ABC CENTENÁRIO
“O centenário da ambição”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/01/03
“O diário espanhol ABC é o primeiro jornal do país a completar cem anos de história. Em editorial comemorativo, seu diretor, José Antonio Zarzalejos, chama a atenção para as funções do jornal: ?Estar em sintonia com os leitores em suas aspirações e interesses; exercer a pedagogia de determinados valores na moderação dos juízos e opiniões; ser fiel às próprias referências; e dispor de um sentido de antecipação que sirva de guia útil para os tempos presentes e futuros.? Eis a íntegra:
?Arthur Sulzberger Jr., editor do jornal americano The New York Times, declarou recentemente e em referência ao próprio diário que ?se o objetivo consiste em proteger o que já temos, perderemos? para acrescentar em seguida que ?um grande jornal necessita de lucro?.
Aproprio-me de ambas as opiniões, que faço minhas, para transportá-las aos leitores do ABC, justamente hoje, que, com o ano-novo, se inicia também o centenário do rotativo, que, fundado em 1903 por d. Torcuato Luca de Tena, se converte no único de âmbito nacional a alcançar um século de trajetória ininterrupta.
A efeméride merece ser comemorada, porque as dez décadas do ABC se misturam com a história da Espanha, em seus episódios mais trágicos e nos mais favoráveis. Mesclam-se também com os feitos culturais mais singulares e com as transformações sociais da Espanha mais espetaculares e debatidas. Foi dito com toda a correção que a história do nosso país não poderia ser entendida sem a presença do ABC como referência permanente de uma série de valores, critérios e princípios altamente representativos, com solidez e continuidade, de um amplíssimo segmento social. Ao longo deste ano e por meio de atos, relatos e notícias no jornal, exposições e ofertas promocionais, nossos leitores darão fé da certeza desses acertos, que remetem aos méritos daqueles que nos precederam. Todos foram notáveis no exercício da administração da empresa e do jornalismo. Alguns, iluminados.
Não poucos, realmente geniais. Com tanta variedade de presença e de vozes, devido à liberalidade a que esta casa sempre fez jus, o ABC tem uma autêntica história para contar, na qual sobra a retórica, porque há o dado, a data e a assinatura. É um legado comprovado e certo que a vantagem e a compulsão dos acertos se une também ao testemunho do erro possível. O fracasso e o sucesso tratados como impostores, sem levar o erro à desistência nem o sucesso à euforia prepotente, explicam a permanência e, às vezes, a resistência irredutível do ABC em sua vocação de durar.
O centenário do ABC – que Eduardo Arroyo sintetizou em um logotipo que assume um corpo forte e adaptável, mas conserva sempre seu tamanho e cor – seria um mero exercício de autocomplacência de pouca inteligência, não fosse um ponto de inflexão para incrementar a ambição de futuro. Se, como escreveu o fundador do jornal em 1.? de janeiro de 1903, o ABC nascia ?em cumprimento de um dever?, constatamos que esse dever não tem data fixa para se realizar, mas que alcança todo seu sentido por meio de seu cumprimento constante e continuado, dia após dia, ano após ano e década após década.
Escrevia d. Torcuato Luca de Tena, há um século, uma proposta que se poderia redigir aqui e agora: ?O gosto do público há de acompanhá-lo (ao ABC) desde o primeiro momento, se conseguir acertar os seus desejos, ou há de abandoná-lo se, com a melhor boa-fé, se equivocar.? Na linguagem de cem anos atrás, o fundo da questão continua o mesmo, hoje ainda mais decisivo: o jornal tem de estar sintonizado com os leitores em suas aspirações e interesses; exercer a pedagogia de determinados valores na moderação dos juízos e opiniões; ser fiel às próprias referências, que o explicam na sociedade à qual se dirige; e dispor de um sentido de antecipação que sirva de guia útil para os tempos presentes e futuros. Ou seja, que o ABC é de seus leitores e é feito para seus leitores e assim deve continuar. Mas a contingência do leitor – no fim das contas, humano – necessita de revoluções, intuição, mudanças e aberturas. Exige dinamismo e entendimento cabal dos acontecimentos e coragem para contar as coisas com rigor e veracidade. Dirão que incorro em uma exposição de boas intenções.
Claro que são, mas para torná-las críveis reivindico a energia motriz que fecundou este projeto: a independência e a inovação.
Para o primeiro, é preciso, como recordou o jovem editor do The New York Times, que o jornal tenha benefícios e ganhe dinheiro independentemente de qualquer poder político, econômico ou social para manter sua soberania intacta. Para o segundo, a inovação, é necessária uma determinada atitude incompatível com a segurança estrita do que foi conquistado.
Sempre pensei – e assim me manifestei na apresentação da antologia de textos do ABC, compilado por sua editora, Catalina Luca de Tena – que a parábola evangélica dos talentos se adaptava como uma luva na descrição de uma disposição de ânimo legitimamente ambiciosa. Em resumo, um jornal é o resultado de um esforço sincronizado de gestão editorial e empresarial; um negócio de abstrações – credibilidade, veracidade, confiança, fidelidade, responsabilidade – que tem de gerar meios para a autonomia dos critérios; uma convergência de propósitos e um laboratório de idéias e de sintonias.
Riscos e instinto de conservação em doses adequadas conformam uma política de futuro que extrai do passado a experiência e o bem fazer, a personalidade e a tradição e quebra, por sua vez, a inércia do eterno quando o eterno se justifica por si só e não por uma razão específica. Este é o desafio do ano do centenário do ABC: a ambição de seguir contando e incrementando o que o fundador do jornal definiu como o ?favor do público?.
A imprensa na Espanha não atravessa seus melhores momentos no que diz respeito a sua consideração e estabilidade. Vamos debater esse tema em cursos que o ABC organizará neste verão na Universidade de Verão de El Escorial e Santander. Queremos contar com a participação de todos os nossos colegas sem problemas de distância ou de divergência. Um setor com códigos e pautas em suas relações e na sua proteção coletiva faz parte das aspirações que estamos propondo na mesma direção que o fundador do ABC, naquele emblemático primeiro número de janeiro de 1903, transmitia ao formular ?uma carinhosa saudação à imprensa espanhola?. Creio estar cumprindo com um dever de cavalheirismo no mesmo estilo desta casa ao reiterar a saudação de d. Torcuato Luca de Tena a todos os meios de comunicação e submeter aos leitores do ABC esta reflexão sincera, ao mesmo tempo em que, como diretor do jornal, renovo aqueles princípios, tão em voga hoje, e os invoco como consignação para conquistar um futuro que está tanto em suas mãos como nas nossas.?”
LIBERDADE DE IMPRENSA
“RSF: 25 jornalistas morreram em 2003”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 3/01/03
“Vinte e cinco profissionais de imprensa foram assassinados em 2003. A informação é da organização Repórteres Sem Fronteiras, que realizou uma investigação para fazer um balanço da violência contra jornalistas no ano passado. O repórter da TV Globo Tim Lopes, assassinado em junho de 2003 por traficantes de drogas, entra na lista dos profissionais mortos durante o exercício da profissão.
Muitos dos jornalistas que morreram no ano passado foram assassinados por grupos armados. Entre eles está o repórter Daniel Pearl, do The Wall Street Journal, vítima de fundamentalistas islâmicos no Paquistão. Apesar de o número ser considerado alto, ainda foi menor do que em 2001, quando 31 jornalistas foram assassinados.
RSF aponta a impunidade como um marco na história de assassinatos de profissionais de imprensa. Em Israel, por exemplo, as investigações da morte de um fotógrafo italiano e de dois repórteres palestinos no ano passado não prosseguiram. O resultado, segundo a organização, é a contínua perseguição, por parte das tropas israelenses, a jornalistas que cobrem o conflito na região.
Até o momento, 118 jornalistas estão presos em todo o mundo porque expressaram suas opiniões e porque tentaram realizar seu trabalho. O número chegou a 692 só no ano passado, muito maior do que em 2001, quando 489 profissionais de imprensa foram presos. Só no Nepal foram registrados 130 casos.
Quanto à censura contra a liberdade de imprensa, RSF afirma que, a cada dia do ano de 2003, pelo menos um escritório de mídia foi censurado. ?Governos usaram e abusaram de leis de imprensa?, diz a organização. Isso permitiu fechar temporária ou permanentemente sucursais ou mesmo empresas de comunicação que, na obrigação de informar, atingiram diretamente políticos. A luta contra o terrorismo, motivada pelos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, foi uma desculpa de muitos governantes para reprimir veículos de comunicação.
Os casos de violência, incluindo ataques, tentativas de assassinato e assassinatos, chegaram a 1.420.”
“Dezenove jornalistas morreram exercendo seu ofício em 2002”, copyright Último Segundo, 2/01/03
“Dezenove jornalistas foram assassinados no ano passado enquanto exerciam sua profissão, a maioria deles na Rússia, Colômbia e Cisjordânia, informou hoje, quinta-feira, o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ, em sua sigla em inglês).
O número de vítimas é menor que o de 2001, quando 37 jornalistas foram assassinados -oito deles enquanto cobriam a guerra no Afeganistão-, e é a mais baixa desde 1985, quando o CPJ começou a recolher estes dados.
A queda do número de mortes se atribui, parcialmente, ao declínio dos conflitos mundiais, segundo o relatório do CPJ.
?Enquanto nos anima ver que o número de mortes caiu este ano, os jornalistas continuam sendo alvo e são assassinados por fazer seu trabalho?, disse a diretora-executiva do CPJ, Ann Cooper.
?Os traficantes de drogas no Brasil, os grupos paramilitares na Colômbia e os políticos corruptos nas Filipinas estão tentando silenciar os jornalistas através da intimidação e do assassinato, e isto tem que acabar?, acrescentou.
O CPJ afirma em seu relatório que jornalistas na Rússia, n Colômbia, no Paquistão, na Índia, em Bangladesh e nas Filipinas foram assassinados ano passado em represália por seus reportagens sobre crimes e corrupção, a maioria dos quais ficaram impunes.
Entre os três jornalistas colombianos assassinados ano passado está Orlando Sierra Hernández, editor e colunista do jornal La Pátria, que recebeu um tiro na cabeça quando se dirigia a seu local de trabalho.
Sierra escrevia uma popular coluna semanal na qual denunciava atos de corrupção e violações aos direitos humanos cometidos pelas guerrilhas, os grupos paramilitares e as forças de segurança do Estado colombiano.
Outra das vítimas de 2002 foi o jornalista Tim Lopes, da TV Globo, que foi seqüestrado, torturado e brutalmente assassinado por traficantes de drogas enquanto trabalhava numa reportagem.
Na Venezuela, o fotógrafo do jornal de Caracas 2001, Jorge Tortoza, morreu com um tiro na cabeça quando cobria um enfrentamento violento entre simpatizantes do governo e membros da oposição.
Testemunhas oculares e vídeos da cena acusam tanto a Guarda Nacional da Venezuela como a Polícia Metropolitana de Caracas no assassinato do fotógrafo venezuelano, de acordo com o CPJ.
Além dos 19 casos relatados em 2002, o CPJ continua investigando o desaparecimento de quatro jornalistas e outras 13 mortes que poderiam estar relacionadas com seu desempenho profissional.”