Depois de sete meses de trabalho, a Comissão de Especialistas convocada pelo Ministério da Educação para propor mudanças curriculares nos cursos de Jornalismo entregou no dia 18/9 seu relatório final ao ministro Fernando Haddad, em Brasília. Segundo o presidente da comissão, professor José Marques de Melo, a principal inovação do documento foi abolir a grade curricular mínima e obrigatória, dando às universidades a liberdade de levarem em conta peculiaridades do mercado de trabalho local em seus projetos pedagógicos. Ele falou ao J&Cia sobre o relatório.
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Quais são as principais inovações contidas na proposta?
José Marques de Melo – A principal inovação é a ausência de uma grade curricular mínima, obrigatória para todo o território nacional, como tem ocorrido até agora. A comissão preocupou-se em garantir a liberdade das instituições universitárias para montar seus currículos de forma independente, exercitando a criatividade pedagógica. O que consta do documento entregue ao ministro da Educação é a fixação de habilidades e competências que devem ser aprendidas e assimiladas criticamente pelos futuros jornalistas, de acordo com os eixos de conteúdo propostos.
Na consulta feita a toda a sociedade, sentimos que a comunidade acadêmica estava saturada de aplicar diretrizes autoritárias, sem possibilidade de inovação e ousadia. Nos projetos pedagógicos a serem propostos ao MEC as universidades devem demonstrar que cumprem os requisitos cognitivos necessários ao desempenho da profissão de jornalista, de acordo com as peculiaridades do mercado de trabalho em que seus diplomados vão atuar.
A revogação da Lei de Imprensa e a queda da obrigatoriedade do diploma tiveram algum impacto na elaboração das diretrizes?
J.M.M. – Muito pouco impacto, porque a comissão já vinha trabalhando com a preocupação de propor diretrizes curriculares que neutralizassem aquelas lacunas de formação dos jornalistas que os adversários do diploma mais apontavam. A decisão do STF acaba com a ‘obrigatoriedade’ do diploma, não com o diploma e tampouco com a profissão. Na verdade, o mercado de trabalho já vinha atuando como árbitro do diploma, ao selecionar os diplomados mais competentes. As empresas têm declarado, por seus porta-vozes, que continuarão preferindo os jornalistas diplomados. Isso valoriza mais ainda o diploma, razão pela qual as diretrizes curriculares procuram corresponder às demandas da presente conjuntura.
O senhor acha que a não exigência do diploma vai implicar a fuga de alunos e/ou a extinção de cursos de Jornalismo? O que podem fazer as instituições de ensino para evitar isso?
J.M.M. – Os bons cursos permanecerão recebendo bons alunos e diplomando jornalistas competentes. Mas os cursos que priorizavam apenas o diploma, sem oferecer aos seus portadores bagagem cognitiva consistente, certamente estarão em dificuldade.
A comissão que o senhor presidiu acompanhará a implementação das diretrizes, caso elas venham a ser aprovadas no Conselho Nacional de Educação?
J.M.M. – A comissão concluiu, formalmente, sua missão, ao entregar as recomendações ao ministro Haddad. Mas os membros da comissão, na medida de suas possibilidades, estão dispostos a cooperar. Todos são professores e profissionais que possuem folha de serviços prestada aos projetos de interesse coletivo.
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Além de Marques de Melo (USP e Metodista), integraram o grupo os professores Alfredo Vizeu (UFPE), Carlos Chaparro (USP), Eduardo Meditsch (UFSC), Lúcia Araújo (Canal Futura), Luiz Gonzaga Motta (UnB), Sérgio Mattos (UFRB – Recôncavo Baiano) e Sonia Virgínia Moreira (Uerj). A proposta seguirá para o Conselho Nacional de Educação, mas ainda não tem data para aprovação. A íntegra do relatório está disponível aqui.