Saturday, 04 de January de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 25 - nº 1319

O papel do jornalista na redação do futuro

SEMINÁRIO VEIGA DE ALMEIDA

Luiza Cruz (*)

O processo de apuração da notícia é a área em mais mudanças têm acontecido no âmbito da produção jornalística. Câmeras e microfones escondidos e equipes de reportagem acompanhando a polícia, paramédicos e bombeiros nas operações conhecidas como "ride-along" são extremamente populares nos EUA e vêm sendo tema de debates que, quase sempre, recaem na ética profissional. O que não podemos esquecer é que estamos falando de meios de apuração e obtenção da notícia proporcionados por novas tecnologias e que, ao mesmo tempo, o papel social do jornalista é informar, levantando temas de interesse público. Seriam então, na defesa deste papel social, válidas a utilização das facilidades dadas pelas novas tecnologias ou não? Não utilizá-las seria, obviamente, radical. E é exatamente aí que está o problema que, juntamente com questões sobre a convergência digital, é tema de debates em congressos sobre jornalismo nos dois hemisférios.

Neste panorama, nos bastidores do jornalismo as atenções que estão desviadas para o tema da apuração jornalística na era das novas tecnologias voltam-se mais especificamente para a inauguração da Newsplex ou o Newsroom of the Future, "a redação do futuro". Newsplex é um projeto desenvolvido em forma de consórcio por veículos de comunicação do mundo todo, especialmente europeus e americanos, por causa dos altos custos envolvidos. Localizado na Universidade da Carolina do Sul, em resumo, é uma redação-laboratório multimídia de última geração que pretende treinar e reciclar profissionais na otimização do processo de apuração e distribuição de notícias para diferentes mídias. O newsplex está sendo instalado pela IFRA, o comitê think-tank da indústria do jornalismo (comitês think-tanks são comitês instalados para pensar e apresentar soluções para assuntos pré-determinados. Quase sempre são compostos de profissionais e acadêmicos, na tentativa de juntar experiência profissional e pesquisa).

Múltiplas funções e habilidades

Mas o que há de tão especial sobre esta redação além do fato de utilizar tecnologia de ponta? Fácil: o newsplex não é sobre equipamentos mais ou menos modernos, mas sobre uma mudança de percepção do que é possível fazer em termos de notícias com as novas tecnologias de comunicação. Por exemplo, numa cena do vídeo de apresentação da Neswplex vêem-se dois editores trabalhando na apuração e na administração de várias notícias, em vários formatos, de e para várias partes do mundo. A preocupação deles em nenhum momento é com o produto final. Porque não há mais produto final. Com as tecnologias utilizadas, o tempo real com o qual estivemos brincando até agora torna-se uma realidade. A preocupação é apurar o maior número de informações possível, por todos os ângulos necessários para que sejam não só distribuídas por todas as mídias, mas também para todas as partes do globo.

A apuração sempre foi, sem sombra de dúvidas uma das partes mais importantes do jornalismo. Afinal, sem ela nada existe. No entanto, agora, a apuração é o jornalismo. A apuração é tudo o que existe. Habilidades tradicionais do bom jornalista também são imprescindíveis nesta era high tech: o olho para a notícia, a habilidade de cultivar fontes e a técnica da entrevista mantêm seu valor. O que está perdendo valor são estas habilidades sem o domínio das novas tecnologias e sem a compreensão global das mídias.

Assim, vemos que o repórter multimídia tão combatido ? com razão ? por sindicatos e outras associações de classe não é mais uma opção, mas uma realidade. Isto porque não estamos mais falando de redação de jornal que produz noticiário para rádio ou para versões online, e sim de redações verdadeiramente multimídia em que um meio não tem precedência sobre o outro. A questão é sutil porque não se trata de um repórter com múltiplas funções, mas de um repórter com múltiplas habilidades.

(*) Jornalista, professora universitária e pesquisadora