Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mulher em revista

IMPRENSA FEMININA

Ágatha Lemos (*)

É impossível reconstruir as primeiras revistas femininas do Brasil sem citar a sua primeira versão periódica: os jornais.

A imprensa feminina surge no Brasil na segunda metade do século 19 e a primeira do século 20, sob um contexto de mutações não só político-econômicas, mas principalmente sociais que começam a alterar a posição homem-mulher.

Apesar do confinamento pessoal feminino, a mulher começa a expressar, publicamente, o que pensa e não o que a sociedade espera que ela pense. Houve vários jornais dirigidos por homens e com a participação de mulheres, dedicados aos assuntos de interesse feminino. Houve também os que foram dirigidos e produzidos apenas por mulheres, realmente.

Mas o primeiro deles a marcar a história da imprensa feminina foi O Jornal da Senhoras, fundado em 1? de janeiro 1852, no Rio de Janeiro, pela argentina Joana Paula Manso de Noronha ? alguns historiadores dizem que foi fundado pela baiana Violante Bivar. Além de moda, literatura e belas artes, o jornal tinha como objetivo, por meio da crítica, abordar a necessidade da emancipação da mulher.

Em 1862, surgia outro jornal, um periódico dominical, também no Rio de Janeiro, por Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar. Era o Belo Sexo. Sua tônica estava na orientação religiosa e no progresso social da mulher.

Em São Paulo, em 1863, Josefa Álvares de Azevedo lança o jornal A Família, dedicando-se a oferecer instruções que fizessem a mulher “prendada”. Echo das Damas, fundado por Amélia Carolina da Silva Couto, no Rio de Janeiro, que aparece cinco anos mais tarde, segue a mesma linha do A Família: iniciar a mulher nos deveres de esposa e mãe.

O Sexo Feminino, de 1875, foi mais um jornal fundado por outra mulher, Francisca Senhorinha da Motta Diniz. Este falava da educação como um todo: física, moral e intelectual.

É publicado em Nova York, 1881, o jornal A Mulher, por duas brasileiras que não puderam fazer faculdade no Brasil, visto que o estudo superior era privilégio dos homens somente. Ambas, vão estudar nos Estados Unidos, onde a mulher já tinha mais espaço.

Em 1897, a valorização da mulher é exposta através das linhas de A Mensageira, em São Paulo (1897); Revista Feminina, também em São Paulo (1914) ? o primeiro periódico feminista de circulação nacional ? e a revista A Violeta em Cuiabá (1916).

Além destas primeiras produções do século XIX, a imprensa feminina continua progredindo. Na década de 20, do século XX, a revista Única marcou época. Foi a primeira a ser dirigida por uma mulher ? Francisca Vasconcelos Bastos Cordeiros ? e a primeira a ser assinada diretora-proprietária. O magazine tratava de literatura, arte, elegância, sociologia e ainda tinha sessão de moda.

As revistas Brasil Feminino, dirigida por Ivete Ribeiro e Fon-Fon, sua concorrente, crescem neste cenário já mais ambientado à literatura voltada para o feminino. Enquanto a primeira incentivava o trabalho fora de casa, apesar de não reivindicar posições sociais, a segunda iniciava as honras às magras e demonstrava ousadia ao explorar, mesmo que sutilmente, a sensualidade em suas propagandas.

Nesta mesma época, as mulheres podiam ler e ver fotos de casamento em Vida Doméstica. Outros tópicos como cinema, rádio entre outros são discutidos da década de 50 em diante.

A revista Lady, de 1956 pauta a política, a moda, as receitas e os conselhos “emocionais”. Mas as necessidades de uma dama foram melhor elaboradas com a chegada da revista Claudia. Esta conseguia conciliar beleza, moda e culinária com política, sexo e cultura. Ela incorpora a contemporaneidade e os argumentos de tantas vozes femininas. Causa repercussão; é vastamente aceita.

Este é um raso histórico das revistas femininas. Hoje são muitas os veículos que se empenham em discorrer sobre a mulher.

O fato de ter havido a iniciativa em escrever e ler sobre seus interesses foi, sem dúvida, um avanço no crescimento e no destaque feminino, que chegam aos nossos dias com força maior. Cada revista em cada época reflete a mentalidade vigente.

As revistas de hoje têm o seu valor de informação em vários níveis, mas é preciso observar que as indagações existenciais das mulheres são mais maduras. É imprescindível o bom senso na hora de planejar uma próxima edição.

A profundidade dos sentimentos de uma mulher e o seu desejo de ter vontade própria não devem ser, simplesmente, distribuídos em testes ou esboçados em simetrias perfeitas.

Escrever sobre mulher exige lucidez. Chega de exaltações extravagantes e liberalidade saturada.

(*) Aluna do 4.? ano de Jornalismo do Centro Universitário Adventista (Unasp) e subeditora da revista Canal da Imprensa <www.canaldaimprensa.com.br>