JORNALISMO INVESTIGATIVO
Luciano Martins Costa (*)
O seminário promovido pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas, no sábado passado, em São Paulo, produziu o surgimento, na prática, da associação brasileira de investigação jornalística ? assim, com caixa baixa, porque ainda não é o nome oficial da entidade. Desse modo, os repórteres e editores interessados no jornalismo investigativo poderão ter em breve uma fonte de capacitação e troca de experiências, nos moldes do IRE ? Investigative Reporters and Editors ?, que nos ajude a encontrar o equilíbrio entre a pasmaceira e o denuncismo. Rendeu também a oportunidade de excelentes debates e uma constatação otimista: o peso e a onipresença de alguns egos tamanho GG não foram impedimento para que o encontro chegasse a bom termo.
Desde o princípio, aliás, ficou clara certa tensão entre alguns participantes e determinadas figuras do cenário jornalístico que têm construído expressivas carreiras-solo com base na estratégia do "muito barulho por nada" ? aquelas reportagens que ganham grande destaque nos primeiros dias, depois rendem algumas repercussões e em seguida morrem para nunca mais nos dizer que fim levaram os acusados, suas vítimas ou os valores envolvidos.
Alguns profissionais experientes que amanheceram na sede da ECA estavam ressabiados também com a possibilidade de alguma manipulação na composição do núcleo dirigente da entidade. Não porque desconfiassem dos organizadores, mas pelo vício dos acertos prévios que tradicionalmente emperra as iniciativas da categoria. Nada disso ocorreu, e o que se viu foi uma aula de profissionalismo de Rosental Calmon Alves, titular da Knight Chair, que não apenas conduziu a maior parte dos trabalhos, também portou o microfone para as perguntas e foi visto até mesmo ajeitando ventiladores numa das salas para amenizar o efeito do calor.
É certo que, no encontro sobre lavagem de dinheiro, o representante do serviço de Inteligência da Receita Federal, Deomar de Moraes, se excedeu na descrição dos recursos legais, e o procurador da República Celso Três se estendeu demais no relato de casos, ocupando o tempo que seria destinado ao debate sobre a melhor maneira de investigar o envolvimento de instituições financeiras e escritórios de advocacia no acobertamento do crime organizado. Mas, no fim das contas, a contribuição dos dois foi importante para definir o patamar a partir do qual uma associação desse tipo pode ser útil no apoio ao trabalho dos jornalistas.
Talvez se devesse mesmo fazer uma marca no calendário, registrando o dia 7 de dezembro de 2002 como a data em que o achismo e o chutômetro foram desligados e alguns egos foram desinflados em função do esforço coletivo de um grupo de profissionais que ainda considera possível resgatar um dos mais nobres papéis da imprensa. No momento em que as empresas de comunicação se reestruturam para receber o oxigênio de novos investidores, a constatação de que há jornalistas com mais de 20 anos de carreira ainda perseguindo recursos em busca de melhor qualidade nas reportagens é realmente boa notícia.
(*) Jornalista
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