Um artigo sobre o casal Clinton na edição de 23/5 do New York Times teve uma das mais negativas reações dos leitores dos últimos tempos. Assinado por Patrick Healy, o texto abordava a relação do ex-presidente Bill com a senadora Hillary e analisava as implicações políticas de seu casamento para a campanha dela para a reeleição no Senado e suas aspirações à candidatura presidencial.
Byron Calame conta em sua coluna [4/6/06] que muitos leitores classificaram a peça de ‘jornalismo de tablóide’, e revela discordar da acusação. Para ele, a relação do casal Clinton é, sim, algo de interesse público. ‘A relação única da senadora com o ex-presidente estará certamente na mente de muitos eleitores caso ela concorra à presidência’, explica o ombudsman.
Calame enumera alguns deslizes do texto, como uma piada já velha sobre a vida social de Bill Clinton, mas afirma que, em geral, ele conseguiu concentrar a atenção no impacto político do casamento de duas figuras tão importantes do cenário político americano. O ombudsman aponta que pelo menos metade dos parágrafos do texto de duas mil palavras continha referências a considerações políticas, defende que seu tom imparcial e brando pareceu a ele um exemplo de bom jornalismo e elogiou a edição cuidadosa – ressaltando apenas que ela pode ter levado o artigo a ter tido consideração demais pelo casal em questão.
O artigo, conta o editor da seção Metro, Joseph Sexton, surgiu de uma reunião entre editores que tinha como objetivo desenvolver linhas de reportagem para a cobertura da campanha de Hillary ao Senado e sua potencial campanha para presidência. Segundo o editor-executivo do Times, Bill Keller, quando é preciso decidir sobre noticiar a vida privada de figuras políticas, ‘poucos casos são tão claros quanto o do casamento dos Clinton’.
Infratores identificados
Calame tratou de um segundo tema em sua coluna deste domingo: a publicação do nome de infratores juvenis. Em 24/5, o Times noticiou o triste caso de uma menina de oito anos que morreu esmagada por um ônibus escolar no Brooklin depois que um menino de também oito anos soltou o freio de emergência do veículo, que estava estacionado e saiu desgovernado. A triste história tornou-se polêmica quando o jornal também publicou, no segundo parágrafo da matéria, o nome do menino que causou o acidente.
A polícia inicialmente o prendeu sob acusação de homicídio, mas o departamento responsável por casos juvenis decidiu retirar a queixa três dias depois do ocorrido. ‘Não há uma explicação razoável para que uma criança de oito anos, que não foi condenada de nada, tenha seu nome publicado no New York Times‘, protestou o leitor Erik S. Pitchal, que dirige um centro dos direitos das crianças em Nova York. ‘Isso irá marcar este menino para sempre’.
O editor Joseph Sexton afirmou achar se tratar de um erro a publicação do nome, e disse que propôs uma discussão na redação sobre a política do jornal. Calame afirma que a política do Times em identificar a identidade de infratores menores de idade é bastante flexível. A regra diz que a decisão de divulgar o dado deve ser debatida com um editor do alto escalão ou com o chefe da editoria.
O novo editor de qualidade do Times, Craig Whitney, afirma que, neste caso específico, este cuidado não foi tomado. Whitney sugeriu que a redação discuta e defina mais precisamente os fatores que devem estar presentes na decisão de publicar, ou não, o nome de jovens infratores, como separá-los por faixa de idade, por exemplo.