BAHIAGATE & A TARDE
Chico Bruno (*)
Em correspondência a Alberto Dines, publicada no Caderno do Leitor, o jornalista Ricardo Noblat pede meu testemunho sobre a cobertura do jornal baiano A Tarde, no que diz respeito aos grampos telefônicos ilegais realizados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia. Não me furtarei à análise.
Desde o momento em que o deputado federal Geddel Vieira Lima solicitou à Polícia Federal a abertura de procedimento policial em relação às suspeitas de que seu telefone fora grampeado ? pedido que, aliás, já havia feito a referida polícia no segundo semestre de 2002 ?, o jornal A Tarde vem dedicando ao assunto uma cobertura dentro dos padrões éticos que o bom jornalismo requer.
Tirando o equivoco de denominar o relacionamento entre o senador Antônio Carlos Peixoto de Magalhães e a advogada Adriana Barreto de "namoro" ? haja vista que o senador é um homem casado, o que tipifica o romance como uma relação extraconjugal e, neste caso, a advogada deveria estar sendo tratada como ex-amante do senador ?, o jornal tem realizado uma boa cobertura, apesar da pouca ousadia.
Aliás, foi A Tarde quem noticiou em primeira mão que, além dos grampos de telefones fixos e celulares de políticos baianos e de suas famílias, havia um grampo de particular importância: a escuta ilegal dos aparelhos telefônicos da advogada Adriana Barreto, do advogado Plácido Faria (atual marido dela), da ex-mulher do advogado e de outros parentes seus. Como toda a imprensa baiana, e até nacional, já sabia em off do relacionamento extraconjugal do senador há bastante tempo, não foi difícil para A Tarde estabelecer a conexão deste grampo com quem de direito.
No factual, tudo bem
Vale esclarecer aos leitores deste Observatório que a cobertura de A Tarde tem sido isenta, como recomendam os manuais de redação, dedicando manchetes de primeira página que diariamente ao assunto desde que o caso veio à tona. Em determinados momentos da investigação, tem conseguido em primeira mão o teor de depoimentos dos envolvidos, o que ocorreu com os do delegado Valdir Barbosa, do técnico Alan Farias e do casal Plácido Faria e Adriana Barreto.
A cobertura de A Tarde sobre a investigação do Bahiagate demonstra sua total independência em relação ao carlismo baiano, mas poderia ser ampliada, com matérias que explicassem melhor ao leitor do matutino a origem histórica do episódio, principalmente no que se refere os quase 10 anos de promiscuidade de uma relação extraconjugal. Esse ingrediente é muito importante nesta cobertura jornalística, pois tudo na vida tem um começo. Afinal, os leitores do jornal devem estar ávidos para saber como tudo começou e por que chegou a tal ponto, tanto do ponto de vista político como no particular do romance entre o senador e a advogada.
Para quem conhece os meandros do poder público baiano, isso não é uma tarefa muito difícil de ser executada. Trabalho que, para quem tem bons e premiados repórteres, como A Tarde, resultaria em importantes e esclarecedoras reportagens. Portanto, basta apenas pautar.
No que tange à cobertura factual, portanto, A Tarde vem se saindo muito bem, fazendo jus à nova dinâmica editorial e gráfica determinada por Ricardo Noblat. Ao nosso ver, falta apenas mais ousadia.
(*) Jornalista