Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Mídia mercenária e o apocalipse

FUTURO PESSIMISTA

Heitor Reis (*)

O ser humano é imperfeito, falho e inexperiente por natureza. Ou seja, em função disso é também corrupto, por natureza. Assim, produz uma sociedade que é resultado do somatório ou multiplicatório das características individuais de seus componentes, culminando num sistema capitalista selvagem, no qual predomina a bestialidade comum dos humanos com os animais predadores. Ou um sistema socialista com o mesmo perfil. Isto é, na prática, a teoria é outra.

O homem é ditador por natureza. Mentiroso, enganador, hipócrita etc. E, quanto maior seu poder, mais evidentes ficam suas deformações de caráter. Mas a atividade em que isso nos traz maiores prejuízos é a mídia, porque todas estas nossas possibilidades e realidades são maximizadas, clonando e aprimorando nas mentes incautas, que formam a maioria da população, o estilo bad boy de vida.

Tenho um irmão que ocupou cargos na média administração de grandes empresas de Minas Gerais, que informa ser comum o pagamento à imprensa pela produção de matérias, como se fossem espontâneas e naturalmente informativas, quando, na realidade são propaganda paga.

Onde está a ética na atividade jornalística? Tudo balela! O único objetivo é realmente o lucro. Se for possível, mostra-se a verdade até que atinja o ponto de equilíbrio, antes que comece a interferir com o alvo maior da atividade. O grande negócio é corromper e ser corrompido, enganando a massa. Tudo e todos são meras mercadorias, à venda na grande vitrine do templo do deus mercado.

A questão, agora, é extrapolarmos o futuro da nação e do planeta neste cenário. O que nos espera no futuro? Alie-se a isso matéria da Agência Folha sobre pesquisa da Transparência Brasil <www.transparencia.org.br>, que analisa o índice de corrupção das nações. Neste caso, de nosso país.

1) 48% das empresas já se sentiram forçadas a pagar algum tipo de “pedágio” para participar de licitações ou para escapar do pagamento de impostos.

2) 70% das empresas já se sentiram obrigadas a contribuir para campanhas eleitorais. Mais da metade delas (58%) afirmou claramente ter recebido do político a promessa de receber alguma vantagem em troca.

3) Longe de chocar, a corrupção é até vista como normal em alguns casos. Essa prática, apesar de ilegal, é aceita por 33% das empresas ouvidas. Entre os empresários do setor de serviços, essa fatia passa para 40%. (Agência Folha, 29/11/2002)

A mídia informa somente o que lhe convém, ou ao que convém a quem lhe paga para mascarar notícias. Ou evitá-las. Ou, ainda, superficializá-las, dosando, em cada caso, a intensidade e a ênfase aplicada ao divulgar cada fato.

Além da iniciativa privada, a mídia tem, como parceiro natural no processo de dominação das massas, o próprio Estado, privatizado por políticos também mercenários, com as almas vendidas àqueles que lhes financiaram as campanhas. Funcionários públicos, que praticam os fatos descritos pela Transparência, completam um quadro aterrador, porém impune.

Os cleptomaníacos são os senhores do Estado, da mídia, das igrejas e das grandes empresas, formando uma quadrilha extremamente sofisticada, assaltando as classes mais indefesas de nossa sociedade.

Profecias apocalípticas

Esse é que é o crime verdadeiramente organizado, em que todo mundo rouba todo mundo, e ser honesto é particularmente uma arte impossível, como pregava Rui Barbosa, um século atrás. Corrigindo: se todo mundo roubasse todo mundo, com a mesma intensidade, teríamos um caso extremamente justo de roubalheira. A democratização e a socialização do furto. Mas o problema é que os poderosos furtam os mais fracos, e estes somente conseguem dar o troco se entram para o crime organizado em sua versão mais primitiva, ou crime desorganizado mesmo. Aí surge outro problema: a justiça está do lado do furto institucionalizado, já que a sentença também está à venda na bolsa de valores em que se transformou a atividade estatal.

Percival de Souza, em entrevista a Boris Casoy em 15/12/2002, comentando seu livro sobre Tim Lopes, foi cristalino: o narcotráfico está infiltrado em todos os segmentos da sociedade e do Estado. Vivemos, segundo ele, sob uma narcoditadura, título de sua obra.

Como podemos acreditar que um mundo melhor seja possível, segundo nos asseguram o Fórum Social Mundial, o PT e outros segmentos otimistas da sociedade, inclusive o cantor Roberto Carlos (nesta mesma data, no Fantástico), cantando a superioridade do Bem sobre o Mal, quando tudo nos aponta para o fato de que se está sofisticando tudo o que sonhamos modificar no caráter da espécie humana? Não temos nenhum interesse em fazer uma reflexão sincera sobre a realidade, contando com a coloração “gratuita” da mídia. Ela conduz especialmente o telespectador para uma realidade virtual e superficial.

Que mundo nos espera no futuro? A resposta é óbvia: aquele que estamos construindo hoje. As profecias apocalípticas do Anti-Cristo, controlando tudo e todos, institucionalizando explícita e mundialmente o domínio das trevas, torna-se sombriamente mais factível (Apocalipse, 13:15 a 17).

(*) Engenheiro civil