Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Controle estatal da mídia criticado em congresso

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, esquivou-se das críticas sobre a (falta de) liberdade de imprensa no país durante o Congresso Mundial de Jornais, realizado no começo do mês em Moscou. Mais de 1.700 participantes vindos de 110 países, convidados por Gavin O’Reilly, presidente da Associação Mundial de Jornais, pediram pessoalmente a Putin para ‘tomar novas medidas vitais para ajudar a Rússia a desenvolver a forte imprensa independente que o país merece’. Dois jovens – aparentemente membros do radical Partido Nacional Bolchevique – conseguiram se aproximar do presidente quando ele chegava ao Palácio do Kremlin e o acusaram de ser um ‘carrasco da liberdade’. Os dois foram retirados imediatamente por seguranças.

Em discurso aos presentes, Putin afirmou que a Rússia não teria feito a grande transição da União Soviética até a situação atual se não fosse devido à imprensa. ‘Sem uma imprensa livre, as grandes transformações dos anos 90 não teriam sido possíveis, e hoje eu gostaria de assinalar mais uma vez o papel especial e insubstituível da palavra escrita na criação de uma nova Rússia’, disse ele. O presidente ainda acrescentou que muitos no mundo ainda não reconheceram a ‘grandiosidade’ das mudanças desde o colapso soviético e agradeceu aos que estavam no Congresso por não ‘desanimarem’ com os relatórios sobre a falta de liberdade na mídia russa.

Entre acusações e defesas

Putin vem sendo criticado mundialmente por tentar controlar a mídia desde que assumiu o poder, há seis anos. As três principais redes de televisão são controladas pelo Estado e não criticam o presidente – situação considerada pelos críticos como reminiscência da era soviética. Além disto, muitos jornais e revistas ainda são dependentes de autoridades regionais ou locais. O’Reilly informou a Putin que muitos membros da Associação Mundial de Jornais não concordaram com a escolha da Rússia para sediar o Congresso, pois vêem o país como ‘relutante em ceder o controle e a influência sobre a mídia’. ‘Embora o governo tenha tomado alguns passos na esfera de impostos para facilitar o funcionamento de muitos jornais, estas medidas devem ser acompanhadas de uma melhoria dramática no ambiente político onde a imprensa opera’, disse O’Reilly. ‘O governo encoraja a autocensura e o domínio da mídia por oligarquias foi substituído pelo controle estatal’.

Como era de se esperar, o presidente russo discordou das acusações, afirmando que o número de empresas de mídia com domínio estatal vem diminuindo. O próprio fato de discutir problemas de liberdade de imprensa foi citado por Putin como uma evolução. ‘Isto era inconcebível há 15 anos. Mas, é verdade, não conseguimos nos livrar dos bolcheviques’, disse. Putin destacou que o país possui 53 mil publicações, e que seria impossível para o governo – mesmo se quisesse – controlar todas elas. No entanto, segundo Igor Yakovenko, presidente do Sindicato Russo dos Jornalistas, ‘grande parte das publicações a que o presidente se referiu é de entretenimento e não necessita de controle estatal’. Informações de Judith Ingram [Associated Press, 5/6/06] e de Oksana Yablokova [The Moscow Times, 7/6/06].