ANOS DE CHUMBO
Antônio Aggio Jr. (*)
O Observatório da Imprensa reproduziu, na seção Entre Aspas [em 12/12/2001], artigo de autoria de Paulo Vasconcellos que fora publicado no sítio NO. A matéria refere-se à tese "Cães de guarda: jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1988", com a qual Beatriz Kushnir obteve o titulo de "doutora em História, com louvor", pela Unicamp. Agora, está em fase de lançamento, na forma de livro, pela Bomtempo Editorial.
Para alicerçar sua tese na parte relativa ao jornal Folha da Tarde, que tive a honra de dirigir durante 15 anos, Beatriz vale-se de um argumento mentiroso e calunioso, qual seja: a FT teria publicado a notícia da morte do terrorista Joaquim Alencar de Seixas, o "Roque", em tiroteio com a polícia, um dia antes de acontecer sob tortura na Operação Bandeirante (Oban).
Coonestada por essa falácia, Beatriz afirma que "muitos atribuem à FT a legalização de mortes em tortura". E, citando-me nominalmente, desenvolve uma série de ilações difamatórias e injuriosas contra todos os jornalistas ? dezenas, alguns já falecidos ? que nunca tiveram seu posicionamento ideológico pessoal, inclusive de esquerda, questionado na redação ou fora dela. Com isso, conseguiu montar a tese mentirosa e sensacionalista com a qual ludibriou a Unicamp, obteve o doutorado e pretende locupletar-se comercialmente com o livro.
No Arquivo do Estado, órgão da Secretaria da Cultura do governo paulista, realizei agora a pesquisa que Beatriz me havia prometido fazer, quando a recebi em minha residência para uma entrevista de três horas, gravada em três fitas-cassete. Verifiquei que: no dia 16 de abril de 1971, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, A Gazeta, Diário Popular e Folha da Tarde noticiaram com destaque a morte do industrial Henning Albert Boilesen, presidente da Ultragaz, tido como financiador da Oban e metralhado por terroristas numa rua do Jardim Paulista.
No dia seguinte, os mesmos jornais estamparam em manchete a morte de um dos autores desse assassínio, Joaquim Alencar de Seixas, o "Roque", em tiroteio ocorrido na véspera, em plena Avenida do Cursino, no Jabaquara.
Ainda no Arquivo do Estado, reproduzi a certidão de óbito que registra o falecimento de Seixas no dia 16 de abril de 1971, com as características noticiadas pela imprensa.
Assim, se fossem verdadeiras a afirmações de Beatriz Kushnir, o algoz teria perecido antes de poder metralhar a vítima. Além disso, praticamente toda a imprensa, inclusive os principais jornais de outros estados, seria conivente com o pior tipo de homicídio, aquele resultante de tortura e que está em pé de igualdade com o terrorismo no rol dos delitos considerados pela Constituição e pela lei como crimes hediondos.
A bem da verdade, espero ver este esclarecimento publicado no Observatório de Imprensa. Quanto a Beatriz Kushnir, estou providenciando sua responsabilização perante a Justiça como autora da tese e do livro mentirosos, devido aos danos morais e materiais causados a mim e a outros companheiros de profissão.
(*) Jornalista
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