É real a história da estrela que erra 37 vezes a fala só para prejudicar o ator com quem contracenava?


SILVA – Sim. Não presenciei, mas ouvi os relatos. E o ator, como no livro, perdeu a paciência e bateu com a cabeça na parede. Não vou dizer quem foi, claro.


FOLHA – Nem quando aconteceu?


SILVA – Isso foi… deixa eu ver… acho que foi na época de uma novela chamada ‘Água Viva’ [risos]. [Globo, 1980, escrita por Gilberto Braga e Manoel Carlos, com Betty Faria, Tonia Carrero e Beatriz Segall].


FOLHA – A emissora na qual tudo se passa ia ser chamada de Rede, mas mudou para Network [rede, em inglês]. Foi para distanciar da Globo?


SILVA – Minha intenção foi essa. Não quero que pensem que é um ajuste de contas meu com o veículo ou com a emissora na qual trabalho. A Network é uma somatória de todas as TVs.


FOLHA – Mas o livro fala que é a principal rede, que o ibope é muito maior do que a das outras, que na quarta-feira o futebol deixa o capítulo da novela menor. É a Globo…


SILVA – [risos] O que não queria era que passasse que é um ajuste de contas. Não é um ataque à Globo como instituição.


FOLHA – O sr. já declarou que Aurora Constanti, a estrela do livro, é uma mistura de três atrizes reais.


SILVA – Isso. Mas tem também traços de outras atrizes. Essa história da cena que ela repete 37 vezes aconteceu com uma atriz bem mais idosa do que ela [Aurora tem pouco menos de 50 anos]. Na verdade, a Aurora é uma síntese de todas as deusas que povoam esse universo.


FOLHA – Meu chute: Vera Fischer, Suzana Vieira e Regina Duarte.


SILVA – [risos] Olha, eu adoro essas três, já trabalhei com elas e não consigo ver nenhuma delas na pele da minha diva.


FOLHA – As reuniões na Network são tensas, um joga a culpa no outro pelo fracasso da novela. Isso é real?


SILVA – Não é mais. Houve uma fase em que era assim. É meio terrível dizer, mas acho que hoje as reuniões perderam a graça. Tudo é objetivo, com hora marcada, ninguém sai do tom. Gostava mais de antigamente, quando todo mundo se descabelava, passava mal e você nunca sabia se ia sair vivo [risos].


FOLHA – Seu livro mostra uma grande carência e insegurança por trás da maioria das figuras da TV.


SILVA – Não queria que os leitores pensassem que nesse ambiente só há monstros, mas o contrário, queria mostrar que todos são seres humanos, com a carência agravada por lidar com a emoção, o que é forte e fragiliza esses profissionais.


FOLHA – O livro trata da imprensa com uma boa dose de veneno…


SILVA – Ao mesmo tempo que o trabalho na televisão é visto com certa condescendência, a TV é no fundo considerada algo menor. O jornal sabe que precisa falar de TV, mas não a vê como assunto sério. Assunto sério é o cinema iraniano [risos].


FOLHA – Um dos personagens diz que quem matou Aurora foi a mídia. A mídia é cruel com as celebridades?


SILVA – Tenho visto casos que me deixam chocados. Eu me lembro que houve uma campanha terrível da mídia contra Oswaldo Montenegro, um compositor mediano como vários outros do Brasil. Ele foi escolhido para ser o exemplo do que havia de mais chato, de mais careta, e era injustificado porque fazia shows de sucesso. No noticiário especializado em TV, nada é profundo. Isso acontece com celebridades que fogem do padrão, como Aurora. São desconstruídas para serem digeríveis pelo público.


FOLHA – Everardo Lopez, o autor em ‘98 Tiros’, tem uma ereção quando sua novela atinge 98 pontos de audiência. ‘Roque Santeiro’ [1985], de sua autoria, chegou a isso. O que há do sr. nesse novelista?


SILVA – Pensei em disfarçar, mas vou assumir: Everardo sou eu e não abro mão disso [risos]. A ereção é um símbolo do senso de poder que aquilo transmite ao autor. Acho que com autores que mal saíram da adolescência, isso deve até acontecer. Comigo não ocorreu [risos].


FOLHA – No livro, o autor entra em depressão quando cai a audiência da novela. O sr. já passou por isso?


SILVA – Passei um pouco em ‘Suave Veneno’ [1999], quando tive de enfrentar o Ratinho no auge. Não é que ele tenha ganhado, mas você se sente vencido porque a audiência na Globo não admite nem a proximidade com as concorrentes. ‘Suave Veneno’, mesmo sem ser um sucesso, tinha 25 milhões de telespectadores. É maluco você se sentir um fracasso porque ‘só’ 25 milhões vêem a novela.


FOLHA – Sua relação com Dias Gomes foi conflituosa como a do novelista do livro com seu mentor?


SILVA – Nossa relação durante alguns anos foi muito traumática. Ele me convidou para escrever ‘Roque Santeiro’, cuja idéia original era dele. Escrevi dois terços, e ele resolveu que escreveria o final. Não nos falamos durante dez anos. Até que numa reunião, sobramos só eu e ele no balcão do cafezinho. Ele virou para mim e perguntou: ‘Toma com açúcar ou adoçante?’ [risos]. Foi ótimo.


NA INTERNET – Leia a íntegra www.folha.com.br/062991′


Bia Abramo


Novela retoma obscurantismo


‘QUEM cresceu nos anos 70 lembra do pavor que eram as novelas de Ivani Ribeiro. Não que fossem muito piores que as da Globo, mas quase todas lidavam, de alguma forma, com o lado escuro da existência e isso, nos televisores em preto-e-branco que ainda eram maioria, ficava ainda mais assustador.


Enquanto as novelas globais, com algumas exceções aqui e ali, apostavam numa certa modernidade de costumes e de comportamento, a Tupi cultivava despudoradamente o obscurantismo.


Apesar de a Tupi ter inaugurado a telenovela ‘moderna’ com ‘Beto Rockfeller’, quem melhor aproveitou as ousadias experimentadas ali foi a Rede Globo, com seu projeto mais ‘realista’ e afinado com a contemporaneidade. Com isso, suas novelas atingiram prestígio crescente nos anos 70 e foram umas das principais responsáveis por sua ascensão vertiginosa.


À Tupi restou, então, explorar um nicho mais arcaico de temas e de motivos em suas novelas, apelando para histórias com elementos paranormais, com forte carga mística e quetais. A grande autora e também grande no sentido de bem-sucedida dessa tendência foi Ivani Ribeiro, cujas novelas eram ‘fortes’ e davam pesadelos nas crianças.


Curiosamente, de uns tempos para cá, a Rede Globo deixou de ter dois pudores importantes: o de fazer remakes da antiga concorrência e o de explorar também o misticismo e os temas esotéricos e vem sendo, em termos de audiência, feliz nesse sentido. ‘O Profeta’, que estreou no horário das 18h há duas semanas, retoma o original da Tupi num diapasão mais juvenil, talvez um pouco menos cafona, mas com a premissa absurda intacta.


Claro que a ficção deve ser fantasiosa, a falta de fantasia e de imaginação é justamente um dos grandes problema das novelas e pode partir de absurdo, mas a idéia de que alguém pode ser um joguete de um destino já traçado vai um pouco além de um simples arroubo imaginativo e da tolerância ao incrível.


Além do protagonista fraquinho, a novela vai ter que se haver com esse tom anacrônico, tão avesso ao individualismo moderno.


Já a Record parece estar acertando mais com sua novelinha juvenil, ‘Alta Estação’. Sem arriscar coisa nenhuma e na trilha segura aberta por ‘Malhação’, é só preciso caprichar um pouco mais na produção para tornar-se uma alternativa para os mais crescidinhos que ainda gostam de se olhar no espelho distorcido da caricatura ‘jovem’.’




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