Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Talento e o passaporte para o sucesso

DIPLOMA EM XEQUE

José Netto (*)

Acompanho no Observatório a arenga sobre diplomados e não-diplomados se digladiando sobre quem é mais nobre e quem mais merece o título de jornalista profissional. Se aquele que cita filósofos e grandes autores numa tentativa patética e não muito velada de mostrar-se cabotino ou aquele que se debruça com simplicidade no dia-a-dia nacional usando o estilo-mor do verdadeiro jornalismo: o texto simples, mas bem construído.

A bem da verdade, há muito o resultado do famigerado, portanto odioso e nojento decreto 972/69, com seus artigos (?) gravados a fogo por déspotas, deveria ter sido banido sem a hipocrisia que se estabeleceu quando uma juíza acatou versão de um Procurador de Estado, jovem, por sinal, que resolveu pôr fim à pantomima infame.

Sabemos que muitos, para não dizer a maioria dos “comandantes” de sindicatos e federações da categoria, têm a mesma condição dos não-diplomados porque receberam por aquela abertura legal do então ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto, o direito de registrarem-se sem o duvidoso curso que formava jornalistas, e hoje posam de inquisidores de situações em que eles mesmos se encontravam há não muito tempo, ajudando a discriminar seus iguais. Bela categoria profissional. Decentes integrantes. Singulares seres humanos.

Os números falam por si

Não se fala no assunto, mas pelo menos 2 mil registros “a título precário sob força de liminar” (adendo fantástico!) foram homologados na DRT paulistana a colegas que certamente devem estar na lida por período suficiente, a têm como principal fonte de renda e necessitavam dessa humilhante forma de registro.

Neste mesmo Observatório vi uma opinião sensata sobre esse capítulo, que chamava a atenção lembrando do nicho que os sindicatos perdem ao ignorar o novo filão, dos precários, que lhes engrossaria a receita orçamentária. Mas com o ego ferido ou por motivos ainda não conhecidos totalmente, essas entidades relutam em pelo menos começar a pensar de maneira diferente: na possibilidade de a decisão da juíza Carla Rister ser ratificada em última instância e elas, as entidades, terem que suportar tamanha vergonha recebendo os não-diplomados.

As faculdades que têm cursos de jornalismo, por sua vez, poderiam, também, ir se adaptando à nova ordem que inexoravelmente virá, ministrando cursos de aprimoramento a diplomados e ao “proletariado” precário dos sem-diploma, admitindo para esse mister professores que realmente entendessem do assunto, uma vez que hoje a maioria dessas escolas tem apenas um objetivo: lucro! E fácil!

Que temor é esse?

O que entristece mesmo são posições que não condizem com jornalistas diplomados ou estudantes de jornalismo que manifestam opiniões preconceituosas, discriminatórias contra ? queiram ou não ? profissionais que vêm lutando para sobreviver porque estão empregados e dando conta do trabalho.

O que temem os diplomados? Ou seria retaliação porque tiveram que pagar um curso de quatro anos contra outros que terão os mesmos direitos e privilégios com base na lei e sem o ? aí, sim – precário ensino?

O que temem os estudantes de jornalismo? Ou seria revolta pela exigência de formação acadêmica que agora poderá (deverá) ir por terra e eles teriam sido ludibriados ao freqüentar o curso?

Seja como for, com jornalista ou futuro jornalista com esse tipo de ranço e presunção teremos (ou temos?) uma casta míope, medíocre, que povoará redações sem o mínimo de experiência de vida e de respeito ao direito alheio. Como se todas as redações estivessem comprometidas desde já com inaptos que tomariam vagas destinadas somente a diplomados ? cujo talento não deveria ser avaliado porque o canudo seria o único passaporte para o sucesso.

(*) Radialista e jornalista “precário” por força de liminar.

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