Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

COPA 2006
Carlos Marchi

Craques criticam uso da Copa como arma política

‘A eventual vitória do Brasil na Copa do Mundo não ajuda ninguém a ganhar eleição, afirmam craques que já passaram pela seleção brasileira. Eles conhecem bem o fenômeno dos enxames de políticos que sempre circundam os jogadores nas vitórias – ‘Sempre tentaram se aproveitar disso’, relatou Pelé ao Estado – e contam por que não dá certo misturar futebol e eleição: o povo vibra com as vitórias, mas logo percebe que elas são efêmeras. ‘O uso do futebol pela política não se reverte em votos’, assegura Tostão.

Raí dá uma razão sociológica para esse mecanismo: a alegria com as grandes conquistas é tão grande que parece mudar a face do País. ‘Mas a vibração com as conquistas começa a perder força, ao mesmo tempo em que o povo percebe que, na realidade, nada mudou, tudo continua como antes. Aí vem a decepção’, observa. Ele, Tostão e Zico revelam que tiveram sentimentos parecidos: ficaram eufóricos com as conquistas de que participaram, mas depois perceberam que suas proezas não tiveram a força de mudar a triste realidade do Brasil.

Uma coincidência perpétua de calendários estimula a mistura de futebol com política – as Copas do Mundo sempre ocorrem quatro meses antes das eleições gerais. Essa proximidade facilita episódios como o duelo verbal de anteontem, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Ronaldo Fenômeno. Mas nas cinco vezes em que o Brasil foi campeão mundial, o primeiro compromisso da seleção, na volta ao País, foi visitar o presidente da República.

Foi assim em 1958, com Juscelino Kubitschek; em 1962, com João Goulart; em 1970, com o general Garrastazu Médici; em 1994, com Itamar Franco; e em 2002, com Fernando Henrique Cardoso. É assim, também, em outros níveis. ‘Aqui na Câmara, não pode aparecer um jogador. Todo deputado quer capitalizar’, diz Deley, ex-volante do Fluminense, primeiro futebolista profissional a se eleger deputado federal.

‘As mazelas do futebol são as mesmas mazelas da política’, constata Raí. Zico concorda: ‘O que acontece no futebol é um reflexo da sociedade. Se temos desigualdades na sociedade, elas certamente se repetem no futebol. E, se há corrupção na sociedade e na política, como imaginar que não houvesse no futebol?’ Tostão confessa que em 1970 se sentiu muito desconfortável com a manipulação política da seleção tricampeã mundial pelo regime militar: ‘Eu era contra a ditadura, achava aquilo tudo um horror.’

Afonsinho, volante que pontificou no Botafogo carioca, afirma que a apropriação das conquistas do esporte foi mais clara à época do regime militar. Mas ele lembra que os antigos países comunistas usavam o esporte para promover seus regimes; e, com tristeza, constata que, embora usados pelos políticos, os atletas nunca conseguiram aprender a praticar política para defender seus direitos.

Ele mesmo tentou se eleger deputado federal pelo PSB, sem êxito. Ainda hoje, apesar do arrebatamento que o futebol exerce sobre a população, o Senado não tem nenhum ex-jogador entre seus membros e, dos 513 deputados, há apenas o ex-futebolista Deley. Zico diz não achar ruim que dirigentes de futebol se candidatem: ‘Muitos são legítimos representantes do povo e podem trabalhar bem. Mas é claro que há oportunistas que se aproveitam da notoriedade proporcionada pelo futebol para levar vantagem.’

Zico diz que, quando se sente usado, recorre a mecanismos para escapar. Relata que, ao ocupar o cargo de secretário nacional de Esportes, sentiu, em determinado momento, que não poderia mais contribuir: ‘Vi que havia coisas erradas e me retirei. Sou assim até hoje’, comenta. Raí garante que sabe se defender dessas situações: ‘Pessoalmente, nunca me senti manipulado.’

Mas outros não escapam. Pepe, que fazia ala com Pelé no Santos, lembra que as constantes viagens do time atraíam, em todos os lugares, caravanas de políticos, quase sempre levados por dirigentes dos clubes locais ou jornalistas amigos. No início da carreira, Pelé dividia o quarto de hotel com Dalmo, lateral-esquerdo à época, mas depois da fama passou a ficar sozinho nas suítes presidenciais, onde recebia os políticos ávidos por uma foto a seu lado para exibir na campanha eleitoral.

COLABOROU EVANDRO FADEL’

Antero Greco, Jamil Chade

‘O Ronaldo vai votar no Lula’

‘A trombada entre Ronaldo e o presidente Lula terminou em pizza light. O chefe de Estado enviou o ministro dos Esportes para visita de cortesia à seleção e o atacante colocou em seu site ponto final na discussão em torno de excesso de peso ou sobriedade. Até Nélio, pai do astro, entrou em cena, na operação abafa, com uma ‘revelação’ definitiva. ‘O Lula é meu ídolo. Votei nele, vou votar de novo e meu filho também vai.’ O mal-estar começou na quinta-feira, com a videoconferência entre Lula e a delegação brasileira. Durante o bate-papo, o presidente perguntou a Parreira se era verdade que Ronaldo estava gordo. Na hora, o treinador riu, disse que não era nada daquilo e aparentemente o episódio passou batido. Menos para Ronaldo. No dia seguinte, o artilheiro devolveu a farpa, em forma de crítica à imprensa. ‘Ele disse que estou gordo, assim como dizem que ele bebe pra caramba. Tanto é mentira que estou gordo, como deve ser mentira que ele beba pra caramba.’ Pronto, a saia ficou mais justa….

O episódio ganhou tamanha repercussão que jornalistas estrangeiros buscavam informações sobre o fato e pediam até para saber qual era ‘exatamente o nome completo do presidente brasileiro’.

Ontem, em Kõnigstein onde o Brasil treina, o ministro dos Esportes, Orlando Silva, fez visita oficial à seleção e deu o primeiro passo para o ponto final no caso.

Ronaldo, após o treinamento, permaneceu com a família nas arquibancadas do campo. Depois de ter sido apontado como gordo, de ter tido bolhas nos pés, de ser poupado de treinos por resfriado e de responder ao presidente, o atacante recebeu o carinho de sua mãe, dona Sônia, e foi o último a deixar o local de treinamento.

O pai do atacante, seu Nélio, garantiu que não acompanhou o diálogo pela imprensa entre seu filho e o presidente. Mas deu sua opinião e rasgou elogios a Lula. ‘Lula é um grande presidente e não falaria nada sobre isso. Para mim, o Lula é um dos melhores presidentes que o Brasil já teve. Voto nele e vou continuar votando nele. Para mim, ele é um ídolo brasileiro do povo’, afirmou. ‘O Ronaldo também vai votar nele.’ Passados alguns minutos, seu Nélio mudou de idéia e resolveu dar palpite sobre a conversa entre Lula e Parreira. ‘Acho que ele (Lula) só foi infeliz (na pergunta).’ Antes de se despedir dos jornalistas, ainda teve tempo para dizer que Ronaldo vai arrebentar na Copa e ‘fazer uns oito gols contra a Croácia’.

Orlando Silva também fez de tudo para dar o embate por encerrado. Ao visitar a seleção, afirmou que o objetivo era trazer ‘um abraço’ do presidente. ‘O presidente Lula adora o Ronaldo.’’

Leila Reis

Overdose canarinho

‘Está certo que em tempos de Copa do Mundo aflora um grande orgulho patriótico no peito do brasileiro. Não sem razão, afinal nós vivemos no país do futebol, temos a delegação mais talentosa do mundo a entrar em campo, os craques mais famosos do planeta, etc.

Mas a mídia está exagerando. O ufanismo verde-amarelo que tomou conta da televisão passa dos limites. É natural que o tema Copa ocupe mais tempo nos telejornais e ganhe terreno em outros cantos da programação. É previsível que Xuxa dance enrolada na bandeira antes de ensinar aos baixinhos um pouco da nossa gloriosa jornada em Copas passadas. É compreensível que o Louro José vista o uniforme da seleção, que Hebe leve para o seu sofá a esposa do jogador escalado e o craque que ficou fora da lista do Parreira.

O chato mesmo é o tom do jornalismo neste período. Como não há tanto assunto assim para ser explorado, especialmente antes do começo do campeonato mundial, as reportagens lançam não mais que pura enrolação.

Assim como na cobertura do carnaval, os repórteres e apresentadores assumem o papel de empolgadores da platéia, desenhando para o telespectador um cenário de entusiasmo para com o Brasil pouco verossímil. Isso sem distinção de emissora. Todos integram o front verde-amarelo na condição de levantar a nossa bola.

Nas reportagens sobre os treinos da seleção canarinho sempre há o destaque para nativos que ‘amam’ nossos craques. Tanto na Suíça quanto na Alemanha, ‘torcedores’ estrangeiros são convencidos a declarar sua paixão pelo futebol e pelas coisas do Brasil. Mesmo que a ‘massa’ seja composta por apenas duas moças. Escarafuncham as cidades para encontrar cidadãos locais – que saibam português, de preferência – para declarar seu amor pelo Brasil.

Pelo que a TV mostra, a caipirinha e o guaraná são as bebidas preferidas dos alemães. Pelo que a TV mostra, todas as vitrines do país estão decoradas com as cores da nossa bandeira. Pelo que a TV mostra, a Alemanha está tingida de verde-amarelo dos pés à cabeça. São as nossas câmeras farejando sinais de brasilidade em território alemão e ampliando-os até parecerem dominantes.

No afã de nos fazer crer que somos amados, a reportagem brazuca não mede esforços: coloca em frente das câmeras um vendedor de salsichas alemão para contar que o filho guarda entre seus suvenires uma bandeira do Brasil.

O trabalho para nos fazer crer que somos o máximo e que por isso merecemos a melhor atenção do mundo leva a demonstrações como a de Alexandre Garcia, no Bom Dia Brasil, da Globo, de quarta. Consternado, ele lamentava o fato de termos nos tornado notícia na imprensa internacional não ‘pelo quadrado mágico’, mas pela arruaça dos sem-terra no Congresso Nacional.

Os jornalistas que não conseguiram carimbar o passaporte fazem sua parte no esforço concentrado para disseminar o clima de a taça do mundo é nossa. Quando acabam as pautas sobre a indústria da confecção de roupas e bandeiras ou sobre o crescimento de vendas de aparelhos de televisão parte-se para outras mais prosaicas. Como ensinar a confeitar bolos com bandeiras ou a utilizar xarope de menta e suco de laranja para fazer drinques verde-amarelo!’



ENTREVISTA / FRANKLIN MARTINS
O Estado de S. Paulo

‘Nem morto digo em quem vou votar’

‘Essa é a única resposta que o jornalista, agora na Band, não dá. Mas fala de jornalismo, política e de sua saída da Globo

Seu pai foi jornalista e político. Ele foi militante político, é jornalista político e, em breve, lançará uma série de CDs com músicas que marcaram os mais importantes momentos políticos no Brasil. Apesar de dizer que gosta muito de ler poesias e jogar um ‘tenizinho’, não dá para imaginar a vida de Franklin Martins monótona em ano de eleições. Mesmo assim, em abril, ele prometeu pendurar suas chuteiras caso fossem comprovadas as acusações que Diogo Mainardi lhe fez na sua coluna da Revista Veja.

Mainardi afirmou que Martins usou de sua influência política para angariar nomeações no serviço público para seu irmão e para sua esposa. Até aí, ele achou que processar Mainardi e escrever uma carta aberta resolveriam os problemas. Mal sabia ele que, ao voltar de férias, o profissional que foi diretor de jornalismo da TV Globo em Brasília, o primeiro comentarista político do Jornal Nacional e um dos coordenadores da cobertura da Globo nas eleições 2002, seria dispensado. Sem mais.

Ele não achou correta a postura da emissora na qual trabalhou mais de oito anos, mas também não guarda mágoas. ‘Quem olha para trás vira estátua de sal’, diz. Por isso, acaba de acertar um novo contrato, com a Bandeirantes, e estréia amanhã no Jornal da Band.

Nesta entrevista, o militante que participou do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick (1969), que viveu anos na clandestinidade no Brasil e anos exilado, fala abertamente sobre ditadura, Globo e política. Só não vale perguntar em quem ele vai votar.

Depois de anos de carreira como é ver seu trabalho colocado em xeque como foi feito pela Globo?

Se você me perguntar por que a Globo não renovou o contrato comigo eu não sei. Sempre tive uma relação ótima com a Globo, mas nesses últimos seis meses essa relação veio se desgastando. Sentia que alguns comentários que fazia não eram o que eles esperavam.

E houve algum tipo de balizamento para seus comentários?

Nunca. Sempre gozei de liberdade na Globo. Bom, mas, em março – eu ia sair de férias em abril -, procurei a direção e disse: ‘Olha, meu contrato termina em maio, vamos conversar se vale a pena renovar ou não.’ Falei: ‘Se for para ficar uma situação legal, tudo bem, mas se for para ficar em uma situação em que eu depois possa ficar em uma geladeira de luxo, não vale a pena.’ E eles disseram, foram estas as palavras textuais: ‘Você tem uma posição absolutamente consolidada na TV Globo.’ Saí de férias. Estava na Espanha quando saiu o artigo do Diogo Mainardi e eu liguei para a Globo para perguntar qual era a atitude da TV e o que me disseram foi o seguinte: ‘A TV Globo acha que é um problema seu.’ Eu, sinceramente, não achava. Não queria que a Globo saísse em minha defesa, mas achava que ela poderia ter me dado solidariedade.

Adotando que tipo de postura?

Dizendo que eu gozava de inteira confiança na TV Globo, o que eles tinham acabado de me dizer. Bom, quando voltei de férias, me disseram que eles haviam feito uma pesquisa sobre os telejornais e haviam chegado à conclusão que eu não tinha uma imagem muito forte junto aos espectadores e que por causa disso haviam decidido não renovar meu contrato. Eu disse que essa explicação não me convencia e que a única coisa que tinha de diferente em relação a março eram os ataques do Mainardi. Disseram que não e eu disse: ‘Mas a impressão que vai ficar é que está relacionado. E não acho que a Globo está sendo correta comigo.’ Olha, não veria problema em sair da TV Globo, antes, mas nestas circunstâncias…

Achou injusto?

Para mim é incompreensível, não injusto. Se teve algo a ver com o Mainardi eles deveriam me dizer para que eu pudesse apresentar minha defesa. A explicação de que minha imagem era fraca sinceramente não me convence porque eu tive de sair do Jornal Nacional exatamente porque minha imagem era tão forte que se confundia com a opinião da empresa. Tem alguma coisa que eu não entendi nisso tudo, mas só levo coisas boas da Globo. Alguns dissabores, divergências que tive, isso não é nada perto dos desafios que eu tive lá.

E o que você acha do Mainardi?

O que ele fala são calúnias, mas estou tratando com esse senhor na Justiça. Vou continuar fazendo o jornalismo que sempre fiz. Acho que a função do jornalista não é puxar a sociedade pelo nariz para dizer para onde que ela tem que ir, é informar a sociedade para que ela forme sua própria opinião e decida para onde ela quer ir. Às vezes alguns jornalistas querem ir além de suas chinelas, querem conduzir o mundo, mas essa não é nossa missão.

Mas, ao dar uma opinião pessoal em seus comentários, como é fazer com que as pessoas pensem com suas próprias cabeças e não simplesmente reproduzam a sua opinião?

Um comentarista faz um misto de três coisas: ele dá a informação, faz a interpretação da notícia e dá opinião. Cada comentarista mescla esses três ingredientes da forma que julga mais conveniente. Eu acho que, especialmente em TV, o comentarista deve dar pouca opinião. A opinião é um tempero. O sal, a pimenta têm de dar um gostinho no fundo, mas não podem tomar conta do paladar. Mas há colunistas que acham que têm que dar opinião e ser bastante enfáticos para dizer para o espectador que ele tem que pensar como eles.

As pessoas se consultam muito com você?

Muito. Outro dia dei uma palestra e o cara disse: ‘Para quem você vai votar?’ e eu disse: ‘Nem morto vou dizer isso.’ É como comentarista de futebol, que todo mundo quer saber para que time ele torce. E eu acho que o sujeito não tem que dizer isto. É uma opinião dele, não é importante. Eu não digo ‘vote no fulano’, digo ‘a eleição está se encaminhando para isto ou para isto’. Não estou fazendo campanha, estou cobrindo uma campanha eleitoral.

Mas você não tem vontade de convencer as pessoas?

Afinal, tem um passado de militante.

Sou uma pessoa de esquerda, acho que o mundo é injusto, que precisa melhorar e ele não vai melhorar naturalmente. Ele só irá melhorar se as pessoas lutarem para isso. Mas não vou agredir quem não pensa como eu.

Há mais espaço hoje para a imprensa marrom?

Sempre tem alguém querendo aparecer, mas o jornalismo no seu conjunto é melhor que isso. Esse tipo de jornalismo pode causar um certo frisson, mas, com o tempo, as pessoas acabam se enchendo. Todo mundo tem um lado de lavadeira, mas as pessoas não são isso.

Você já pensou em ser político?

Você sabe que eu fui candidato a deputado federal pelo PMDB em 1982 no final da ditadura? Mas não fui candidato porque queria. Fui candidato mais como uma missão, aquela coisa: para apressar o fim da ditadura todo mundo deve ocupar espaço. E tive uma votação pífia porque não tenho a menor condição de pedir votos. Eu me lembro uma vez que chegou um sujeito e me pediu uma carta de recomendação para internar a sogra dele em um hospital. Digo: ‘Mas eu não conheço ninguém neste hospital!’ O sujeito saiu magoado, achando que eu era besta, mas deve ter ido em outro cara que deve ter dito: ‘Claaaro! Tó aqui sua carta.’ Enfim, não sei fazer esse tipo de enganação. Foi uma derrota bem-vinda.

E toda a sua luta como militante valeu a pena?

Claro. Não sou uma pessoa que fica falando o tempo todo da minha militância política por um certo pudor, entende? Não quero parecer que estou batendo no peito contando vantagem, mas tenho um enorme orgulho do que fiz, não que eu ache que nós fomos heróis. Não acho, acho que fizemos a nossa obrigação. Muita gente não fez, mas problemas dos que não fizeram. Sou satisfeito de ter feito, é algo que eu converso com meus filhos, vou conversar com meus netos. E muita gente que esteve do outro lado vive na clandestinidade até hoje, quem torturou, quem matou, quem perseguiu não pode falar sobre isso. Eu posso.

E das histórias que você se orgulha de contar para seus filhos?

Não vou ficar aqui contando o que eu fiz e o que eu não fiz. Fiz tantas coisas… peguei em armas, fui para o exílio, treinei guerrilha, levei anos clandestino… Mas acho que a luta não é feita de grandes momentos, é feita de rotina, de trabalho pequeno. Não acho que os grandes momentos foram maiores que a atividade cotidiana. Mas tive o privilégio de nunca ter sido torturado, fui preso e solto antes que a tortura se transformasse em uma prática rotineira por parte do aparelho do Estado.

Depois de uma vida tão conturbada, não fica tudo meio sem graça?

Às vezes os jovens me dizem: ‘Pô, era tão melhor no seu tempo.’ Não, não era. Vivíamos sob uma ditadura, as pessoas não podiam abrir a boca, podiam ser perseguidas, presas, torturadas, mortas. É muito melhor viver em uma democracia. Pode até ser menos emocionante, mas é muito mais agradável. Era emocionante? Pode até ser, mas por que a gente precisa viver emoções tão fortes? (risos)

No texto em resposta ao Mainardi, você escreveu que, se fosse confirmado que você havia feito tráfico de influências, penduraria suas chuteiras. Você conseguiria viver longe da política?

Bom, se isso ficasse caracterizado eu não teria condição de exercer minha função. Sabe, o que incomoda a ele e a muita gente é o fato de eu não ter entrado no esfola e mata. Esse negócio de querer ser o primeiro do pelotão do linchamento é muito bom para aparecer, mas não quer dizer que você está sendo justo. Mas consigo me desligar da política sim. Leio muito, gosto de jogar meu ‘tenizinho’ e estou há seis anos fazendo uma pesquisa monumental sobre a música e sobre a política no Brasil, estou preparando um livro e uma série de CDs. É sobre política, mas é um trabalho diferente.’



TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Ethevaldo Siqueira

Tecnologia faz o maior espetáculo da Terra

‘Nunca houve um evento de comunicação de massa das proporções desta Copa do Mundo. Da mesma forma, nunca houve um espetáculo que mobilizasse tanta tecnologia para ser transmitido a mais da metade da população mundial. É claro que, quando vemos um gol emocionante, a última coisa que vamos querer saber é que tecnologia está por trás daquelas cenas. Mas vale a pena refletir um pouco mais sobre essa face da Copa, antes da estréia da Seleção Brasileira.

As imagens de cada partida que vemos em nossos televisores são o resultado do trabalho conjunto de 25 câmeras de TV digital distribuídas em torno do campo, auxiliadas por mais de 400 microfones espalhados pelo estádio, numa infra-estrutura de transmissão que inclui 5 mil computadores, duas mil centrais telefônicas com tecnologia IP, rede internet a 10 gigabits por segundo (Gbps), 5,6 mil quilômetros de cabos de fibras ópticas duplicados, ligações via satélite, 450 centrais de telefonia celular e mais de mil estações radiobase.

Tudo isso representa um progresso extraordinário. Confesso que, embora acostumado à cobertura de eventos de tecnologia, não tinha uma noção aproximada das dimensões e da complexidade da transmissão e a coordenação dos jogos das 32 seleções na Alemanha ao longo do período que começou sexta-feira e vai até 9 de julho.

Acompanhando aqui em Munique a abertura da Copa, o primeiro impacto que senti foi ao visitar anteontem as instalações do Centro de Radiodifusão Internacional (International Broadcaster Center) e ouvir dos técnicos da Avaya, encarregados da megaoperação de telecomunicações, a descrição completa das tecnologias da comunicação e da informação (TCIs) e sistemas ultramodernos utilizadas na cobertura do maior evento de comunicação da história. Dentro de um imenso edifício, nos subúrbios de Munique, nesse Centro de Radiodifusão Internacional, estão abrigadas mais de uma centena de emissoras de televisão, com seus estúdios e instalações em plena atividade de cobertura da Copa, inclusive a brasileira Rede Globo. Cada estúdio foi construído em instalações de madeira porque, terminada a Copa, o edifício será preparado para outra destinação.

Os especialistas estimam que a audiência acumulada do primeiro ao último jogo será de 30 bilhões de espectadores. A rede convergente utilizada combina voz e dados na mesma infra-estrutura que conecta 70 locais, inclusive os 12 estádios utilizados, seus centros de mídia e o quartel-general da Fifa em Berlim. Do ponto de vista de confiabilidade e segurança, a rede fornecida pela Avaya foi planejada para atender a todos os requisitos de uso crítico, de segurança, de credenciamento de jornalistas e de profissionais que trabalham no evento, de logística dos times participantes, das estatísticas mais completas dos jogos, para informação de todos os que cobrem ou coordenam esta Copa do Mundo.

Além da Avaya, a Fifa conta ainda com outros patrocinadores – como a Toshiba, T-Systems (operadora alemã da Deutsche Telekom) e o Yahoo! – para a realização prática desse conjunto de serviços de rede de telecomunicações, que atende a jornalistas, funcionários dos estádios, voluntários, representantes do comitê organizador local, árbitros, jogadores e mesmo dos torcedores, para todo tipo de comunicação, seja pela internet, pelo telefone (fixo ou celular) ou pelo vídeo. Os fotógrafos em especial usarão a rede local sem fio ou Wireless Local Area Network (WLAN) convergente, que lhes permitirá enviar fotos diretamente do campo de futebol para suas redações ou para qualquer ponto do planeta. Pela primeira vez numa Copa do Mundo, os ingressos que impedem a falsificação, graças a um chip embutido, que utiliza a tecnologia de identificação por radiofreqüência, conhecida por RFID (de Radio Frequency Identification Device).

Imagine, agora, leitor, que – por acidente ou pela ação criminosa – se rompa uma fibra óptica por onde está sendo transmitido um programa de TV digital. Não haverá nenhuma interrupção das transmissões, porque entra ação uma fibra alternativa, num cabo redundante. E se o criminoso ou terrorista cortar os dois cabos? Nem assim o programa será interrompido, porque as transmissões passarão a ser feitas via satélite, sem que os bilhões de espectadores percebam qualquer mudança.

Para se ter uma idéia mais próxima do volume de informação que será processado e transmitido ao longo desta Copa, basta lembrar que ele alcançará a impressionante quantidade de 15 terabytes (trilhões de bytes) envolvendo voz, dados e imagens – o que equivale ao conteúdo de mais de 100 milhões de livros, ou ainda ao armazenamento de documentos que numa pilha 240 vezes mais alta do que o Empire State Building, de Nova York.

Nenhum aspecto mereceu maior atenção do que a segurança. Além da revista rigorosa, por meio de detectores de metal e esteiras de raios X, semelhantes à que se submetem os passageiros no embarque nos aeroportos, todos os crachás de credenciamento de todos os que trabalham nesta Copa podem ser lidos em todos os portões e áreas internas, em especial aqueles que entram no campo ou em salas de controle.’



INTERNET
Karla Dunder, João Luiz Sampaio

Uma revolução a caminho

‘E se pudéssemos reunir em um só lugar todo o conhecimento colhido através dos tempos? Foi com esse intuito que surgiu em 280 a.C. a Biblioteca de Alexandria que, segundo historiadores, chegou a contar com 70% da produção da época. Séculos depois, com a chegada da internet e iniciativas como a do Google – que está digitalizando o acervo completo de cinco das maiores bibliotecas do mundo – só fizeram o sonho de um futuro de obras digitalizadas, acessíveis pelo computador, parecer cada vez mais próximo. Na semana passada, porém, o grupo editorial francês La Martinière denunciou o Google por ‘ataque ao direito de propriedade intelectual’. É apenas um entre muitos indícios de que, do temor pelo desaparecimento do livro como o conhecemos à questão dos direitos autorais, a criação da superbiblioteca virtual é um empreendimento mais complexo do que se supunha. E de que previsões como a dos editores americanos – que, em 2000, reuniram a imprensa para anunciar que, até 2005, 10% do mercado editorial seria digital – foram um tanto precipitadas.

O projeto do Google inclui instituições como a Universidade de Stanford, onde um robô scaneia mil páginas por hora de livros e documentos raros. Já a americana Carnegie Mellon University enviou à China – onde custa três vezes menos scanear cada livro, US$ 10 – 30 mil títulos de sua biblioteca: 100 mil páginas estão sendo digitalizadas por dia e a expectativa é de que, em dois anos, 1 milhão de livros estejam acessíveis pelo computador. A idéia não é apenas facilitar o acesso a obras: espera-se que as bibliotecas virtuais possibilitem aos usuários criar rapidamente inter-relações entre obras e temas. Deparando-se com uma palavra desconhecida, por exemplo, o usuário teria acesso a todos os textos em que ela já foi utilizada. Mais: em poucos cliques, poder-se-ia ter acesso a todo o material já publicado sobre determinado tema, o que provocaria uma revolução sem precedentes na atividade intelectual.

No Brasil, também existem iniciativas. A USP, por exemplo, criou a sua Biblioteca Virtual e oferece, além das teses defendidas na universidade, textos clássicos de diversas áreas, da literatura e das ciências humanas até saúde pública a psicologia. O governo também criou o site www.dominiopublico.gov.br, que oferece obras de autores brasileiros livres de direitos autorais. Longe da iniciativa oficial, também há movimento em uma variedade de sites (veja quadro ao lado) que não apenas disponibilizam livros, como também são espaço de encontro entre os leitores que utilizam esse tipo de tecnologia. Ali, são oferecidas várias opções para download – você pode tanto baixar o arquivo em formato para computadores e palm-tops como escolher um tipo de acesso ligado ao seu e-book, o pequeno aparelho no qual você pode armazenar os livros baixados.

Toda essa movimentação não significa, porém, que não exista gente contrária às bibliotecas virtuais e seus significados. Em recente feira literária nos EUA, o escritor John Updike engrossou a lista de descontentes e bradou em favor do contato físico com o livro. Apesar das críticas, porém, os especialistas garantem que o crescimento do mercado digital de livros é uma questão de tempo. ‘Tudo que achávamos que sabíamos sobre livros vai mudar’, escreveu Kevin Kelly, autor de Out of Control: The New Biology of Machines, em artigo recente no New York Times.

‘Tempo’, aqui, inclui uma série de definições. Uma delas é a tecnológica: todo o conhecimento humano cabe em 50 petabytes que, convertidos em disquetes, ocupariam um prédio de dois andares. Mas Kelly mostra que as pesquisas caminham no sentido de tornar possível a ‘superbiblioteca virtual’. E adverte: não vai demorar tanto quanto se imagina. ‘Tempo’, porém, também significa a necessidade de se encontrar novos padrões. ‘Vamos ter de repensar o negócio do livro. O livro digital precisa ser encarado como um novo negócio’, diz Carlos Augusto Lacerda, editor da Nova Fronteira. ‘Esperamos que uma grande editora internacional abra caminho, que se crie um modelo a ser seguido. Os e-books precisam ter uma tecnologia bem estruturada e serem economicamente viáveis do ponto de vista comercial. Hoje, eles não são viáveis’, diz Sérgio Machado, editor da Record – e os números estão ao seu lado: um novo aparelho, apresentado na Bienal do Livro de São Paulo pela E-BookCult, armazena até 40 livros, mas é importado e custa US$ 600.

SEGUNDO A LEI…

A questão mais delicada, porém, parece ser a dos direitos autorais. Com a reprodutibilidade permitida pela internet, como preservar os direitos dos autores e editoras? A denúncia feita esta semana pelas editoras francesas é exemplo do terreno movediço em que está fundamentada a questão. O Google está digitalizando as obras de domínio público presentes nos acervos de bibliotecas como a da Universidade de Stanford – já os livros protegidos pelos direitos de propriedades intelectual têm apenas trechos reproduzidos na rede. O Google se defende afirmando que está divulgando as obras. Para as editoras, porém, trata-se de apropriação ilegal. Aqui no Brasil, as empresas pedem por orientação. ‘Precisamos criar mecanismos para o pagamento dos autores’, diz Sérgio Machado. ‘A digitalização é um caminho irreversível, mas quanto tempo levará para chegar aos livros protegidos pela lei de direito autoral?’, complementa Carlos Lacerda. Segundo Kevin Kelly, 15% dos livros estão em domínio público, 10% estão no catálogo das editoras e 75% estão fora de catálogo. ‘É melhor ter um livro protegido esgotado ou ter um livro circulando de graça?’, pergunta Lacerda. ‘Talvez com a redução dos custos, ao se eliminar o papel, por exemplo, as editoras possam pagar mais aos autores’, diz o escritor e professor de Direito da Universidade de Yale, Yochai Benkler. ‘Não sabemos como funcionaria a questão financeira, acho que dependeria mesmo de um acordo com as editoras. Eu abriria mão facilmente dos meus direitos autorais, que nunca são muitos, caso o site não fosse com fins lucrativos. Dirigido a estudantes por exemplo, ou a projetos sociais’, diz o escritor Ricardo Lísias, autor de Duas Praças (Editora Globo).

Mas se Lísias quiser fazer isso, não terá a proteção legal ao seu lado: a questão é que não existe uma legislação que especifique os direitos autorais perante a era virtual. ‘Quando se publica um livro, firma-se um contrato de edição que institui uma relação de direito autoral. Nele, o autor permite que a editora reproduza e comercialize o livro. Mas quando este livro é digitalizado e passa a fazer parte de um banco de dados, trata-se de uma outra utilização da obra, o que pressupõe outra autorização’, explica o advogado Rodrigo Salinas, especialista na legislação de direitos autorais. ‘Isso é o que está na lei. Mas não existem seções específicas que tratem, por exemplo, de liberação das obras no caso de projeto de interesse público, como é o caso de uma biblioteca, por exemplo. Neste contexto, estamos desamparados perante a lei’, completa.

E os leitores, o que acham de tudo isso? O estudante Paulo Kon, de 17 anos, reconhece que a internet torna o caminho à informação cada vez mais fácil. ‘Mas não acho a leitura no computador confortável, o mérito mesmo é possibilitar o acesso a livros esgotados’, diz. O escritor Mario Prata segue pelo mesmo caminho: ‘Nunca vi alguém com um e-book na mão. É algo frio, impessoal demais.’ Dono do maior acervo bibliográfico particular da América Latina, José Mindlin não descarta de cara os e-books. ‘Se permitir constante acesso a obras raras, será uma vantagem’, diz. ‘Mas o contato com o livro é insubstituível.’ E não pára por aí. ‘Uma vez vieram aqui em casa para eu experimentar o e-book. Prepararam tudo mas, quando fui mexer, não funcionou. Isso não acontece com o original.’

NA REDE

CLÁSSICOS: Marcos da literatura brasileira e mundial podem ser encontrados em diversos sites, como o E-BookCult (www.ebookcult.com.br), Domínio Público (www.dominiopublico.gov.br) e Virtual Books (virtualbooks.terra.com.br).

PROJETO GUTENBERG: Entre os sites estrangeiros, destaque para o do Projeto Gutenberg (www.gutenberg.org), que reúne cerca de 17 mil livros e tem dois milhões de downloads por mês.

UNIVERSIDADES: Instituições de ensino cada vez mais disponibilizam conteúdo na rede. A USP, por exemplo, oferece as teses defendidas por alunos (www.teses.usp. br) e livros (www. bibvirt.futuro.usp.br).’

Patricia Villalba

Bastidores da criação conjugam o verbo ‘deletar’

‘O e-book não é uma realidade, talvez não venha a ser tão cedo, mas a informatização da produção literária deve extinguir em breve as charmosas edições de manuscritos, cartas e toda a sorte de documentos que costumam cercar um escritor que passa para a posteridade. As cartas de Zelda e Scott Fitzgerald, os manuscritos que detalham o processo de criação de Guimarães Rosa até chegar à perfeição de Grande Sertão: Veredas, a correspondência entre os modernistas de 1922, para citar alguns exemplos, não existiriam hoje, quando quase não se escreve à mão e as conversas são eletronicamente digitadas e apagadas quando a caixa de e-mails fica lotada.

Na cadeira nº 30 da Academia Brasileira de Letras e uma das mais premiadas autoras da língua portuguesa, Nélida Piñon admite que se preocupa com o registro dos bastidores de sua obra. Costuma imprimir tudo o que escreve durante a criação de um romance e faz alterações à mão, para só então voltar ao computador. ‘Isso é razão de grandes cuidados de minha parte. Meu acervo ocupa um apartamento de três quartos, de sala grande. Ali trabalham três pessoas, cuidando dele’, conta. Fotos, documentos, manuscritos e textos diversos de palestras já despertaram o interesse até de uma universidade americana, que chegou a enviar ao Rio representante para avaliar o acervo e, talvez, comprá-lo. Não conseguiu, pois não estava à venda, para o bem da memória brasileira.

Não é raro arquivos como o de Nélida virarem objeto de disputa. Uma recente queda-de-braço envolveu os EUA e Cuba em torno dos papéis deixados por Ernest Hemingway em Havana. Após anos de negociação, os cubanos aceitaram que os americanos façam cópias dos documentos do autor americano, que viveu em Cuba entre 1939 e 1960. O acordo foi fechado em 2002, mas só no fim do mês passado técnicos americanos obtiveram permissão para começar a digitalização dos cerca de 20 mil documentos, cujas cópias ficarão na Biblioteca do Congresso dos EUA. Os originais continuam em Cuba, na antiga casa do escritor, agora museu.

Picuinhas políticas à parte e apesar do valor que um acervo literário pode vir a ter, exemplos como o de Nélida são cada vez mais raros. O novelista Luiz Alfredo Garcia-Roza não só não se preocupa em guardar os bastidores das aventuras do seu detetive Espinosa, como planeja destruir tudo o que puder em torno delas. ‘Às vezes acontece de eu terminar de escrever o livro sem imprimir nenhuma vez. Só quando acho que cheguei à versão final é que imprimo. Corrijo nessa versão impressa e finalizo o que vou mandar para a editora. Mas a minha vontade é não guardar nenhuma dessas versões impressas, mas eliminá-las.’

Com bom humor e uma dose de modéstia, Garcia-Roza argumenta que o livro vale pelo que foi para a gráfica, ainda mais no seu ofício de escritor de policiais, em que o enredo vale mais do que a ourivesaria da palavra, como no caso de Nélida. ‘É egoísmo com quem vai fazer o trabalho de historiografia no futuro, mas não tenho pretensões de permanecer na história da literatura ao ponto de alguém ter interesse em fazer isso.’’



JORNALISMO LITERÁRIO
Luis S. Krausz

Sob o impacto da guerra

‘Berlim era uma cidade estranha para o escritor e jornalista judeu Joseph Roth (1894-1939). Uma cidade à qual foi levado por circunstâncias, e não por afinidades: Roth era originário de Brody, na Galícia, em sua época parte do Império Austro-Húngaro, hoje Ucrânia. Foi educado num colégio de língua alemã, dentro da tradição do iluminismo judaico, auspiciado pela monarquia habsburga, que sonhava com a integração dos judeus da Europa Central na cultura germânica. E o projeto de vida do jovem Roth era integrar-se ao florescente universo artístico e literário de Viena, cidade para a qual se mudou, como estudante de Letras, em 1913.

Viena exercia fascínio enorme sobre a Europa Central na passagem do século 19 para o século 20. As instituições imperiais que, imaginava-se, haveriam de durar para sempre, garantiam aos súditos do Kaiser Francisco José confortos e estabilidade nunca antes imaginados, ao mesmo tempo em que os aspectos opressivos de uma ordem que tinha raízes na Idade Média se dissolviam numa atmosfera de liberdade e sobretudo de criatividade artística sem precedentes. O apogeu de Viena parecia prometer o melhor de dois mundos: a estabilidade e a segurança de instituições milenares e a liberdade e o descomprometimento da modernidade; a grandeza cosmopolita da capital de um império multicultural e a sensibilidade de uma geração moldada pelo hedonismo e pelo sentido estético. Este era o mundo que o jovem e talentoso Roth pretendia abraçar.

Dizem que os deuses têm inveja dos mortais quando estes estão muito bem e por isso lhes enviam desgraças. O início da 1ª Guerra Mundial, em 1914, significou a derrocada definitiva do mundo próspero e iluminado com o qual Roth sonhava. Se, do seu ponto de vista pessoal, a guerra significou o alistamento no Exército austríaco, a captura pelos russos e longo período de prisão num campo na Sibéria, do ponto de vista político, o conflito representou o desmantelamento e a fragmentação do antigo território Habsburgo em uma série de repúblicas pequenas e desorientadas.

No universo da cultura, a guerra foi uma ruptura sem precedentes com a tradição humanista da Europa Central e representou o fim de um estilo de vida marcado pela supremacia de uma ordem que parecia arraigada nas leis cósmicas. Sua substituição pelo individualismo materialista e pelas quimeras do progresso, ou do desenvolvimento, para usar um termo ainda caro à retórica política todas facções, foi só questão de pouco tempo. A perda de um lar espiritual, ordenado e estável, levou à perplexidade toda uma geração de escritores e artistas. A ruptura dos paradigmas fundamentais da civilização, representada por uma luta armada de dimensões nunca vistas, com morticínios aterradores provocados pelo gás e pelas bombas, provocou estranhamento ante o novo mundo – e a nostalgia pela inocência do mundo perdido, que passaria a ser idealizado.

Perplexidade e nostalgia são aspectos que perpassam a obra literária de Roth como um todo – uma obra moldada pelo impacto da guerra, que passou décadas no semi-esquecimento. Seu valor, porém, agora vem sendo redescoberto no universo da crítica literária germânica e, mais recentemente, anglo-saxã, em que o tradutor Michael Hofmann vem vertendo para o inglês, com enorme sucesso, os principais textos deste que foi, em vida, um dos autores maiores do idioma alemão.

Roth dedicou-se a descrever, em romances como A Marcha de Radetzky e Jó – considerados suas obras-primas -, diferentes aspectos do universo que foi sepultado com a guerra: no primeiro, a existência sob a monarquia habsburga, com seus ritmos cadenciados e vagarosos, seus rituais e seu formalismo, sua burocracia e sua rigidez, mas também seu humor e sua sensualidade; no segundo, a vida dos judeus pobres nas aldeias do Leste Europeu, arrasadas pelos pogroms, pela emigração e, finalmente, pelo nazismo, cujos prenúncios Roth já percebia na década de 20.

O lançamento deste volume sobre Berlim, coletânea de reportagens sobre aspectos da vida da capital alemã nos anos 20 e 30, é bem-vindo porque traz ao leitor de língua portuguesa alguns dos melhores exemplos do feuilleton, um tipo de texto jornalístico pouco cultivado entre nós: ‘Sob a impressão da realidade da vida e da velocidade das mudanças sociais nas grandes metrópoles do século 20, Roth reformulou o papel exercido pela instituição feuilleton’, escreve Michael Bienert, responsável pela edição original desta antologia. A perplexidade de alguém que viu seu mundo desaparecer nas cinzas tornou Roth um estranho ao século 20 e um exilado no tempo tanto quanto no espaço. E esta condição permitia-lhe enxergar, como Kafka, o absurdo e a loucura onde os outros viam a mera normalidade.

Ele vê Berlim por ângulos inesperados e surpreendentes, e focaliza aspectos que passavam despercebidos pelos outros. Levanta pedras e tábuas para ver o que escondem ao olhar e empreende uma espécie de arqueologia do contemporâneo para, em suas palavras, ‘desenhar o rosto de seu tempo’. Berlim, com seu ritmo estonteante, sua febre de construção e expansão capitalista, seu impulso à transformação – que, aliás, perduram até hoje – era um universo estranho onde ele encontraria, por exemplo, uma pensão no Scheunenviertel (hoje o bairro hip da capital alemã), onde viviam judeus refugiados dos pogroms no Leste da Europa; trânsito caótico; uma loja de departamentos; um tradicional estabelecimento de banhos.

Roth combinava elementos da tradição do folhetim vienense – como o olhar subjetivo sobre o que é aparentemente secundário, e o prazer na arte da escrita – com o estranhamento de um outsider. Tornou-se, assim, um dos mais reconhecidos autores num gênero cujo objetivo era, nas suas palavras, ‘dizer coisas significativas em meia página de jornal’. Seus textos saíam no Neue Berliner Zeitung, Vossische Zeitung, Berliner Bõrsen-Courier e, mais tarde, no Frankfurter Zeitung o maior e mais influente jornal alemão.

Esse volume é também bem-vindo por trazer novamente à atenção do leitor brasileiro um autor que chegou a ser traduzido para o português na década de 30, quando estava no auge da fama internacional, mas ficou quase esquecido. Vem acompanhado de um posfácio de Alberto Dines, que aborda a trajetória de Roth, suas afinidades literárias e sua paixão irrestrita pela escrita – uma escrita que jorra, com fluência e vitalidade, em seus romances como em suas crônicas jornalísticas.

Luis S. Kraus é jornalista

Berlim Joseph Roth

Companhia das Letras

208 págs., R$ 35′

NOSSA HISTÓRIA
Karla Dunder

Variedade de assuntos marca ‘Nossa História’

‘Inquisição e futebol estão juntos na edição de nº 32 da Nossa História (R$ 8,90). Dois dossiês compõem este volume recheado de variedades, que ainda traz a vida do famoso presidente urucubaca, Hermes da Fonseca, e de uma mulher à frente de seu tempo, Chiquinha Gonzaga. A edição tem também uma entrevista com o jornalista Ruy Mesquita, diretor do Estado.

Descrito como ‘um observador engajado da História’, o jornalista lembra com detalhes e precisão fatos marcantes da história recente do País. Fala também sobre a trajetória do Estado e de experiências que viveu, como o encontro com Fidel Castro ou uma entrevista de cinco horas com o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.

O primeiro dossiê da Nossa História tem como tema a Inquisição. Em 1231, o papa Gregório IX fez uma recomendação ao nomear Conrado de Marburgo, o primeiro inquisidor da Igreja: ‘Não persigas os perversos a ponto de ferir os inocentes.’ A própria história mostra que a frase ficou restrita ao papel. Todos aqueles suspeitos de se oporem aos valores morais ou religiosos dos católicos sofriam com a violência da Inquisição. Entre os suspeitos estavam os judeus, os protestantes, os homossexuais ou qualquer um que seguisse condutas não determinadas por Roma. Grande parte dos acusados terminava em prisões e nas fogueiras, alguns sem saber exatamente o motivo.

Muitos judeus, os mais perseguidos, se refugiaram no Brasil, na verdade cristãos-novos, convertidos à força antes de saírem de Portugal. Apesar disso, não tiveram muito sossego. Mesmo sem a existência de um tribunal estabelecido por aqui, segundo a professora Anita Novinsky, as visitas inquisitoriais deixaram um saldo de 1.076 vítimas, das quais 29 condenadas à fogueira.

Como a marca desta edição é a diversidade de assuntos, às vésperas da Copa não poderia faltar o futebol. André Mendes Capraro afirma que o esporte bretão, nos primórdios no Brasil, era uma prática elitista que, como tal, excluía os pobres. No início do século 20, no mesmo período, na Inglaterra, o futebol já havia se massificado e ganho os operários das fábricas. Uma forma de entretenimento barato, que logo ganhou torcidas organizadas e um público fiel.

Para Mauricio Murad no texto Futebol com jeito de Arte, a história dessa modalidade esportiva no Brasil está intimamente ligada à história em geral. ‘O processo tenso de elitização/exclusão versus democratização/inclusão, que é marca de nossa realidade, esteve presente no futebol desde os primórdios. A luta pela inclusão de negros e pobres não foi fácil.’ O rádio foi um dos meios de popularização do esporte a partir da década de 30. O flamenguista Ary Barroso narrou uma partida no telhado do estádio do Vasco da Gama, ao ser impedido de entrar. Com o tempo, o futebol ganhou espaço, virou paixão nacional e como diz o historiador Eric Hobsbawn: ‘A arte de jogar futebol é uma contribuição brasileira e é um dos poucos valores que considero genuinamente universais.’’



TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo

A babá chama a Supernanny

‘Mais de 12 mil famílias pedem socorro à governanta do SBT. Mas, longe das câmeras, falta confiança e vontade para submeter o lar a disciplinas básicas

Com 35 anos diplomados em fraldas, papinhas e afins, a babá Eliete Lopes Sanches, de 48 anos, põe-se de olho na tela: TV sintonizada no SBT, ela não pisca diante das façanhas de sua mais nova super-heroína. Eis o que tanto fascina Eliete: como Super Nanny consegue impor suas regras a pais de crianças indisciplinadas – para dizer o mínimo? Como dizer a uma mãe que ela não tem controle sobre o próprio filho, sem levar um passa-fora na seqüência? Na vida real, sem as câmeras que vigiam as famílias dispostas a serem guiadas por Super Nanny, Eliete, coitada, raras vezes consegue se fazer respeitar pelos pais. Daí a proposta do Estado a Eliete: promover seu encontro com Cris Poli, a Super Nanny – o que foi prontamente aceito pela educadora contratada por Silvio Santos.

Eliete representa uma migalha na audiência amealhada pela superbabá. Só no mês de maio, mais de 750 mil domicílios, em média, sintonizaram no mesmo alvo a cada tarde de domingo – o programa ia ao ar também nas noites de sábado. Nem o patrão esperava tanto do reality show nascido na Inglaterra e bem dimensionado nos Estados Unidos. E não é que Silvio, habituado a clonar fórmulas bem-sucedidas vistas lá fora, dessa vez pagou pela receita do bolo? Os direitos são da produtora Freemantle.

A julgar pela safra de 12 mil famílias inscritas para a segunda temporada, Super Nanny tem carta branca para fazer ainda mais. Parece pouco compreensível que clãs descontrolados se estapeiem por uma vaga num programa disposto a escancarar a desordem do lar. Sorte de quem vê. Cris Poli nos conta que o programa tem sido alvo de debate entre educadores em escolas. Ela mesma tem colecionado propostas para palestras. E as crianças, contrariando a piada que a compara ao bicho-papão – ‘se você não se comportar eu chamo a Super Nanny’, diriam os pais aos filhos – bem, as crianças são as primeiras a lhe reconhecer nas ruas, conta. Também já houve quem tenha procurado o SBT para contratar Super Nanny – sem as câmeras: o pretexto é que a família era muito tradicional e a exposição às câmeras não convinha.

Entre observação, normas a aplicar, desempenho pós-consulta e conclusão da obra, cada programa consome quase quatro semanas de gravação. Dá trabalho. Mas o efeito aí está: 26% da audiência é feita de classe A/B e 45%, de C. A faixa etária que mais comparece, com 40%, é a de 25 a 49 anos, reflexo dado pelos progenitores – alguns, por desorientação, outros, por pura satisfação em tripudiar sobre filhos mais indisciplinados que os seus. A segunda fatia que mais vê o programa (20%) é a dos avós (mais de 50 anos), seguida das crianças (de 4 a 11 anos), veja só, que fazem 18% do ibope.

Antes que Eliete se ponha a prosear com sua Nanny, Cris nos conta da mudança se sua rotina, professora de inglês que era na Escola do Futuro, onde agora ela atua como supervisora, ao status de estrela de TV. Nascida na Argentina, Cris mantém um resquício de sotaque que até a credencia mais para o papel da governanta. Os filhos são três. Os netos, mais três – os mais velhos, Felipe, de 8 anos, e Giovana, de 5, gostam de contar aos colegas que Super Nanny, afinal, é prata da casa. Sessenta anos feitos, Cris Poli é salve-simpatia pura. Uma gracinha, diria Hebe. Eu mesma mal me contenho para não pedir umas dicas para aplicar em casa. Mas vamos ao encontro das babás.

Eliete Lopes Sanches -Você é o tipo de babá que eu gostaria de ser, se os pais deixassem, mas eu nunca tive essa carta branca como você tem. São muitos anos trabalhando com crianças de 0 a 2, até 3 ou 4 anos. Eu fico mais como babá-enfermeira, até brincar e rolar no chão. Que proeza você faz para conseguir que as mães permitam que você eduque as crianças? Eu acho bacana, mas muitos pais não entendem.

Super Nanny – A minha situação é diferente da sua, por vários motivos. Primeiro porque eles pegam você desde 0 ano, mais para enfermeira do que para educar, mas a gente sabe que se a gente não começa a educar desde 0 ano, quando chega aos 4, como a gente tem visto no programa, a criança vira um caos, ninguém agüenta. No meu caso, é diferente, são famílias que têm chegado a esse ponto, de não agüentar as crianças. Eles não sabem como fazer. Não é que não queiram, eles querem e não sabem, então pedem socorro. Esse pedido de socorro deles é o que abre a porta para eu entrar. E o que me dá liberdade de agir. Muitas vezes eu digo: ‘Eu estou aqui porque vocês me chamaram.’

Por isso é que eu creio que o programa seja uma porta aberta, para você e para as outras babás, que são educadoras, poderem aplicar os métodos e conversar com os pais. Não só vocês estão vendo e concordando, como os pais estão concordando. Uma babá – como no termo que se usa aqui no Brasil – está ali para cuidar da criança. Agora, uma Nanny, como tem nos EUA e na Inglaterra, é mais uma governanta, é encarregada da educação dos filhos, da organização da casa. Esse termo, Nanny, tem outra conotação, que não tem aqui. A educação é algo confiado aos pais, mas se eles não podem se ocupar da criança porque têm que trabalhar e eles têm uma pessoa para ficar com as crianças, tem que ter uma comunicação tão estreita entre eles e a babá, como para poder confiar nela e conversar com ela: quais são os métodos de educação? Quais são os limites? Não adianta chegar às 7 da noite e querer impor limites se você não autoriza alguém a isso. Tem de haver uma coerência. Se o pai não reconhece essa autoridade em você, o filho não vai reconhecer.

Eliete – Eu já peguei crianças cujos pais me deram carta branca, mas muitos se ofendem quando a gente fala um ‘Não’ para a criança.

Super Nanny – É por isso que eu falo que você tem que conversar com os pais, porque não adianta você ter carta branca dos pais e você ter toda essa educação se na hora em que você vai embora, ou na hora em que você não está na casa com a criança, o pai não segue os mesmos métodos que você. Quem sai prejudicada não é você nem os pais, é a criança.

Estado – Você sentiu isso em algum programa? Eu digo, de ter suas regras contestadas?

Super Nanny – Teve um programa, e foi ao ar.

Estado – Quando você foi expulsa?

Super Nanny – Não é nem que me expulsaram, mas a mãe ficou contente quando eu saí da casa. Enquanto eu estava lá eu mostrei quais eram os erros, e eu fui ensinar os pais, o que é uma coisa importante: não sou eu que vou fazer, são eles, porque dali a duas semanas eu vou embora e aí? Estava funcionando tudo bem. Na hora que eu fui embora, eles ficaram sozinhos com as crianças. Eles (o casal) não entraram em acordo e não fizeram as coisas que ensinei. As coisas ficaram iguais ou piores do que antes de eu chegar. E as crianças já tinham experimentado a mudança também, então, eles (pais) acabaram perdendo muito mais autoridade do que tinham. Quando voltei e comecei a corrigir as coisas, eles começaram a falar que não precisava tudo isso, que as crianças estavam bem, então eu falei: ‘vou embora’. ‘Yupi!’, foi o que ela falou.

Por isso é que eu falo isso pra você, Eliete, porque aí a gente vê a importância da unidade do casal e, nesse caso, quando há uma babá, é importante a unidade do casal com a babá.

A mesma coisa que eu falo é que a escolha de escola é uma coisa muito importante. Se você é muito conservador e escolher uma escola liberal, ou vice-versa, o conflito vai cair sobre a criança.

Eliete – Eu acho bacana ver como funciona o castigo por idade: se a criança tem 2 anos, são 2 minutos, se tem 5, são 5 minutos…

Super Nanny – O critério dos minutos é exatamente para você não sobrecarregar a criança com um tempo que ela não consegue agüentar. Eu tenho entrado em casas em que a mãe fala: ‘ah, eu tranco ele no quarto e deixo ele por meia hora ou uma hora’; quer dizer, a criança enlouquece. Esse é um método para ensino: uma criança de 2 anos, em 2 minutos, ela consegue aprender, e uma criança de 5 anos, em 5 minutos, consegue pensar, elaborar.

Estado – Se você der 3 minutos a uma criança de 3 anos e nesse prazo ela não encerrar a birra, o que se faz?

Super Nanny – Você vai lá, quando termina o tempo, e pergunta: ‘Você sabe por que você está aqui?’ Se a criança entendeu, ela vai dizer ‘desculpa’. Nesse momento, aí vem a sensibilidade de quem está aplicando a disciplina, se é uma desculpa sincera ou porque quer ir brincar. Até que você veja se ela realmente entendeu. Eu não falo em castigo, porque castigo é punição e quando você pune você machuca. Eu digo, você vai ficar 3 minutos aqui no cantinho da disciplina para você aprender, para você pensar.

Você, Eliete, tem muita experiência, mas tem muita gente que é tomadora de conta, ou que é babá porque não tem outra coisa para fazer. Tem meninas, de 13, 14 anos que vão ser babá. Talvez comecem a mudar o conceito para uma babá de mais responsabilidade.

Estado – Eliete, há algum episódio a que você assistiu no programa que você tenha dito: ‘Ah, por isso eu já passei’?

Eliete – Ah, eu já passei por aquela situação de dois pais brigando porque um não concordava com o que o outro estava fazendo. Já vi pais que saem no tapa porque um desautoriza o outro, mãe que esmurra a parede porque o pai desautorizou a babá…

Super Nanny – Eu tenho dito isso em vários programas: pais, sentem-se e acertem-se.

Estado – É engraçado porque tudo isso parece tão óbvio, mas passa batido.

Super Nanny – Tudo parece óbvio, são dicas básicas, uma mesa bem posta, a família junta… É tudo básico. E é pouco usado.

Eliete – Você tem sido muito assediada nas ruas? As pessoas te param para perguntar o que fazer com o filho?

Super Nanny – Me param na rua e dizem: ‘ah, o filho do meu primo tem tal problema’. Não dá para dar uma receita de bolo. Eu tenho três dias de observação em cada casa e esses três dias são fundamentais. Isso tem sido engraçado. As crianças, na rua, são as que mais me reconhecem, e elas avisam aos pais. As pessoas falam comigo como se me conhecessem, é muito interessante esse negócio de TV.

Agradecimentos: AB Uniformes e Maria Aparecida de Souza (make up)’



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