Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

FSP

FUTEBOL EM DISPUTA

“De olho na TV, federação inventa chuva e adia jogo”, copyright Folha de S.Paulo, 30/1/03

“O imbróglio sobre os direitos de transmissão do Estadual, envolvendo Federação Paulista de Futebol e as redes de TV Globo e SBT, teve ontem outro capítulo.

No final da tarde, a FPF deu duas cartadas para defender os direitos de televisionamento do SBT na competição deste ano.

Por um lado, decidiu adiar Ponte Preta x Palmeiras, que seria a ?partida da TV?, às 21h. O jogo deve acontecer hoje, no estádio Moisés Lucarelli, às 20h30.

Por outro, os advogados da FPF entraram com um pedido de reconsideração no Superior Tribunal de Justiça, que anteontem dera sentença favorável à Globo.

Ontem, o STJ voltou a ser presidido pelo ministro Nilson Naves. Quem estava despachando em seu lugar no período em que a emissora carioca obteve vantagem no processo era o vice-presidente, ministro Edson Vidigal.

O adiamento, justificado em fax pelas ?fortes chuvas que assolam Campinas?, impediu a Record, que firmou parceria com a Globo, de exibir a partida. E deu tempo ao SBT, por meio da própria FPF, para tentar recuperar os direitos no STJ, o que impediria a Record de mostrar hoje o confronto.

O parecer judicial, por sinal, não teve força ontem. Como fez a Globo no sábado passado, ao exibir o jogo de abertura do Paulista (Santo André 2 x 2 Santos) sem autorização, o SBT transmitiu Corinthians 1 x 1 Lusa, no Pacaembu, que só passaria na TV fechada.

A justificativa do adiamento do jogo do Palmeiras se mostrou, na realidade, um pretexto: o campo de jogo estava bem drenado e não apresentava poças -não houve vistoria do local pelo árbitro.

O Cepagri (Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura), da Unicamp, registrou, ontem, das 8h às 18h, uma chuva de 15,4 mm na cidade. A Defesa Civil Regional, em Campinas, considera estado de atenção (o menor de todos em gravidade) quando o índice acumulado de chuvas chega a 80 mm.

Nos últimos três dias, o Cepagri registrou 36 mm. Ou seja, a FPF superdimensionou as chuvas. No horário em que a federação informou os clubes sobre o adiamento já não chovia mais na cidade.

Além disso, a Defesa Civil não registrou, ontem, nenhum problema nos acessos que levam ao estádio Moisés Lucarelli.

A diretoria do Palmeiras recebeu um fax da FPF em sua concentração campineira por volta das 18h e disse que a decisão prejudicou a equipe. ?Vamos procurar algum lugar para treinar. O time não pode ficar 48 horas parado?, afirmou Sebastião Lapola, diretor de futebol do clube.

O clube acabou realizando, às pressas, um treino improvisado no CT do ex-jogador Careca.

O vice-presidente da Ponte Preta, Marco Eberlim, confirmou que nenhum membro da FPF apareceu no estádio. ?Só temos de acatar a decisão. Mas uma coisa é certa: o gramado do Moisés é um dos melhores dos últimos tempos.?

Normalmente, os adiamentos por chuva são determinados pelo árbitro antes do início da partida, em caso de total alagamento do gramado ou dos vestiários. Paulo César Oliveira, juiz designado para o jogo, não foi visto ontem no estádio da equipe do interior.

Eberlim também lamentou o prejuízo que o clube deve ter com o adiamento. ?Teremos um dia a mais de concentração, além de armar a estrutura do jogo novamente. Acho que vamos levar uns R$ 20 mil de prejuízo.?”

“Briga de emissoras adia Ponte e Palmeiras”, copyright O Estado de S.Paulo, 30/1/03

“A guerra das TVs prejudicou, mais uma vez, o andamento do Campeonato Paulista e acabou provocando o adiamento do jogo entre Ponte Preta e Palmeiras, em Campinas, que seria realizada na noite de ontem. A Federação Paulista de Futebol (FPF) anunciou oficialmente, por volta das 17h40, que o jogo havia sido adiado para hoje, às 20h30, por causa das ?fortes chuvas?. Mas, de acordo com pessoas ligadas à entidade e às TVs, essa foi apenas uma desculpa. Na realidade, a federação e os clubes não queriam que a Globo transmitisse o confronto. A emissora carioca garantiu, na noite de terça-feira, o direito de exibir a competição com exclusividade, após decisão do presidente interino do Superior Tribunal de Justiça, Edson Vidigal. Ele cassou a liminar que havia sido concedida pela Justiça de São Paulo ao SBT.

Com o adiamento da partida, o SBT teria tempo para tentar nova empreitada na Justiçccedil;a – ontem, por sinal, os advogados da FPF entraram com um pedido de reconsideração no STJ. Ou, na pior das hipóteses, a decisão prejudicaria os planos da Globo, que já havia liberado a transmissão para a Record. Como o jogo estava marcado para as 21 horas, mesmo horário da novela, a TV de Roberto Marinho abriu mão de exibir Ponte x Palmeiras, que ficaria com a Record. Ontem à tarde, as equipes de Record e SBT brigavam para ligar seus equipamentos no Estádio Moisés Lucarelli, embora a emissora de Sílvio Santos, na ocasião, não tivesse os direitos de transmissão.

Dirigentes de Palmeiras e Ponte estranharam a decisão, pois, no início da noite, o gramado estava em boas condições. ?Este é o melhor momento do gramado, nos 7 anos em que estou na Ponte?, disse Marco Eberlim, vice-presidente da Ponte. Marco Polo del Nero, vice da FPF, não atendeu ao Estado para explicar o ocorrido. (Colaborou Giuliano Villa Nova)”

“O que está em jogo na guerra das TVs”, copyright O Estado de S.Paulo, 30/1/03

“?Quando todos acham que o fundo do poço chegou, cava-se ainda mais.? O pensamento, já bem conhecido, reflete com fidelidade a bagunça que marca os bastidores do futebol brasileiro nos últimos – e muitos – anos. O mais recente exemplo é a briga que a Rede Globo e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) protagonizam na Justiça pelo direito de transmissão do Campeonato Paulista. Mas se engana quem pensa que a situação está próxima de uma solução. Com a proximidade do Campeonato Brasileiro, que começa em abril, o imbróglio, ao que tudo indica, está apenas no começo.

E explicações para justificar tal linha de raciocínio não faltam. A principal delas, defendida por alguns dirigentes dos mais tradicionais clubes do País, atesta que a Globo perdeu o passo na negociação a respeito do Brasileiro. Em outras palavras, demorou para definir o contrato para a transmissão da atual temporada e agora se vê diante da possibilidade, até pouco tempo atrás impensável, de perdê-la. ?A negociação vem se arrastando desde a metade do Brasileiro do ano passado?, conta uma pessoa que participa das conversas, mas não quer ser identificada. ?Agora, os clubes não estão com pressa para concluir o acordo, já que o dinheiro da TV deixou de ser imprescindível.?

Deixou de ser imprescindível? Como explicar isso se até há pouco tempo implorava-se pelas cotas? Simples! Hoje, os clubes estão divididos em dois grupos distintos. O primeiro, que conta com a maioria, é formado por aqueles que têm dívidas gigantescas, quase impagáveis, representados, entre outros, pelos ?grandes? do Rio: Flamengo, Vasco e Botafogo. Do outro lado estão as agremiações que, com esforço, conseguiram reduzir seus gastos com o futebol e adaptá-los à realidade financeira, caso de Corinthians, São Paulo e Cruzeiro. ?De um lado estão aqueles que devem tanto que esse dinheiro, embora muito bem-vindo, não é solução para o problema, tamanho o rombo dos cofres. Já os que conseguiram se ajustar são capazes de se manter mesmo sem esse dinheiro. Então, para que pressa em definir a negociação? Vamos aguardar a melhor oferta.?

Faca e o queijo – Sem pressa, os dirigentes apostam no desespero da emissora carioca. Além da concorrência paulista – a rede de Sílvio Santos já ofereceu R$ 200 milhões, diante de R$ 140 milhões da concorrente -, a Globo está em uma verdadeira saia-justa, pois já vendeu parte de suas cotas de patrocínio do Brasileiro. O que dizer aos anunciantes se perder os direitos de transmissão?

Contra o SBT pesa a instabilidade de seu proprietário. ?Tem sempre o risco de o Silvio Santos se cansar de tudo isso e resolver trocar o futebol pelo Show de Calouros!?, observa um dirigente.

Nem o esforço para ser diplomático conseguiu fazer o presidente do Clube do 13, Fábio Koff, a esconder a satisfação pela ?batalha? entre as TVs. ?Por um lado é ruim, porque abala a credibilidade do produto futebol diante dos potenciais investidores. Essas pessoas precisam ter confiança naquilo em que depositam seu dinheiro?, afirma o cartola. ?Por outro, a concorrência é sempre bem-vinda. Vamos torcer para que tudo seja resolvido o mais rapidamente possível.?”