FÓRUM SOCIAL NA MÍDIA
“Outro tom”, copyright O Estado de S. Paulo, 8/02/03
“No ano passado, o próprio ombudsman da Folha de S. Paulo estranhou o tom da cobertura que o jornal tinha feito do Fórum Social Mundial de Porto Alegre. O pouco caso da Folha chamou a atenção por ser o mais surpreendente, mas o restante da grande imprensa brasileira tratou os dois primeiros fóruns da mesma maneira, como uma espécie de circo dos bons sentimentos, politicamente retrógrado e algo ridículo. Em Davos estava a gente grande, em Porto Alegre as crianças, divertidas e inconseqüentes. Em Davos o cérebro, em Porto Alegre o coração, e o carnaval. Este ano o tom da cobertura mudou. Um pouco pela coincidência com a posse do Lula, um pouco pela evidência, reconhecida até em Davos, de que um outro mundo, mais do que possível, é urgente, e muito pelo reconhecimento tardio de que Porto Alegre dá boa matéria jornalística a quem consegue enxergar o Fórum sem prevenções, e além das maluquices. Todos os fóruns tiveram gente importante dizendo coisas importantes sobre as questões que são, afinal, as mais sérias e menos infantis das nossas vidas, como a distribuição de água e alimento, sem falar de justiça, no único planeta que temos. Até reacionários babões e empresários preocupados só com negócios, vencida a cegueira ideológica, veriam a relevância de discutir que vida econômica é possível na periferia da hegemonia americana, novas idéias para a democratização da administração pública, etc. E em que outro lugar do mundo, em qualquer época, houve algo parecido com a união de judeus e palestinos no ato contra o suicídio mútuo e pela paz que foi o clímax emocional do Fórum? As crianças deram um bom exemplo de idealismo prático. No confronto Porto Alegre/Davos, o coração tem sido mais racional, em termos da nossa sobrevivência como espécie, do que o cérebro. E, além de tudo, há o carnaval.
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Amostra do lado conseqüente do Fórum é a entrevista com Lori Wallach, da ongue americana Public Citizen, feita em Porto Alegre e publicada pelo Estado de S. Paulo. Se você não leu, afaste o papagaio e recupere do fundo da gaiola o caderno de economia do Estadão do último domingo para saber o que nos espera se aceitarmos a Alca no prazo e na forma como está sendo proposta pelos Estados Unidos. Lori Wallach é formada em direito comercial por Harvard e convive com lobistas, congressistas e governo em Washington. Dá uma aula sobre o que o Nafta, Acordo de Livre Comércio da América do Norte, realmente significou para o México, e o que o mesmo modelo estendido para as outras Américas pode significar para o Brasil. Sua entrevista talvez seja o documento mais importante produzido por este último Fórum. O Estadão reconheceu sua importância mas a publicou na página 4. É de se esperar que haja gente em Brasília lendo além da página 3 dos cadernos de economia.”
IMPRENSA NEGRA
“?Imprensa Negra? é reeditado”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/02/03
“O Sindicato dos Jornalistas e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp) reeditaram o estudo ?Imprensa Negra?, do jornalista e sociólogo Clóvis Moura. A primeira edição foi publicada em 1984 pela Imesp. Moura faz um estudo crítico da imprensa negra de São Paulo.
?Aqui a imprensa negra teve peso maior do que em outras cidades?, diz Flávio Carrança, coordenador da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. ?A comunidade negra começou a publicar seguindo o exemplo de outros núcleos de imigrantes?.
Um artigo de Oswaldo Camargo conta como nasceu a primeira edição. ?Imprensa Negra? analisa e reproduz páginas e citações de jornais como ?A Rua?, ?Elite?, ?A Liberdade?, ?O Clarim da Alvorada?, ?União?, ?A Raça? e ?Quilombo?, entre outros. Examina também veículos contemporâneos, como ?Raça?, Raízes? e ?Negro?. O estudo de Clóvis Moura tem legendas de Miriam N. Ferrara.
?A importância do conjunto dessa obra é significativa para o resgate da auto-estima da comunidade afro-descendente. Esta é uma das ações que a comissão está desenvolvendo para contribuir com a análise da importância histórica dos negros na cultura brasileira?, diz Paulo Vieira Lima, um dos integrantes da comissão do Sindicato dos Jornalistas.
A reedição será lançada no primeiro semestre, em data que ainda não está definida. Os 14 mil exemplares não serão vendidos. O contrato prevê a doação do livro para bibliotecas das escolas de comunicação e para bibliotecas públicas. A comissão está buscando patrocínio para bancar a distribuição. ?Estamos resgatando a memória da imprensa negra brasileira. Por causa da escassez de recursos e de incentivos, o Brasil continua fraco em memória cultural. Temos jornalistas negros consagrados como José do Patrocínio, entre outros, que ficam no anonimato por falta de instrumentos como esta reedição?, diz Ronaldo Junqueira, outro integrante da comissão, formada também por Chico Soares, Oswaldo Camargo, Oswaldo Faustino, Maurício Pestana, Benedito Egydio dos Santos e vários outros jornalistas do estado de São Paulo.
?É fundamental que a obra esteja disponível para os setores formadores de opinião e sobretudo para a imprensa. Alguns setores insistem em ignorar que o jornalismo deste país nasceu da criatividade e do talento de jornalistas negros?, diz Vieira Lima.”