Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A cobertura segundo os donos

THE NEW YORK TIMES

Em palestra na Universidade da Califórnia, os principais executivos do New York Times comentaram o processo editorial do jornal e responderam a críticas sobre a cobertura do Oriente Médio e dos planos de invasão do Iraque. Conta Michelle Smith [AP, 20/11/02] que, para o publisher Arthur Sulzberger Jr, é trabalho do jornal assegurar que haja um debate político franco e honesto antes que o país se engaje numa guerra. O editor-executivo Howell Raines também afirmou que o Times vai se esforçar para enviar repórteres à zona de guerra, como fez no Afeganistão, apesar das tentativas do governo Bush de controlar o acesso da imprensa.

Mark Danner, professor da faculdade de Jornalismo da universidade e redator do NYT, observou que os conservadores acusam o jornal de fazer campanha contra a ação militar, enquanto liberais afirmam que eles repetem demais a visão do governo. Para Raines, tais acusações são "ingênuas", pois "se há uma ausência de debate no país, se o Congresso não enfrenta o governo, isso é matéria". Sobre o Oriente Médio, Raines afirmou que muitos questionam por que o Times não tem sucursal na Cisjordânia ou em Gaza, e apenas cobre a área de Jerusalém. Tal questão "presume que onde você está influencia como você pensa. O endereço não determina aonde nossos repórteres vão ou o que pensam".

O editor-executivo também declarou que o Times não errou ao publicar que centenas de manifestantes participaram de uma marcha pela paz em Washington, número menor do que o esperado pelos organizadores, relato depois corrigido pelo próprio jornal. "A primeira história estava incompleta. O número foi uma questão de julgamento, de foco. Neste ramo há apenas uma coisa a fazer quando se está errado, e é corrigir-se o mais rápido possível."

A cobertura internacional deverá ser expandida para atrair mais assinantes, pois Raines acredita que há um público em expansão para esse tipo de notícia. No entanto, defendeu a decisão de colocar recentemente na capa matéria com um dos ídolos da cultura pop, Britney Spears. A reportagem "falava da máquina da fama, da estrutura econômica por trás disso. Nossos leitores estão interessados em ler uma exegese sofisticada de um fenômeno sociológico como este", explicou. "Se você parar de mudar, vai se diminuir, e não aprimorar o que você é", completou Sulzberger. "Nós vamos mudar para a próxima geração."