A TARDE
Chico Bruno (*)
Muito já se escreveu sobre a mídia no Norte/Nordeste. Da Bahia ao Acre predominam os veículos de comunicação de propriedade de coronéis eletrônicos. São raras as exceções, e entre elas estão os jornais O Povo, de Fortaleza, Jornal do Comércio, de Recife, O Liberal, de Belém, A Crítica, de Manaus, e A Tarde, de Salvador, considerados os maiores das duas regiões.
São jornais independentes que conseguem sobreviver com dignidade, graças à credibilidade alcançada em décadas de existência. O Povo, Jornal do Comércio, O Liberal e A Crítica vivem em constante renovação editorial e gráfica, pois não sofrem forte pressão política, ao contrário de A Tarde, de Salvador, que vem enfrentando constante boicote do grupo político que governa a Bahia e sua capital, Salvador. É um caso conhecido nacionalmente.
A Tarde ainda não teve o mesmo destino do Jornal da Bahia, que encerrou suas atividades sufocado pela intransigência política, ou da Tribuna da Bahia, que se curvou aos mandatários do poder. Como o jornal de maior circulação do Norte/Nordeste, A Tarde é mídia obrigatória dos grandes anunciantes nacionais e regionais, inclusive de instituições do governo federal, como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e outros. Além disso, o momento difere do vivido pelo Jornal da Bahia. Lá os tempos eram de ditadura, hoje são de democracia; portanto, os grandes anunciantes baianos não se intimidam e continuam a usar A Tarde como mídia para suas promoções.
O jornal líder do Norte/Nordeste sempre foi conservador, tanto no que tange à edição quanto na parte gráfica, ao contrário dos concorrentes das duas regiões. Em ambos os aspectos, editorial e gráfico, A Tarde sempre deixou a desejar, principalmente pela acomodação de seus profissionais e da direção, sempre tocada por decanos do jornalismo baiano, muito infensos à modernidade.
Boa nova para a região
Agora, procurando sair do marasmo, A Tarde contratou para assessorar uma mudança radical na edição e no visual o jornalista Ricardo Noblat, de feliz passagem pelo Correio Braziliense. Nesse mês e meio de trabalho, Noblat já conseguiu imprimir um novo ritmo à redação, e o jornal está mais arejado na parte gráfica, principalmente na primeira página e em algumas seções. Embora nos anos 70/80 e parte dos anos 90, enquanto esteve sob o timão de Jorge Calmon, tenha tentado se arejar, mesmo timidamente, em seus 90 anos de existência esta é a primeira grande transformação que A Tarde sofre, desde que foi fundada por Ernesto Simões, em 1912.
A chegada de Ricardo Noblat à redação gerou certa inquietação e desconfiança, pois ele desembarcou mostrando ao que veio: fazer uma revolução no quase centenário, apesar do nome, matutino. Com o correr do tempo, os companheiros foram se adaptando ao estilo do autor de A arte de fazer um jornal diário, e já se nota isso na redação.
Esta é uma boa nova para o jornalismo do Norte/Nordeste, pois com certeza A Tarde tem tudo para se transformar na referência da imprensa da região para o país, assim como Zero Hora é a referência do Sul e o Correio Braziliense, do Centro Oeste. Infelizmente, nem tudo são flores, pois a mídia do Norte/Nordeste continua dominada, em sua maioria, pelas oligarquias político-eletrônicas.
(*) Jornalista