PALAVRAS NA TV
“Tevê por escrito”, copyright Veja, 12/02/03
“Nem sempre uma imagem vale por 1.000 palavras. Às vezes não vale sequer meia dúzia delas – sobretudo quando se trata de capturar o telespectador desatento. Prova disso é o uso cada vez mais freqüente, em programas jornalísticos ou de auditório, de frases chamativas na parte inferior da tela. São cerca de vinte as atrações, em várias emissoras, que hoje lançam mão desse recurso para tentar incrementar seu ibope. ?A chamada revela o tema que está sendo abordado. Isso pode segurar a atenção do espectador, ainda que a imagem na TV não seja espetacular ou que os personagens não sejam conhecidos?, diz o diretor de programação da Bandeirantes, Rogério Gallo.
As frases que aparecem na televisão saem de um aparelho chamado gerador de caracteres, ou GC. Por muitos anos a maior utilidade da engenhoca foi criar legendas com o nome de um entrevistado. No começo dos anos 90, o canal americano de notícias CNN começou a utilizá-lo para fazer manchetes que apareciam numa faixa sobreposta à imagem. O truque se disseminou. O pioneiro no Brasil foi o policial Aqui Agora, do SBT. ?A gente se inspirava nas manchetes do jornal Notícias Populares, que eram bem escandalosas?, diz um editor do extinto programa. Na mesma emissora, Gugu Liberato passou a empregar o GC em seu Domingo Legal. Numa fase em que esse programa batia continuamente o Domingão do Faustão, seu principal concorrente, a Globo rendeu-se ao recurso. Mas logo o abandonou, por achar que as frases sujavam a imagem. A emissora é, hoje, a única que nunca usa o GC.
A maior usuária do gerador de caracteres é a Rede TV!. Ele está em toda parte, dos programas de fofocas, como o TV Fama, aos programas de auditório, como o Superpop. Já é possível perceber palavras recorrentes em certas atrações. No péssimo Canal Aberto, de João Kleber, ?traição? não sai da tela. ?Queremos transformar o GC numa marca registrada nossa?, diz Marcelo de Carvalho, um dos donos da emissora. Vai ser preciso providenciar cursinho de português para os operadores do aparelho. Alguns cometem erros grosseiros. Na quarta-feira passada, foram necessárias três tentativas para que uma frase sobre um casal que tentou matar os filhos saísse com a concordância certa no programa Repórter Cidadão. ?A culpa é do apresentador Marcelo Rezende, que grita com todo mundo no estúdio?, diz um funcionário estressado, tentando justificar a mancada.”
INTERNET & JUVENTUDE
“Os jovens, entre a internet e os jornais”, copyright O Estado de S. Paulo / Newsday, 6/02/03
“Joshua Glas lê a maior parte das notícias na internet. O vendedor de software de 26 anos diz que não tem tempo para os veículos tradicionais, como jornais e revistas, e não tem afinidade com os veteranos que ancoram os telejornais noturnos nas grandes redes de televisão.
O colega Mike Papadopoulos, 28 anos, depende dos e-mails dos amigos e da versão eletrônica do The New York Times para se manter informado. O engenheiro de software de Flushing, Nova York, parou de comprar o Newsday há vários anos, depois que os jornais não lidos começaram a se empilhar, e acabou com a assinatura da revista Time porque diz que a maior parte dos artigos não o interessam.
Em número cada vez maior, jovens adultos estão se distanciando dos meios de comunicação de onde seus pais e avôs tiravam informação sobre sua cidade, a região e o mundo. A tendência começou 30 anos atrás, mas se intensificou desde o final dos anos 90. A perspectiva de perder uma geração inteira – aquela que tem hoje entre 18 e 34 anos – produziu uma reviravolta em empresas com dificuldade de promover mudanças – e eram orgulhosas disso. Por exemplo, alguns jornais estão rodando seções semanais repletas de críticas de filmes, de bandas de rock e programações que são encartadas nos jornais e distribuídas de graça em locais da moda.
Time, Newsweek e outras revistas aumentaram as notícias sobre a vida estudantil e temas sociais, como direito ao aborto e abstinência sexual. As emissoras de televisão e rádio estão fazendo o mesmo, algumas dando mais visibilidade aos âncoras e correspondentes mais jovens. Em âmbito nacional, 41% dos jovens adultos leram um jornal diário em 2002, virtualmente sem mudanças com relação a 2001, segundo pesquisa da Scarborough Research, em Nova York.
Exemplo – A Universidade Estadual da Pensilvânia tem o antídoto para essa tendência. Entre seus alunos, nos últimos cinco anos, ler um jornal diário tornou-se um hábito, graças a um programa que, segundo especialistas, talvez tenha descoberto o segredo de inverter décadas de declínio na circulação.
Oitenta e cinco por cento dos alunos da Penn State agora lêem um jornal de circulação local ou nacional, enquanto em 1997 a proporção era de apenas 15%. As autoridades estimam que 1,8 milhão de exemplares, ou 13.200 por dia, foram distribuídos no ano passado para mais de 20 campus.
?O programa de jornais nos alojamentos estudantis colaborou muito para levar os jovens a ler jornais diários?, disse John K. Hartman, professor de jornalismo da Central Michigan University. ?Todo diretor de jornal deveria estar buscando um programa semelhante na sua comunidade?. O Programa de Leitura de Jornais da Penn State, o maior desse tipo no país, é uma parceira entre a cidade e a universidade Os jornais são financiados por meio da uma taxa escolar – no valor de US$ 10 a US$ 15 por semestre – paga por todos os alunos. ?A leitura diária de um jornal talvez seja o fator mais importante para a pessoa ser um cidadão informado?, disse Spanier, que já foi redator e radialista quando estava na faculdade. Mais de 300 faculdades e universidades implantaram programas de diários nos alojamentos estudantis, muitas estimuladas pelo The New York Times ou pelo USA Today.”
LIVROS NA TV
“Metamorfoses”, copyright Folha de S. Paulo, 9/02/03
“APESAR das ?mulheres absolutamente liberadas sexualmente?, como diz, a escritora Letícia Wierzchowski, 30, autora do livro que deu origem à minissérie ?A Casa das Sete Mulheres?, exibida pela Globo atualmente, afirma estar feliz com a adaptação de seu livro. ?O romance é mais fiel à época, quando as mulheres não iam para a cama com qualquer homem com tanta facilidade. Mas entendo a dinâmica da TV?, diz. Embora muita gente reclame que as adaptações são diferentes dos originais, autores e adaptadores dizem que a fidelidade total é impossível. ?O compromisso do adaptador é com a eficiência?, afirma Maria Adelaide Amaral, que, ao lado de Walter Negrão, adaptou ?A Casa…?. Negrão, que transformou ?Os Miseráveis?, de Victor Hugo, em novela da Band, afirma que a liberdade é essencial. ?O livro tem 300 páginas; a novela, 6.000. Ele é uma sinopse com muitas descrições psicológicas. TV precisa de mais ação.? Ao converter ?Sinhá Moça?, de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, em novela, Benedito Ruy Barbosa mudou tudo. ?Dei ênfase à abolição da escravatura. No livro, era pano de fundo.? Quando a obra literária foi relançada, na época da novela, Benedito lembra que houve decepções. ?Teve gente que reclamou, porque queria ler a história da televisão?, diz ele, às risadas.
Fidelidade
Com vários romances adaptados, Jorge Amado ficou conhecido até numa longínqua vila portuguesa por causa de sua ?Gabriela?, levada à TV por Walter Jorge Durst. Zélia Gattai, viúva do escritor, conta que, quando a novela foi veiculada em Portugal, conheceu num vilarejo um menino, dono de um gato chamado Nacib. ?Por que esse nome??, ela quis saber. ?Porque é macho. Se fosse fêmea, seria Gabriela?, foi a explicação. ?A novela foi perfeita, não mudaram nada?, diz. Ao contrário de Amado, que não gostava de assistir às adaptações de suas obras, Zélia não perdeu nada de ?Anarquistas, Graças a Deus?, baseada em livro seu e veiculada na Globo em 1983. ?Claro que não deu para ser 100% fiel, mas adorei?. Agnaldo Silva, que adaptou três obras de Amado, diz ter sido fiel ao pensamento do autor. ?Na TV, a linguagem tem que ser repetitiva e sem sutilezas. A minissérie é um desafio, não podemos errar e consertar depois. Se o livro for antigo, a adaptação tem que ser do ponto de vista contemporâneo?, explica. Foi o que Manoel Carlos fez com sua ?Presença de Anita?, inspirada no livro de Mário Donato. ?A história se passa em 1946, e, ao trazê-la para os dias de hoje, refiz os perfis dos personagens?. Mas o público também se emociona com histórias de época. ?Éramos Seis?, romance de Maria José Dupret, adaptado pela Tupi, em 1977, e depois pelo SBT, em 94, tornou-se um marco da teledramaturgia brasileira. Autor da versão de ?O Primo Basílio?, de Eça de Queiroz, para a Globo, em 1988, Gilberto Braga diz que, com Leonor Basséres, buscou a fidelidade. ?A adaptação fiel é um exercício de humildade. Tentei imaginar como o Eça contaria aquela história na TV?, diz ele. ?Escrava Isaura?, baseada em obra de Bernardo Guimarães, Braga não vê como adaptação: ?Tomei muitas liberdades, a novela teve cem capítulos, dos quais inventei uns 90. O bom é que muitos foram estimulados a ler o romance?. Luis Fernando Veríssimo, cujas crônicas deram origem a ?Comédias da Vida Privada?, só vê benefícios na adaptação. ?É bom para a TV, que pega um texto pronto como base; para o autor, porque o livro é promovido; e para o público.? Fã de ?O Tempo e o Vento?, exibida em 1985 e inspirada na obra de seu pai, Érico Veríssimo, o escritor achou ?Incidente em Antares? (94), do mesmo autor, muito ?caricata?.
Vendas
A dramaturgia inspirada na literatura tem o mérito de movimentar as livrarias. ?A Casa das Sete Mulheres?, lançado em abril de 2002, vendeu, até a estréia da minissérie, menos de 13 mil exemplares. Após chegar à TV, ultrapassou os 30 mil em três semanas.
No mês em que a minissérie ?Agosto? (93) foi exibida pela Globo, o livro de Rubem Fonseca teve mais 30 mil exemplares vendidos. ?Memorial de Maria Moura?, da imortal Rachel de Queiroz, lançado em 1992, havia vendido 5.000 exemplares até maio de 94. Durante a minissérie, a vendagem dobrou. Hoje, está em mais de 40 mil.
Apesar das modificações -inclusive no desfecho, já que, no livro, Maria Moura é vitoriosa na batalha final, e, na TV, leva um tiro fatal-, Rachel adorou.
?Eles não mudaram a história; adaptaram, e muito bem. O texto escrito diverge frontalmente daquele destinado à imagem. Mas tudo o que divulga o trabalho de um autor deve ser recebido com agrado?, afirma.
Nem todos concordam. Lygia Fagundes Telles, também imortal, se diz frustrada com a versão de ?Ciranda de Pedra?, seu livro de 1954 que virou novela em 1981. ?Tiraram os elementos mais fortes. Uma personagem lésbica declarada acabou até se casando. Mas também ativou a vendagem. Televisão é uma divulgação extraordinária?, diz ela.
Sobre os valores pagos pela Globo, que mantém segredo, Lygia afirma: ?Pagar bem, eles não pagam?. ?Pagam super pouco?, diz Letícia Wierzchowski. ?Alegam que vamos ganhar bastante com a venda nas livrarias.?
E há os retumbantes fracassos. ?Brida?, best-seller de Paulo Coelho, foi o maior fiasco da extinta TV Manchete: apesar das chamadas com a informação -falsa- de que a adaptação televisiva também era obra de Coelho, o novelão não chegou ao fim. A emissora morreu antes.”
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“TV Globo diz que não reprisa por ?dificuldades técnicas?”, copyright Folha de S. Paulo, 9/02/03
“Mesmo quando têm boas audiências, as minisséries dificilmente são reprisadas pela TV Globo. As picantes ?Presença de Anita?, ?Dona Flor e Seus Dois Maridos? e ?Engraçadinha? estão entre as poucas exceções.
Vendidas para muitos países, como Macedônia, Rússia, Tunísia e Polônia, minisséries como ?O Primo Basílio? e ?Tenda dos Milagres? também não são reprisadas no ?Vale a Pena Ver de Novo?, à tarde, por dificuldades técnicas, segundo o diretor da Central Globo de Comunicação, Luis Erlanger.
?Não tenho idéia do tipo de adaptação que teria que ser feita para agradar ao público da tarde?, diz Erlanger.
Ele define as minisséries adaptadas da literatura como o ?biscoito fino? da programação. ?Somos a única emissora que investe em textos nacionais. É um compromisso nosso?, diz.
Mas afirma que a veiculação dessas produções depende, principalmente, de disponibilidade na grade da emissora. Por isso, o mês de janeiro, que não tem futebol, é uma boa época para elas.
?As minisséries, mais sofisticadas, proporcionalmente são mais caras que as novelas. Foi uma fortuna reproduzir o Marrocos em ?O Clone?, mas o custo se diluiu em oito meses. Já a reprodução da estância gaúcha, para 54 dias de exibição de ?A Casa…?, é mais cara.?
Embora sejam endereçadas a um público mais exigente, Erlanger lembra que nem sempre as minisséries alcançam o sucesso esperado. ?Os Maias?, por exemplo, adaptada por Maria Adelaide Amaral do original de Eça de Queiroz, e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, sofreu rejeição por ser considerada escura e lenta.
?Aquarela do Brasil? não emplacou nem tendo Edson Celulari, Thiago Lacerda e Maria Fernanda Cândido no elenco. ?As pesquisas mostraram que boa parte do público não entendia a Segunda Guerra e a questão dos nazistas no Brasil?, diz Erlanger. ?Toda dramaturgia é, quase que invariavelmente, uma história de amor. ?A Casa…?, por exemplo, é um romance que tem uma guerra como pano de fundo.?”