Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornal reduz uso de fontes anônimas

Mais uma vez a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, abordou um assunto polêmico no meio jornalístico: fontes anônimas. Deborah inicia sua coluna de domingo [4/6/06] afirmando que o uso de fontes anônimas pode prejudicar a credibilidade do jornal. De acordo com ela, o manual de normas do Post informa que ‘quando usamos uma fonte não identificada, pedimos aos nossos leitores um voto de confiança na informação que estamos fornecendo. Devemos estar certos de que o benefício dos leitores vale o custo da credibilidade’.

Desde 2004, o Post passou a incentivar os seus repórteres a pararem de usar fontes anônimas. Uma regra estabelecida então afirma que o jornal ‘quer ser o mais transparente possível com os leitores, para que eles saibam de onde foi retirada a informação’. Uma pesquisa feita na segunda e terceira semanas de abril nos anos de 2004, 2005 e 2006 mostra que os repórteres do Post têm conseguido seguir tal regra.

Deborah analisou os artigos publicados nestas semanas e verificou que, em 2004, 66 matérias continham fontes anônimas; em 2005, o número foi para 68 e, em 2006, caiu para 45. Ainda assim, a ombudsman afirma que muito tem de ser feito para diminuir estes números, pois grande parte das citações anônimas não era suficientemente justificável.

Anonimato nos esportes e na política

Na pesquisa de Deborah, a seção de esportes foi a que mais usou fontes anônimas. ‘Uma cultura de confidencialidade cerca os esportes, para que as informações não vazem para seus rivais’, afirma Emilio Garcia-Ruiz, editor-assistente da editoria de esportes do Post. Segundo ele, antigamente era mais fácil falar com os jogadores. ‘O dinheiro mudou tudo. Todos que nós entrevistamos agora são milionários. É como entrevistar o Tom Cruise’, completa. Além deste fator, há uma luta de poderes entre agentes, sindicatos e donos dos times. ‘A fonte mais importante é o agente. Mas nenhum deles quer se identificar enquanto está em negociações’.

Mesmo com tantas fontes anônimas, a ombudsman não recebeu nenhuma reclamação de leitores sobre o uso das mesmas na seção de esportes – ao contrário da seção de política. De acordo com David S. Broder, repórter político e colunista do Post, a prática de usar fontes anônimas na seção de política tornou-se mais comum depois que os presidentes americanos, a partir da administração de Ronald Reagan, passaram a dar menos entrevistas e coletivas à imprensa. ‘Isto fez com que os repórteres passassem a procurar outras fontes [ligadas ao governo], e a maioria delas não quer ser identificada’, explica Broder. ‘Um outro fator foi o aumento de consultores políticos, que são boas fontes, mas pedem anonimato’.